O terrível medo de doença
Simone
Demolinari
Há uma ideia
simplista de que hipocondríaco é aquele que tem mania de tomar remédios. Mas, a
questão vai muito além. A hipocondria é um transtorno que se manifesta através
do medo ilógico de adoecer gerando uma hipervigilância em relação à saúde e
promovendo um estado de angustia constante.
Quem sofre desse mal
alimenta pensamentos catastróficos: a imaginação é dramática e há uma sensação
de morte iminente. Aos olhos dos outros, tudo isso não passa de um exagero
banal, porém, intimamente, essas pessoas degustam de um grande sofrimento.
Uma característica
comum dos hipocondríacos é acreditar que a pior hipótese é sempre a mais
provável: uma simples dor no peito ganha proporção de um infarto; uma tosse tem
indício de tumor e assim por diante. No fundo, o hipocondríaco tem mesmo é um
terrível medo da morte. Medo que vem crescendo devido aos interesses da
indústria farmacêutica e também da divulgação de tragédias pela imprensa.
Aliás, outra característica dos hipocondríacos é a identificação. Não podem ler
algo que já sentem aqueles sintomas.
E a cisma não tem
fim. Quando constatam, através de exames, que estão saudáveis, o sintoma migra
e então vem o medo de uma outra doença. De tão preocupados, abrem quadros
graves de ansiedade. Isso explica o grande número de hipocondríacos com crise
de pânico.
Recentemente soube da história de Sergio. Ele e sua esposa viajaram para Europa
para passar 12 dias. Já no avião Sérgio começou a se sentir mal.
Chegou ao hotel e
seu pensamento não lhe dava sossego, tinha a nítida sensação de que algo pior
iria acontecer. Conseguiu segurar seu desconforto por dois dias, porém no
terceiro sentiu o que ele chamou de “aperto no peito” e insistiu para ser
levado ao hospital. Sua esposa, já acostumada com os episódios de doença
imaginária, tentou demovê-lo dessa ideia, mas não teve jeito, foram parar num
hospital da cidade local.
Eles esperavam por
uma consulta de praxe que tomaria no máximo algumas horas da viagem, porém
foram surpreendidos com um pedido de internação. Sérgio foi submetido a vários
exames com indicação de permanência no hospital até que os resultados fossem
liberados. Todo esse processo demorou quatro dias, e como já era esperado, os
exames não acusaram nada. Sérgio estava mais saudável do que nunca. Porém, com
outros problemas para resolver: perderam o vôo para o próximo destino, arcaram
com um considerável prejuízo financeiro e um grande atrito conjugal.
Episódios como este,
de maior ou menor proporção, são recorrentes na vida de quem sofre com isso. A
melhor forma de lidar com o problema é enfrentando a situação. Enfrentar
significa: não alimentar o pensamento de medo; parar de supervalorizar os
sintomas; resistir à tentação de ir ao hospital; medir menos a pressão; contar
menos o pulso e o mais importante, cuidar bem da saúde.
Isso quer dizer:
fazer exercício físico, se alimentar corretamente, dormir bem, parar de fumar e
beber moderadamente. O que geralmente ocorre é que o hipocondríaco não se cuida
bem e transfere essa responsabilidade para o médico. Isso só piora o problema.