Venezuela: o perigo perto
Manoel Hygino
O ininterrupto
noticiário dos meios de comunicação em todo o mundo leva a uma indesviável
pergunta: a Venezuela está em pé de guerra? As sucessivas manifestações, de que
informa em cores e até ao vivo a televisão, oferecem um panorama do drama que
se vive mais ao Norte.
Detentora da quinta
maior reserva petrolífera do planeta, nos últimos tempos, a Venezuela vive sob
ameaça de ruptura institucional, embora se possa afirmar que é já neste clima
que se passaram os anos mais recentes. Desde 2017, militares e grupos
paramilitares tentam conter protestos.
Apesar de tudo, a
oposição se dividiu e o governo de Nicolás Maduro, que sucedeu a Hugo Chávez,
depois de sua morte por câncer, em Cuba, persiste. Com as garantias
constitucionais interrompidas, com multidões nas ruas em protesto pelo que lhe
foi subtraído, desde a liberdade de imprensa ao papel higiênico, o presidente
procura saída: agora quer a reeleição, aos 55 anos. Pretende uma nova Carta
Magna, mas o cidadão pretende algo mais prático, viável e urgente, a começar
pela alimentação que escasseia. Pesquisas demonstram que cada homem e mulher do
país perdeu oito quilos de peso pelas dificuldades experimentadas.
Sem respaldo da
maioria dos países democráticos, com imensas dívidas acumuladas, sem apoio do
Mercosul, Caracas verdadeiramente está em um beco sem saída. O chanceler
uruguaio, Rodolfo Novoa, enfatizou que o Mercosul pressiona o governo
venezuelano a que mude os rumos, considerados não democráticos. O Palácio de
Miraflores não conta mais com apoio continental, restrito apenas a Cuba e
Guatemala, a que oferece petróleo em condições especialíssimas.
Sem apoio
legislativo, contando com um arsenal poderosíssimo comparado à Rússia, em época
de vacas gordas, e com a disposição governamental de contrapor-se às oposições
e aos reclamos ao povo, Caracas reconhece que milhares de cidadãos escapam
pelas fronteiras para sobreviver. As perspectivas são sombrias.
Nós estamos na
proximidade do fogo. O brasileiro Oliver Stuenkel, professor da Fundação
Getúlio Vargas, dá um conselho: “O Brasil precisa se preparar para a chegada de
um número cada vez maior de refugiados”, embora também tenhamos nossos
problemas.
Maduro, contudo, não
se entregou. Convocou eleições presidenciais para 30 de abril. E pode ganhar,
porque não há, antes e acima de tudo, livre campanha. Saiu à frente, o que já é
um grande trunfo, no meio de uma sociedade sacrificada e temerosa. “Não
vou falhar com vocês. Assumo a candidatura presidencial para o período
2019-2025 (...). Serei o candidato de toda a classe operária venezuelana e
continuarei sendo o presidente dos humildes”, afirmou aos trabalhadores. Alguém
acredita?
Por via de dúvida,
Maduro anuncia aumento de 40% do salário mínimo, das pensões e do salário do
funcionalismo. É o sétimo reajuste, em um ano. Trata-se de uma tentativa para
neutralizar a explosão de preços em uma economia com hiperinflação.
Também tiveram
elevação quase ao dobro os bônus de alimentação concedidos como “cestaticket”.
Somando tudo, o venezuelano vai receber pelo menos 797.550 bolívares. No câmbio
oficial, isto é em torno de R$ 787. Dá para uma família viver bem?

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