Planeta já
estourou recursos naturais capazes de serem regenerados em 2017
Agência Brasil
A cada ano, os seres
humanos esgotam mais cedo os recursos naturais do planeta. É como um orçamento
ambiental, quando a demanda anual da humanidade por recursos excede o que o
planeta Terra é capaz de regenerar naquele ano. Em 2017, o Dia da Sobrecarga da
Terra, tradução de Earth Overshoot Day, é nesta quarta-feira (2), a data
mais precoce desde que estouramos nosso orçamento ambiental pela primeira vez
no início da década de 1970.
“A humanidade está
exaurindo a natureza 1,7 vezes mais rápido do que os ecossistemas conseguem se
regenerar. É como se estivéssemos utilizando o equivalente a 1,7 Terras”, diz o
comunicado da Global Footprint Network, organização internacional de pesquisa
pioneira na contabilização da pegada ecológica , que é a quantidade de recursos
naturais renováveis para manter o estilo de vida das pessoas. O sequestro de
carbono (absorção de grandes quantidades gás carbônico da atmosfera) representa
60% da demanda dos seres humanos pelos recursos naturais do planeta.
Para reverter esta
tendência, é preciso atrasar o Dia da Sobrecarga da Terra em 4,5 dias todos os
anos. Assim, será possível retornar ao nível em que utilizamos os recursos de
um só planeta até 2050. Por isso, a organização promove a iniciativa #movethedate
(“retroceda a data”), para a adoção de ações e hábitos que podem reduzir a
nossa pegada ecológica.
Para isso, a Global
Footprint Network também lança hoje uma nova Calculadora de Pegada Ecológica
onde os usuários podem descobrir seu dia individual. A calculadora é usada por
mais de 2 milhões de pessoas ao ano.
Os custos desse
excesso global de gastos ecológicos estão se tornando cada vez mais evidentes
em todo o mundo, manifestando-se em desmatamentos, secas, escassez de água
potável, erosão do solo, perda de biodiversidade e o acúmulo de dióxido de
carbono na atmosfera.
Ações governamentais
Além dos esforços
pessoais, mudanças sistêmicas são essenciais para retroceder o Dia da
Sobrecarga da Terra, segundo a Global Footprint Network. A organização lançou uma
plataforma de dados aberta no começo do ano, com os resultados de cálculos de
pegadas ecológicas de todo o mundo. Ela ainda quer disseminar mais informações
sobre as soluções identificadas pelas organizações Project Drawdown e McKinsey
& Company. Por exemplo, reduzir a geração de resíduos de alimentos em 50%
em todo o mundo poderia retroceder a data em 11 dias; reduzir o componente de
carbono da Pegada Ecológica global em 50% retrocederia a data em 89 dias.
Segundo o
diretor-executivo da Global Footprint Network e co-criador da Pegada Ecológica,
Mathis Wackernagel, a pegada de carbono da humanidade mais que dobrou desde o
início da década de 1970 e continua sendo o componente de crescimento mais
rápido da diferença entre a nossa pegada ecológica e a biocapacidade do
planeta. “Para alcançar os objetivos do Acordo do Clima de Paris, a humanidade
precisaria sair da economia de combustíveis fósseis antes de 2050. Isso
ajudaria muito a enfrentar o problema de excesso de gastos ambientais da
humanidade”, disse, em comunicado.
Alguns avanços estão
sendo identificados pela organização. A pegada ecológica per capita dos Estados
Unidos (EUA), por exemplo, caiu quase 20% em 2013 (último ano para o qual há
dados disponíveis) em relação ao seu pico em 2005. “Essa mudança significativa,
que inclui uma retomada pós-recessão, está associada principalmente à
diminuição das emissões de carbono. E o Produto Interno Bruto per capita dos
EUA cresceu cerca de 20% no mesmo período”, informou, ressaltando que esse caso
demonstra como é possível crescer economicamente fazendo uso racional dos
recursos naturais.
Apesar do retrocesso
demonstrado pelo governo federal dos EUA com relação à proteção do clima,
muitas cidades, estados e grandes empresas do país estão redobrando seus
compromissos. Além disso, segundo a Global Footprint Network, a China, país com
a maior pegada ecológica total do mundo, declarou estar firmemente empenhada em
construir uma civilização ecológica em seu último plano quinquenal, que inclui
iniciativas para acelerar o pico de carbono do país. A Escócia, Costa
Rica e Nicarágua são outros exemplos de países que estão abandonando fontes
emissoras de carbono em suas matrizes energéticas.