sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

O FIM DO "CAMARADA" TROTSKY



Moscou assiste ao fim de Trotsky

Manoel Hygino 







Assassinado em 1940, na cidade do México, por ordem de Stalin, Trotsky aparece agora nas telas da televisão russa, como comentado por Vitor Gomes Pinto. Em oito capítulos, revive-se a história de um dos mais importantes personagens do século XX, relatada pelo Pervie Canal, o Canal 1, para todo o território. Como se deve esperar, atraindo público inédito, dada a restrição- a palavra é fraca- que se fazia até hoje à personalidade focalizada e seu trágico fim.

A série foi anunciada por imagens pela própria Pervie Kanal, como já se se avisara durante o Mipcon, projeto voltado para o mercado internacional de conteúdos audiovisuais, realizado em Cannes. O fato passou a ocupar amplos espaços na mídia mundial e Konstantin Ernst, diretor-geral da rede, com 51% das ações do governo, explicou porque: “É a primeira série dedicada a Trotsky na história da Rússia. Ao contrário de Lênin, Trotsky se parecia com um herói de rock: fuga da prisão, revolução, amor, exílio e morte”. Todo mundo, por suposto, sabe algo a respeito.

Há cerca de dois meses, comentei aqui a repito: Leon Trotsky foi um dos principais instigadores, junto com Lênin, da Revolução de Outubro de 1917, que inspirou até um poema veemente de nosso Drummond.  Fundador do Exército Vermelho, consagrou-se como um dos artífices do primeiro plano da vitória dos bolchevistas na guerra civil russa de 1918-1921. 

Estabelecido o novo governo após Kerenski, Trotsky se opôs a Stalin, expulso do governo e do partido e, em seguida, da União Soviética. Passou pela Turquia e Noruega e, por fim, se transferiu para a América Central, escondendo-se na casa do pintor Diego  Rivera, na capital mexicana.  Conseguiu escapar de um primeiro atentado ordenado sistematicamente por Moscou, mas não do segundo, em 20 de agosto de 1940, na rua Coyacán, no distrito central da cidade.

A cena do último ato já foi focalizado pelo cinema inúmeras vezes. Agora, interpretado pelo popular ator russo, Konstantin Khabenski, aparece um homem envelhecido, que conversa com um jornalista canadense. Este representa o espião espanhol Ramón Mercader, enviado especificamente ao novo mundo para eliminá-lo. À polícia, ele contou: “Fechei os olhos. Desfechei um golpe terrível na cabeça de Trotsky. O grito que ele deu, eu jamais esquecerei. “Um “ah” longo e sem-fim, um som que ainda ecoa em meu cérebro. Trotsky ainda se levantou, correu em minha direção e mordeu minha mão. Consegui empurrá-lo. Caiu, mas se levantou de novo”.

Em Moscou, Pavel Sudoplatov, dirigente da KGB, que recebera pessoalmente de Stalin a ordem para a Operação, ouviu- através de mensagem de rádio cifrada – a confirmação do sucesso da empreitada. O “camarada” Trotsky estava definitivamente fora de combate.

Há alguns anos, o jornalista Geneton Moraes Neto entrevistou-o. Sudaplatov falou com frieza impressionante. Não há lugar para arrependimentos tardios ou sentimentos “vãos numa operação planejada e perpetrada em nome do Estado”.

A real identidade do assassino só foi obtida anos depois. Suportou sessões de tortura duas vezes por dia pela polícia mexicana. Mais tarde, ganhou do Kremlin uma casa de campo próxima a Moscou e uma pensão equivalente à de um major-general. Chegou a trabalhar para o governo Fidel Castro, no Ministério do Interior cubano, até morrer, em Havana, em 1944.


