Chefia para
poucas: só 38% das mulheres ocupam cargos de liderança
Lucas Borges
Diretora da MRV
afirma que o preparo das mulheres é fator essencial para a ascensão nas
empresas
Quase 50 anos após a
“Queima dos Sutiãs”, movimento de protesto de ativistas americanas em favor da
igualdade de gêneros, as mulheres ainda lutam para conseguir espaço em setores
da sociedade culturalmente dominado pelos homens.
De acordo com o
último levantamento do IBGE, que retrata dados de 2016, apenas 37,8% das
mulheres ocupam cargos de chefia no Brasil, contra 39% registrado um ano antes
e 39,5% cinco anos atrás. Enquanto isso, 62,2% das funções de liderança são
exercidas pelos homens.
Segundo especialistas,
no atual cenário, a crise econômica é fator preponderante para frear a ascensão
da ala feminina no mercado de trabalho.
“Existem alguns
grupos que, historicamente, sofrem mais em situações de crise, como as
mulheres, os jovens e a população de instrução mais baixa. Nesse cenário, o
desemprego entre elas é maior que entre homens”, diz a analista do Sebrae
Minas, Bárbara Alves.
A ingrata missão de
conciliar vida profissional e afazeres domésticos é outra razão apontada pelos
especialistas como redutor do espaço das mulheres no mercado de trabalho.
Primeira mulher a
assumir a presidência do Sindicato da Indústria Moveleira de Minas e
proprietária da Artdeco Móveis, Iara Abade conta que abdicou de ter filhos para
ter chances maiores de obter êxito profissional.
“Amigas minhas que
tinham potencial tão grande ou até maior do que o meu também tiveram que fazer
uma escolha e não alcançaram o objetivo que alcancei. Se o caminho fosse mais
fácil de ser trilhado, valeria a pena. Mas como o caminho não é fácil, fiz
opção por não tê-los”, diz.
A empresária começou
a carreira na área do comércio e conseguiu ser dona do próprio negócio e
influenciar um setor extremamente masculino. Além da questão do gênero, a
idade, muitas vezes faz com que a mulher sofra certo tipo de discriminação,
especialmente em segmentos em que a participação delas ainda é pequena.
Presidente da
Indústria de Calçados de Uberaba e primeira mulher eleita para a presidência
regional da Fiemg na cidade, Elisa Araújo diz que sofre com o preconceito em
assuntos relacionados à política. “Sofro com um olhar diferenciado,
principalmente de homens mais velhos, que não acreditam que uma mulher, ainda
mais sendo nova, pode resolver os problemas”, revela.
Para a empresária de
35 anos, o problema vai muito além da competência. “O maior desafio é ser
respeitada. Os homens, principalmente os mais antigos, enxergam a mulher como
fator sexual, não como profissional de eficiência”, diz.
Com poucas oportunidades, saída é abrir o próprio negócio
As dificuldades para
se inserir ou crescer no mercado de trabalho fazem com que as mulheres busquem
abrir o próprio negócio para conseguir o sustento da família.
Segundo levantamento
do Sebrae Minas, o número de mulheres microempreendedoras individuais (MEI)
aumentou de 1,3 milhão, em 2013, para 3 milhões, em 2018, crescimento de 124%.
Em Minas, atualmente estão formalizadas 347 mil microempreendedoras, o que
representa 47% do total dos MEIs.
A analista do Sebrae
Minas Bárbara Alves, confirma que o crescimento do empreendedorismo entre as
mulheres se dá pela dificuldade em conseguir se afirmar no mercado.
“A mulher não
encontra oportunidades no mercado formal e tenta empreender. Ela enxerga no
empreendedorismo uma forma de obter renda e conciliar as demais atividades,
tanto familiares quanto domésticas”, diz.
Mesmo diante de vários desafios enfrentados durante a trajetória profissional,
muitas mulheres venceram e hoje ocupam cargos de destaque em importantes
empresas.
É o caso de Junia
Galvão, diretora executiva da construtora MRV, que afirma que a qualificação
das mulheres é fator essencial para a ascensão nas empresas. “As mulheres estão
estudando mais que os homens. Esse crescimento é natural, já as mulheres estão
se aperfeiçoando. Vamos ocupar mais espaço”, diz.
Presidente Câmara do
Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas
Gerais (CMI/Secovi-MG), a empresária Cássia Ximenes entende que a qualificação
das mulheres faz com que a discussão sobre o gênero fique em segundo plano.
“O mercado imobiliário
chegou a um amadurecimento em que não há a necessidade de se preocupar com o
gênero, mas sim com o profissionalismo e o grau de conhecimento”, afirma.