Violência e desigualdade
Frei Betto
Pelo menos quatro
pessoas morrem assassinadas na América Latina a cada 15 minutos, de acordo com
informe recente do Banco Mundial. Embora haja redução da pobreza e das
desigualdades nos últimos anos, isso não influi na diminuição da criminalidade.
Dos dez países mais
violentos do mundo, oito são latino-americanos, assim como 42 das 50 cidades
mais afetadas pela criminalidade. A taxa de homicídios no nosso Continente é de
23,9 mortos a cada 100 mil habitantes, a mais alta do mundo. Entre os jovens de
15 a 24 anos, o índice sobe para 92 em cada 100 mil habitantes, mais de quatro
vezes a taxa média. No Brasil, há 47 mil homicídios por ano!
Segundo o Banco
Mundial, isso se deve ao aumento do tráfico de drogas e do crime organizado; de
falhas do sistema judiciário e da impunidade; e da falta de melhor educação e
oportunidades de trabalho para os jovens de famílias de baixa renda.
Para enfrentar esse
quadro dramático, o banco recomenda a construção de “um tecido social mais
inclusivo com maior igualdade de oportunidades”; a implementação de políticas
preventivas, com redução dos índices de evasão escolar; e a ampliação da oferta
de empregos de qualidade.
O Banco Mundial não
se pergunta, em seu relatório, as causas dessa situação. Pesam, evidentemente,
o pouco investimento do poder público em educação de qualidade, a corrupção dos
políticos e a despolitização da sociedade. Na lógica neoliberal, toda pessoa de
“sucesso na vida” é resultado de seu próprio esforço. Ora, isso equivale a
esperar que mil alpinistas alcancem, na mesma semana, o pico do Monte Everest,
o mais alto do mundo.
É o sistema
capitalista, com a sua apropriação privada da riqueza produzida pela sociedade,
o grande responsável pela exclusão e desigualdades sociais. Para que uma pessoa
atinja o topo da escola social, outros milhares são alijados das oportunidades.
Dos 15 países mais
desiguais do mundo, 10 são latino-americanos, nesta ordem: Bolívia, Haiti,
Brasil, Equador, Honduras, Panamá, Paraguai, Chile, Colômbia e Guatemala. Entre
os países do G20, o Brasil é o mais desigual. Basta dizer que os 10% mais ricos
da população ficam com 60%.
Os lucros das
empresas, que representam 6% da renda nacional, cresceram 231% entre 2000 e
2015. A JBS que o diga! E isso graças à generosidade do Estado que, via BNDES,
canalizou muitos recursos para a iniciativa privada cobrando juros irrisórios.
Em outras palavras, o pobre povo brasileiro financiou a multiplicação da
fortuna dos ricos
Enquanto o Brasil
não passar por uma profunda reforma tributária a desigualdade social só tende a
aumentar. O economista Rodolfo Hoffmann calcula, baseado em dados do Pnad 2015,
que a disparidade de renda no Brasil cairia 23% se todos pagassem Imposto de Renda
de acordo com as alíquotas em vigor, sem deduções, e os recursos arrecadados
fossem canalizados para beneficiar os segmentos mais pobres da população. A
queda seria de 27% se fosse criada uma alíquota de 40% de Imposto de Renda para
quem ganha mais de R$ 7 mil mensais. E ainda seria maior essa redução se o
imposto fosse progressivo, taxando a renda e o patrimônio dos 10% mais ricos.
Mas cadê governo
para ousar governar democraticamente, ou seja, a favor da maioria do povo
brasileiro?