APRENDENDO COM A MORTE



Aprendendo a viver sem arrependimentos

Simone Demolinari 








Em 2013 a enfermeira australiana Bronnie Ware, escreveu o livro “The Top Five Regrets of the Dying”, ou simplesmente “Antes de Partir”. No conteúdo, relatos de pacientes em fase terminal contando seus cinco maiores arrependimentos.
Na época, li o livro e escrevi sobre isso. Neste início de ano, quase cinco anos depois, reli e me senti motivada a escrever novamente sobre o tema. Vale a pena aprender a viver com quem vai morrer.
O livro é divido em cinco relatos:
1 – “Eu gostaria de ter tido coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim”.
Quando a morte acena para a vida, parece que fica mais fácil ver o quanto somos infiéis a nós mesmos. Vivemos pautados pelos julgamentos alheios, protelando a nossa felicidade como se o amanhã estivesse garantido, quando, na verdade, não está. Às vezes passamos uma vida inteira prisioneiros de supostos modelos de sucesso tentando agradar à sociedade, à família, ao cônjuge, esquecendo de considerar a nossa própria vontade.
2 – “Eu gostaria de não ter trabalhado tanto”.
O trabalho está muito ligado à necessidade de consumo e status. Trabalhar duro e sem tréguas é algo valorizado pela sociedade, não é à toa que sentimos culpa em ficar no ócio e vimos com certa estranheza aqueles que abandonam uma carreira de sucesso para levar uma vida simples. A questão se agrava quando não há prazer no trabalho executado.
3 – “Eu gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos”.
Percebemos claramente que crianças são mais verdadeiras: reclamam quando não gostam e expressam afeto quando se sentem felizes. Elas não têm medo do “ridículo” e por isso estão livres da carapaça que nós, adultos, colocamos para nos proteger.
Muitas vezes reprimimos nossas afetividade por vergonha de demonstrá-la. Desenvolvemos a capacidade de fingir e passamos a vida suprimindo o real estado de ânimo, sem coragem de expressar o que sentimos.
4 – “Eu gostaria de ter mantido mais contato com meus amigos”.
Muitas vezes, as relações com os amigos são muito mais honestas e verdadeiras do que com a família. Daí a vontade de passar mais tempo com eles.
5 – “Eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz”.
Estar saudável traz uma liberdade que quem possui parece não perceber, ou, se percebe, não tem a mesma sensibilidade dos enfermos. Desperdiçamos boa parte da vida com preocupações infundadas e estresse acima do que o nosso corpo pode suportar. Não olhamos para nós com olhar de amor.
Privilegiamos o outro em detrimento de nós. Dizemos “sim” quando na verdade queremos dizer “não”. Somos negligente com nosso bem estar emocional. Deixamos de ser felizes por medo, fraqueza ou pelo simples fato de nos acostumarmos com a dor.
Ao falar de morte, esses pacientes nos dão uma bela lição de vida!

COLUNA ESPLANADA DO DIA 19/01/2018



Cadeia de luxo

Coluna Esplanada – Leandro Mazzini  











O juiz federal Ricardo Leite, da 10ª vara, em Brasília, encaminhou ofício à Polícia Federal e ao Fórum de Vargem Grande do Sul (SP) com pedido de informações sobre a prisão domiciliar do doleiro Lúcio Funaro – operador financeiro de esquemas de corrupção do PMDB. No despacho obtido pela Coluna, Ricardo Leite fala sobre dificuldades de monitorar o doleiro – que cumpre prisão em sua mansão monitorada por câmeras. “Haja vista o reduzido quadro de servidores disponíveis e a inexistência nesta Unidade de sala com monitores que operem diuturnamente e em número suficiente, bem como a ausência de corpo de segurança que avalie a adequação das câmeras”, aponta o juiz.

Big Brother 
Ricardo Leite também constata que as câmeras “não abrangem a totalidade da área ocupada pela propriedade” e determina: a defesa de Funaro “deve entregar um mapa de cobertura das câmeras e as gravações colhidas entre os dias 20 e 31 de dezembro”.

