Você está se apegando em algo que precisa deixar ir?
Simone
Demolinari
“Um mestre da
sabedoria, juntamente com seu discípulo, passeava por uma estrada deserta
quando avistou ao longe um casebre. Chegando lá, ficou impressionado com a
precariedade do lugar onde vivia um casal e três filhos. Aproximou-se e
perguntou:
– Neste lugar não há
vizinhos, nem comércio; como o senhor e a sua família sobrevivem aqui?
O senhor respondeu:
– Nós temos uma
vaca. Uma vaca que significa tudo para nós. Ela nos fornece o sustento
necessário: são vários litros de leite diariamente que vendemos ou trocamos na
vizinha por outros alimentos. A outra parte produzimos queijo, coalhada para o
nosso consumo. Não conseguiríamos viver se não fosse essa vaca. Ela é o que
temos de mais importante!
O sábio ouviu
atentamente e em seguida ordenou ao seu discípulo que atirasse a vaca no
penhasco.
O jovem, apesar de
assustado, cumpriu prontamente a ordem: empurrou a vaca e a viu morrer. Essa
cena porém, nunca saiu da sua memória. Passado um ano, o rapaz resolveu voltar
àquele lugar para se desculpar com a família. Quando se aproximava avistou um
sítio muito bonito, uma casa grande, com árvores floridas, ambiente
descontraído, crianças brincando no jardim e um curral cheio de vacas.
Logo, o rapaz
percebeu que ali morava aquela mesma família. Espantado, perguntou:
– Como o senhor
conseguiu melhorar tanto sua vida?
O senhor, respondeu:
– Veja bem meu
jovem, nós tínhamos uma vaca que acreditávamos ser imprescindível em nossa
vida. Morríamos de medo de perdê-la, com isso, vivíamos todos em função dela.
Mas, quando ela morreu, tivemos que perder o medo e andar: rompemos nossa
limitação, comodismo e saímos da zona de conforto. A vaca, que tanto amávamos,
era o que nos impedia de progredir. Acabamos desenvolvendo habilidades, que nem
sabíamos que tínhamos e hoje nossa vida é muito melhor”.
Essa história traz
uma simbologia de muita reflexão. Muitas vezes ficamos estagnados na zona de
conforto por medo da mudança. Embora nem sempre isso seja consciente, acabamos
por sabotar nossa felicidade nos convencendo de algumas mentiras, tais como:
– “As coisas não
estão tão ruins assim”: como se precisasse ficar insustentável para mudar. De
forma inconsciente buscamos comparações com pessoas que estão em condições
piores que a nossa e assim nos convencemos que estamos bem, mesmo estando mal.
– “Não estou num bom
momento para mudança”: um clássico autoengano. O “momento perfeito” é criado
quando desejamos realmente algo, porém, quando nos sabotamos, nunca encontramos
a hora certa. Há um provérbio chinês que diz: “O melhor momento para plantar
uma árvore foi há 20 anos. O segundo melhor é agora”.
– “Só estou
esperando “isso” para tomar uma decisão”: vincular a mudança a algo externo
(“quando eu emagrecer”, “quando eu ganhar mais”) é uma forma de procrastinar.
As verdadeiras motivações são sempre internas e parcialmente desvinculadas dos
acontecimentos externos.
– “Como vou viver
sem isso?”: há grande chance de ser da mesma forma que a família viveu sem a
vaca. Muito melhor. Porém, só os que atiram a vaca no penhasco saberão.