Um quarto dos
brasileiros vive com menos de US$ 5,50 por dia
Estadão Conteúdo
Na prática, é como
se cada pessoa desse grupo vivesse, ao longo de um mês, com valor insuficiente
para pagar um tanque de 50 litros de gasolina
Um quarto da
população, ou 52,168 milhões de brasileiros, estava abaixo da linha de pobreza
do Banco Mundial em 2016, ano mais agudo da recessão. Esse é o total de
brasileiros que vive com menos de US$ 5,50 por dia, equivalente a uma renda
mensal de R$ 387,07 por pessoa em valores de 2016. Os dados, da Síntese de
Indicadores Sociais 2017, foram divulgados nesta sexta-feira, 15, pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Quando considerada a Linha Internacional de Pobreza do banco multilateral, de
US$ 1,90 por pessoa, 13,350 milhões de brasileiros, ou 6,5% da população total,
vivem com menos desse valor por dia. Esse contingente é superior à população da
capital paulista (12,1 milhões, segundo o IBGE). Conforme o IBGE, a linha de
extrema pobreza do Banco Mundial equivale a uma renda mensal média de R$ 133,72
por pessoa do domicílio.
Na prática, é como se cada pessoa desse grupo vivesse, ao longo de um mês, com
valor insuficiente para pagar um tanque de 50 litros de gasolina pelo preço
médio do Estado de São Paulo - R$ 192,40, conforme a pesquisa mais recente da
Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Ou com o
equivalente a um terço do preço da cesta básica do Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em São Paulo, de R$ 423,23.
A linha de US$ 5,50 foi criada no mês passado pelo Banco Mundial, para países
emergentes de renda média-alta, categoria a qual inclui o Brasil. A Linha
Internacional da Pobreza de US$ 1,90 continua sendo o limite do organismo
multilateral, que norteia o objetivo de acabar com a extrema pobreza no mundo
até 2030, mas o Banco Mundial criou ainda uma faixa que considera US$ 3,20 por
dia. Na Síntese de Indicadores sociais, além dos patamares do Banco Mundial, o
IBGE usou como referência o salário mínimo e os valores mínimos para adesão ao
Bolsa Família.
"A gente tem muitos recortes. O objetivo é ver a diferença no território.
Quem está mais exposto a esse baixo rendimento", afirmou a coordenadora de
População e Indicadores Sociais do IBGE, Barbara Cobo Soares.
Tanto a pobreza quanto a extrema pobreza estão concentradas no Norte e no
Nordeste. Quando se usa a linha de US$ 5,50 por dia, 43,1% dos habitantes do
Norte e 43,5% dos moradores do Nordeste vivem com renda igual ou inferior a
essa, contra os 25,4% na média nacional.
Já na linha dos extremamente pobres, com US$ 1,90 por dia, 11,2% dos habitantes
do Norte e 12,9% da população do Nordeste vivem nessas condições. São 7,3
milhões de nordestinos vivendo com essa renda, ou seja, mais da metade do total
de extremamente pobres do País.
Além da concentração regional, as condições sociais também influenciam na
pobreza. Conforme o estudo do IBGE, na população de zero a 14 anos, 42,4% vivem
em domicílios que possuem renda inferior aos US$ 5,50 por pessoa por dia do
Banco Mundial. Já entre os arranjos familiares formados por mulheres de pele
identificada como preta sem cônjuge e com filhos de até 14 anos, 64% vivem com
renda inferior aos R$ 387,07 por pessoa por mês.
O estudo divulgado nesta sexta-feira usa os dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C), do próprio IBGE. Não há comparação com
outros anos, porque uma mudança no questionário da Pnad-C tornou os dados
incomparáveis, exigindo tratamento estatístico. No mês passado, o IBGE informou
que faria os cálculos da série histórica, até o primeiro semestre do próximo
ano.
Piores condições
As pessoas pobres no Brasil não vivem apenas com pouco dinheiro, mas as
condições de vida em suas casas também são piores do que a média, revela a
Síntese de Indicadores Sociais 2017.
Na média nacional, 62,1% dos brasileiros vivem em domicílios que possuem acesso
simultâneo aos três serviços de saneamento básico (abastecimento de água por
rede geral, esgotamento sanitário por rede coletora ou pluvial e coleta direta
ou indireta de lixo). Entre os 52 milhões de brasileiros que vivem com menos de
US$ 5,50 por dia, uma das linhas de pobreza do Banco Mundial, só 40,4% vive em
domicílios com esses três serviços.
Com essa abordagem, o IBGE procurou tratar a pobreza de forma
"multidimensional". "A pobreza é multidimensional, mas o
dinheiro é uma unidade de medida. É mais difícil medir acesso a serviços",
afirmou Leonardo Queiroz Athias, analista da Coordenação de População e
Indicadores Sociais do IBGE.
O estudo também mediu quatro "inadequações" das moradias (ausência de
banheiro ou sanitário de uso exclusivo dos moradores; paredes externas do domicílio
construídas predominantemente com material não durável; adensamento excessivo,
ou seja, a presença de um número de moradores superior ao adequado no
domicílio; e ônus excessivo com aluguel, ou seja, quando o gasto com aluguel
iguala ou supera 30% do rendimento).
No conjunto da população, 12% moram em domicílios com ao menos uma dessas
inadequações. Entre os que ganham abaixo de US$ 5,50 ao dia, são 26,2%. O
destaque é o "adensamento excessivo": na média nacional, 5,7% da
população vive nessas condições, enquanto entre os mais pobres são 14,2%.