Aqui e agora, o desafio
Manoel Hygino
Aconteceu o que se
esperava. A intervenção militar no Estado do Rio de Janeiro se tornara
imperativa pelas próprias razões que determinaram a medida presidencial
extrema, embora não a última. Apesar do interventor general Braga Neto não
aceitar a ideia de tanta gravidade, considerando a existência de “muita mídia”
em torno do assunto, o Brasil inteiro admite e reconhece a situação a que
chegou aquele Estado, como julgou o governo federal.
O fato, aliás, é
percebido pelo comandante do Exército, general Villas Boas, ao advertir que os
problemas enfrentados pelo Estado vão além da segurança pública e exigem ações
mais efetivas. “Os desafios enfrentados pelo Rio de Janeiro ultrapassam o
escopo de segurança pública, alcançando aspectos financeiros, psicossociais, de
gestão e comportamentais”; impõem a “necessidade de uma honesta e efetiva ação
integrada dos poderes federais, estaduais e municipais”.
As primeiras
providências são para atender ao ritual legal para fazer funcionar o que se
pretende, começando pela aprovação da Câmara e do Senado. O planejamento se
iniciou imediatamente, para que se tenha realmente sucesso no que se propõe
empreender em área tão complexa e abrangente até final de dezembro.
A situação a que
chegou o Estado do Rio não é a única e primeira, sequer restrita ao território
em que se encontra encravada a imagem da cidade considerada cartão-postal
nacional. O que se fará ali poderá ser extensivo a todas as regiões do país,
estigmatizado por crime e corrupção, propagados a todas as unidades da
Federação. Não se trata de um desafio localizado em suas causas e efeitos, pois
dolorosamente sentidos em todos os rincões.
Vive a nação uma
fase dificílima e não há como negar. A medida drástica adotada com relação ao
estado litorâneo atinge, em última análise, toda a nação, exposta a
organizações criminosas de alto poder e inteiramente contrárias aos interesses
nacionais. Combatê-las em todas suas fortalezas e seus escalões é uma
imposição, nesta hora já abalada por outras situações não menos embaraçosas à
vida nacional e ao exercício pleno da democracia.
Dispenso-me de
enunciá-las. A opinião pública, o cidadão, sabem.
Mutatis mutandis,
evoco aqui o que se disse, em 1870, quando se publicou o manifesto do Partido
Republicano, em 3 de dezembro: “A imprevidência, as contradições, os erros das
usurpações governamentais, influindo sobre os negócios internos e externos da
nossa pátria, vão criando esta situação deplorável, em que as inteligências e
os caracteres políticos parecem fatalmente obliterados por um funesto eclipse”.
Poderia soar
estranho, mas se permitiria repetir, aqui e agora, que a sociedade brasileira,
após tão extenso tempo de existência como coletividade nacional independente,
encontra-se, em face do problema de sua organização e funcionamento políticos,
como se surgisse do caos colonial.
É triste a
constatação, mas pelo menos aponta para a necessidade de todos os brasileiros
se incorporarem a uma obra de regeneração nacional, em clima tão plúmbeo e
confuso.