Carta precatória 
Além disso, complementa o juiz Ricardo Leite, até o momento, a carta precatória que possibilitaria que o juízo de Vargem Grande do Sul fiscalizasse o doleiro presencialmente – seja por meio de oficial da justiça, seja por meio da polícia – não foi emitida por causa do recesso do Judiciário.

Previdência 
A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) fará ato contra a reforma da Previdência e pela valorização da magistratura na Câmara dos Deputados no dia 1º de fevereiro. O presidente da entidade, Roberto Veloso, afirma que está em marcha no Congresso um “processo de retaliação contra os juízes federais e servidores públicos”.

Lixões
Em vigor desde 2014, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos não saiu do papel. A principal meta do chamado PNRS – de eliminação dos lixões e aterros controlados no país – não foi cumprida nos últimos três anos pelo Governo Federal.

Baixa efetividade 
Auditoria feita pelo Ministério da Transparência apontou várias falhas na execução do Plano, como ausência de clareza no papel do Ministério das Cidades na implementação da Política e “baixa efetividade nas capacitações” realizadas pelo Ministério do Meio Ambiente, além de deficiências do Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos (SINIR).

Gota d’água
O deputado Major Olímpio (SP) está de saída do Solidariedade. A “gota d´água” foi, segundo ele, o apoio do presidente da legenda, Paulinho da Força, ao manifesto em defesa do ex-presidente Lula.

Se lixa
Deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), que disse “se lixar” para opinião pública, voltou a ser sondado pela bancada do partido na Câmara para assumir o comando do Ministério do Trabalho. A movimentação dos parlamentares, no entanto, foi estancada pelo presidente da legenda, Roberto Jefferson, que ainda aposta na posse da filha, Cristiane Brasil (RJ).

Veto 
Prefeitos querem derrubar o veto do presidente Michel Temer ao programa de parcelamento de débitos para pequenas e médias empresas. Em encontro com o presidente do Sebrae, Guilherme Afif, o presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Carlos Amastha, disse que “o atual cenário econômico exige atenção especial para os pequenos empresários”.

Frente
O vice-presidente da Frente Parlamentar Mista da Micro e Pequena Empresa, senador José Pimentel (PT-CE), também se reúne com Afif amanhã para discutir o veto de Temer. O petista afirma que a “derrubada (do veto) é essencial para evitar que 600 mil micro e pequenas empresas sejam excluídas do Simples, o que implicaria, no mínimo, em dois milhões de empregos a menos”.

Tributária
Relator da reforma Tributária na Câmara, deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) diz esperar que a proposta seja aprovada ainda no primeiro semestre.

Fundos 
O tucano adianta que, para diminuir a resistência de governadores e prefeitos que não querem ter a arrecadação reduzida, serão criados “fundos que vão repartir a arrecadação dos tributos de modo que ninguém perca”.

Plataforma
O Tribunal de Justiça de Sergipe (TJSE) assinou termo de adesão ao Banco Nacional de Monitoramento de Prisões, plataforma digital que reunirá os dados de toda a população carcerária brasileira. Sergipe é o sexto estado a aderir ao BNMP 2.0.

Ponto Final
“Por ser ano eleitoral, a gente tem que conseguir aproximar as mulheres da política”.
Da deputada Mariana Carvalho (PSDB-RO).


quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

MEDICAMENTOS FALSOS - UM PERIGO MUNDIAL



Medicamentos falsos, um negócio rentável e mortal na África

Agência France Presse








Ao menos 100.000 pessoas morrem a cada ano na África por utilizar medicamentos falsos, segundo a OMS

