Atentado em Nova York
Manoel Hygino
De uma hora para
outra, um indivíduo aluga uma caminhonete na parte baixa de Manhattan, invade
uma ciclovia na contramão, mata oito pessoas e deixa mais de uma dezena de
feridos, que aproveitavam o tempo bom no dia do Halloween, tão caro aos
americanos. Vai gente de toda a ilha, mesmo de longe, para assistir ao alegre
festejo.
O autor da cruel
façanha foi Syfullo Habibullaevic Saipov, de 28 anos, que se programou para o
maior atentado terrorista em Nova York desde as Torres Gêmeas, em 11 de
setembro de 2001. Dele, disse o governador do Estado, Andrew Cuomo: “é um
depravado, covarde e estava associado ao Estado Islâmico”.
Curioso como
acontecem os fatos: ele chegou aos Estados Unidos, em 2001, num sorteio para
quem deseja ali ingressar, morou em Ohio, é casado e tem três filhos. Possuía
dois endereços – na Flórida e em Nova Jersey, pegadinha a Nova York. Conseguiu
visto para residência, trabalhava como motorista de Uber, nunca fora objeto de
investigação ou suspeita.
Imediatamente
detido, com um tiro na perna ou algo assim, levado a hospital, o terrorista
confessou que faria tudo de novo se oportunidade surgisse. Teria, imediatamente
após o gesto criminoso, gritado em árabe “Alá é Deus”, como se ouve em velhos
filmes de Hollywood rodados no deserto.
John J. Miller,
vice-comissário de Polícia de Nova York, observou: “Ele parece ter seguido
quase exatamente, de forma precisa, as instruções que o Estado Islâmico colocou
em seus canais de mídias sociais sobre como realizar tal ataque”. Isto é:
procedeu de acordo com o figurino do Estado Islâmico, que sequer é propriamente
estado, nem muito rigorosamente obediente aos ensinamentos de Maomé, o profeta.
Entre os objetos
resgatados no local da tragédia, um bilhete em árabe em que Saipov exortava os
simpatizantes a manterem acesas as chamas dos objetivos do EI.
O que foi feito não
está por fazer, diz-se lá em minha terra, de gente batuta, que conhece a vida,
percalços e alegrias. Outro aspecto que desperta a atenção é que, depois de
radicar-se no grande país do Norte, bem instalado, o emigrado se tornou adepto
do Estado Islâmico, em nome do qual teria agido.
Trump, em sequência
à tragédia, decidiu que o “Programa de Loteria de Vistos da Diversidade” deve
ter fim, visando proteger “nossos cidadãos” e propôs pena de morte para o
ubesque. Aliás, concedem-se 50 mil destas solicitações de todo o mundo, a cada
ano, podendo o admitido levar a família, depois.
A pátria do Saipov é
o Uzbequistão, uma das repúblicas componentes da ex-URSS, instalada em 1924, em
terras anteriormente inclusas do Turquistão, Bocara e Corezim, com partes de
outras regiões. A capital é Tahkent, de que tampouco eu ouvira falar. Mas sai gente
de lá para matar em outros países.
Entretanto,
ignoraram-se, com o atentado, muitos apelos, inclusive o da prece árabe que
assim começa: “Meu Deus, não consintas que eu seja um carrasco que degola
ovelhas, nem uma ovelha nas mãos de carrascos. Meu Deus, faze-me sentir que o
perdão é manifestação de força, e a vingança, uma prova de fraqueza”.
O conselho, contudo,
foi ignorado também por Davin P. Kelley, um texano das proximidades de San
Antonio, cidade mais populosa do Estado. No dia 5, ele matou a tiros 27 pessoas
e deixou outras 24 feridas, durante culto num templo batista! E não era um
fanático do EI?