Entre a nostalgia e a ansiedade
Simone
Demolinari
Estudos apontam que
passamos 70% do nosso tempo no passado, 25% no futuro e apenas 5% no momento
presente. Isso explica o grande numero de pessoas melancólicas vivendo de
lembranças ou ansiosas preocupadas com aquilo que ainda virá.
É assustador pensar
que desperdiçamos o momento presente para vive-lo mais tarde em forma de
lembrança. E isso acontece de maneira tão natural que quase não percebemos. Um
bom exemplo disso é acreditar que antigamente as coisas eram melhores. Falas do
tipo: “na minha época as pessoas eram românticas, as músicas tinham mais
poesias, a vida era mais fácil. Não existia celular por isso as pessoas se
olhavam nos olhos, brincavam na rua pois não havia essa violência de hoje em
dia. Ah! Na minha época...”
Comparações dessa
natureza, acabam exaltando de forma exagerada o passado, que se melhor
analisado, nem era tão formidável assim. O que se tinha era mais vigor físico,
mais tolerância, mais ilusão, menos responsabilidade e menos estresse, e isso
sim, eram ótimos ingredientes para tornar o momento agradável.
Somando a isso, as
ocorrências de dez, quinze, vinte anos atrás contam com um distanciamento
emocional suficiente para que as lembranças negativas sejam minimizadas e abram
espaço para reedição de novas emoções. Isso faz com que o passado pareça melhor
do que foi.
Outro ponto a ser
considerado é que quando lembramos do que já ocorreu, sabemos o início, meio e
fim dos acontecimentos. Detemos o conhecimento da história em sua totalidade,
seja ela trágica ou cômica. Não há surpresas. O fato de não existir um
horizonte desconhecido ou um acaso inesperado, dá uma sensação de conforto. Já
o presente é cheio de imprevistos e inseguranças, o que gera um incômodo.
A nostalgia é muito
comum em pessoas deprimidas. Elas fixam o pensamento em lembranças saudosistas
julgando praticamente impossível alcançar aquele nível de felicidade novamente.
Comportamento parecido ocorre com algumas pessoas que já tiveram notoriedade
profissional e perderam o prestígio ou saíram do mercado de trabalho. A insatisfação
com a posição atual atrelada a ideia de um futuro pouco promissor, faz com que
essas pessoas lancem mão de um mecanismo de defesa que as faça fugir da
realidade. Vivem exclusivamente das lembranças glamourosas de uma vida que já
não existe mais. Com isso tornam-se monotemáticas e repetitivas referenciando o
passado. Quem ouve, já não suporta mais as mesmas histórias.
Do lado oposto temos
as pessoas que vivem no futuro. Sua vida é permeada pelo “quando”: quando meu
filho formar, quando eu casar, quando conseguir um emprego melhor. Vinculam a
felicidade para “quando” acontecer algo. Porém essa hora nunca chega pois
sempre aparecerá uma nova demanda futura adiando e boicotando o momento
presente.
Viver preso ao
passado ou preocupado com o futuro é um desperdício com o agora, o único
momento real que temos.


