O futuro ameaçado
Manoel Hygino
Em face dos
ingentes, delicados e complexos problemas que afligem o mundo e,
especificamente, o Brasil, neste quase fim de segundo decênio, do século XXI,
medito. E há muito a meditar, diante do nível de insensibilidade humana, da
degradação de costumes de modo geral, entre os quais os vigentes nos anais
políticos.
O Brasil se tornou
nação-problema, embora sempre ostentasse adequadas condições para fazer o seu
povo feliz e próspero. No entanto, o que se vê, acompanha-se e se sente é uma
débâcle que corrói grande parte do que ainda há de honesto e digno.
Era comum a nossas
lideranças falar em pátria, honestidade e futuro, o que se transforma em
lembrança cada vez mais distante. As palavras aparentemente foram riscadas dos
discursos, até parecem ter perdido muito de seu sentido na atual fase de
corrupção.
Faço o raciocínio,
ao lembrar Francisco, o papa, ao apresentar à comunidade cristã a sua encíclica
Laudato si: que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às
crianças que estão a crescer? A indagação é grave: “para que viemos a esta
vida? Para que trabalhamos e lutamos?”.
Mais adiante, o
pontífice propõe empreender em todos os níveis da vida social, econômica e
política, um diálogo honesto, que estruture processos de decisão transparentes,
enfatizando que nenhum projeto pode ser eficaz se não for animado por uma
consciência formada e responsável.
Sublinha o moderno
excesso de antropocentrismo: o ser humano não reconhece mais sua correta
posição em relação ao mundo e assume uma posição autorreferencial, centrada
exclusivamente em si mesmo e no próprio poder.
Daí a lógica do
descartável, tratando o homem como um simples objeto de dominação. É a lógica
que leva a explorar meninos e meninas, a abandonar os idosos, a reduzir os
outros à escravidão, a superestimar a capacidade do mercado de se autorregular,
a praticar o tráfico de seres humanos, o comércio de peles de animais em
extinção e de “diamantes ensanguentados”. É a mesma lógica de muitas máfias,
dos traficantes de órgãos e de drogas, do descarte de crianças por não
corresponderem ao desejo dos pais.
Neste começo do
segundo trimestre de 2017, o quadro é dramático no Brasil, mas não somente
aqui. Evidentemente têm os brasileiros de cuidar-se, em meio à tempestade e ao
desvario de uma sociedade vergastada pela degradação.
As previsões são
terríveis. A Organização Mundial do Trabalho advertiu, há poucos dias, que o
mundo necessita de 40 bilhões de novos postos de trabalho. Isso tem
consequências funestas, porque trabalhando é que se dá sentido à experiência
humana.
Mas deve doer à
consciência deste país notícias como a do menino de 6 anos, na Grande São
Paulo, que ofereceu aos bandidos armados seu cofrinho de moedas para
tentar salvar a vida do pai. Os criminosos queriam saber onde estava o cofre.
O marceneiro levou
um tiro fatal no peito, diante da criança e de sua mãe após a humilde habitação
ser invadida. Os malfeitores não sabem perdoar.