A África se tornou um centro neurálgico para os traficantes de medicamentos, de vacinas a antirretrovirais, um negócio muito lucrativo mas que provoca centenas de milhares de vítimas.
O volume de negócios gerado por produtos médicos falsos é estimado em ao menos 10% ou 15% do mercado farmacêutico mundial.
Um valor que poderia chegar a 200 bilhões de dólares, segundo dados do Fórum Econômico Mundial (WEF), um número que quase triplicou nos últimos cinco anos.
"Para vender medicamentos falsos é preciso ter clientela. E no continente africano há muito mais doentes pobres que no resto do mundo", explica à reportagem o professor francês Marc Gentilini, especialista em doenças infecciosas e tropicais e ex-presidente da Cruz Vermelha francesa.
Segundo ele, as vacinas que há alguns anos foram distribuídas no Níger para frear uma epidemia de meningite — uma doença que a cada ano mata milhares de pessoas neste país pobre da região do Sahel — eram falsas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que um de cada dez medicamentos no mundo é falso, um número que pode alcançar sete em cada dez em alguns países, em particular africanos.
O tráfico está às vezes nas mãos de autoridades corruptas da saúde pública, que compram produtos falsos a bons preços na China e Índia, os principais fabricantes, e depois os revendem.
Ao menos 100.000 pessoas morrem a cada ano na África por utilizar medicamentos falsos, segundo a OMS.
Só em 2013, 122.000 crianças de menos de cinco anos morreram nos países da África subsaariana por tomarem medicamentos falsos contra a malária, segundo o American Journal of Tropical Medecine and Hygiene.
"É um crime duplo, de saúde e social, porque matam doentes e doentes pobres", afirma Gentilini.
Mais rentáveis que a droga

Em agosto de 2017, a Interpol anunciou o confisco de 420 toneladas de produtos médicos de contrabando em uma macro-operação em sete países (Benim, Burkina Faso, Costa do Marfim, Mali, Níger, Nigéria e Togo).
"O negócio da falsificação de medicamentos é o primeiro na lista dos tráficos ilícitos", explica Geoffroy Bessaud, diretor da coordenação antifalsificação do grupo farmacêutico francês Sanofi.
Segundo o WEF, este negócio gera mais lucros que o tráfico de maconha.
"Um investimento de mil dólares pode gerar até 500.000 dólares, enquanto o mesmo investimento no tráfico de heroína ou de moedas falsas gera 20.000 dólares", acrescenta.
"Temos de tudo!"

Em maio de 2017, as autoridades da Costa de Marfim incineraram 40 toneladas de medicamentos falsos confiscados em um bairro de Abidjan, onde está instalado o maior mercado de medicamentos ao ar livre do oeste da África, que representa 30% das vendas de medicamentos no país.
Ao entrar no "Roxy", o apelido deste mercado clandestino, a primeira coisa que se ouve são as vendedoras assegurando que têm "de tudo".
"Muitas pessoas vêm com suas receitas médicas para comprar aqui, e também os proprietários de clínicas privadas", explica Fatim, uma vendedora, sentada em frente a uma enorme bacia cheia de produtos farmacêuticos.
Embora se negue a dizer de onde procedem, assegura que as vendedoras têm um "sindicato" e que se reúnem para "regular" o mercado.
"Os policiais nos incomodam, mas eles mesmos vêm comprar medicamentos", explica Mariam, outra vendedora.
Na Costa do Marfim, a primeira economia da África francófona, o setor farmacêutico legal sofre a cada ano perdas de entre 40 e 50 bilhões de francos CFA (entre 60 e 76 milhões de euros), segundo dados do Colégio de farmacêuticos do país.
Diferentemente do tráfico de estupefacientes, a falsificação de medicamentos só é considerada um delito contra a propriedade intelectual, de modo que atrai muitos traficantes.
Enquanto grandes grupos, como o Sanofi, lutam contra o fenômeno - 27 laboratórios clandestinos foram desmantelados em 2016 -, os países pobres não têm meios suficientes para isso.
Os governos africanos têm outras muitas preocupações e "não podem pôr agentes alfandegários e policiais para lançar um contra-ataque eficaz", ressalta Gentilini, chefe de serviço no hospital Pitié Salpêtrière de Paris.