quarta-feira, 8 de março de 2017

AS MULHERES DEFENDEM O FEMINISMO

'O feminismo avançou, mas não consolidou os avanços', diz socióloga Eva Blay

Agência Brasil 







Para explicar a importância da igualdade entre gêneros para os homens, a socióloga Eva Blay diz que sempre conta uma historinha. “Eu fazia a conta. Você [homem] ganha R$ 20. A tua mulher ganha R$ 10. Quanto entrou na sua casa? R$ 30. Então ficou faltando quanto? Quem ficou com esses R$ 10 [que estão faltando]? Quando você joga essa pergunta: 'quem ficou com os R$ 10?' – e não foi nem você, nem sua mulher nem sua casa – era fantástico”, disse, em entrevista dada à Agência Brasil, na semana passada, no campus da Universidade de São Paulo (USP), na sede do escritório da USP Mulheres.

Eva prefere não falar de si, mas sua história de luta pelos direitos das mulheres é longa. Socióloga e professora titular da Universidade de São Paulo (USP), Eva Blay, 79 anos, foi senadora e atualmente coordena o Escritório USP Mulheres, que trabalha para o enfrentamento da violência contra a mulher, para a garantia da igualdade de gênero no Brasil e conta com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU).

Para ela, o feminismo avançou muito ao longo dos anos, mas a consolidação dos direitos das mulheres no mundo nunca foi, de fato, consagrada. “Na sociedade não existe, nunca [houve] uma consolidação. O que existe é sempre um processo”, destacou.

Na entrevista, Eva fala sobre o surgimento do Dia Internacional da Mulher e diz que a data remonta a várias lutas femininas.

Ela destaca que a violência contra a mulher continua em todo o mundo, mas que no Brasil a distorção é ainda pior. “O Brasil está em quinto lugar no assassinato de mulheres”, destaca.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Como teve início as comemorações pelo Dia Internacional da Mulher?
 
O dia 8 de março não começou no dia 8 de março. Começou com a Clara Zetkin, uma socialista que apresentou em um congresso socialista [2º Congresso Internacional de Mulheres Socialistas], em 1911, uma proposta de um dia internacional para as mulheres. Então, como socialista, ela queria uma coisa geral. Naquela época, mais ou menos como agora, havia uma série de dificuldades. Mas acho que, naquela época, a situação era pior. As mulheres não tinham horário de trabalho. Então, trabalhava 12 horas, 15 horas, as crianças trabalhavam. Quando as mulheres, naquela época, saíram às ruas com essa proposta - ainda era época do czar - elas achavam, e aí já não eram as socialistas, que podiam conseguir do czar um certo apoio, uma certa redução da jornada, mas ele mandou a polícia para cima delas e foi um morticínio total. Depois disso, sempre do ponto de vista político, as mulheres continuaram a lutar por um dia de reivindicação, um dia de luta, não festivo. Mas em vez de pensar em luta, o que a sociedade capitalista inventou? Vamos dar bombons e flores. Ora, nós não queremos bombons e flores apenas. Venham os bombons e as flores, mas não só isso. O que nós queremos é a igualdade de direitos e de deveres como está na Constituição de 1988.

E quais foram os avanços conquistados pelas mulheres desde então?
Homens e mulheres são iguais perante a lei. E ser igual significa o que? As mesmas oportunidades de estudar, de não ter limitações nas carreiras, de não ter um teto de vidro que limita a ascensão das mulheres nas carreiras. Enfim, uma mudança geral na estrutura da sociedade. E estou falando especialmente da brasileira. Mas isso acontece em todas as outras sociedades. Por volta dos anos 50, essa reivindicação tornou-se o centro do movimento feminista no mundo todo. Não era só socialista, era feminista, era suprapartidária. E o movimento feminista incluiu todas essas reivindicações: a igualdade de direitos, a igualdade sobre, por exemplo, na família, de a mulher poder dizer quem é seu filho e quem é o pai do seu filho. Nós não podíamos fazer isso. A mulher, para trabalhar, precisava de autorização do marido. Para viajar, precisava de autorização. Ela não podia nem usar o próprio dinheiro. O movimento feminista começou a trabalhar todas essas questões. E, de uma certa maneira, avançamos. Avançamos do ponto de vista do direito, do ponto de vista da educação, as mulheres se tornaram altamente escolarizadas comparando com os homens e muitas foram para a universidade. O caminho da universidade é mais ou menos heterogêneo. Nas carreiras que são das ciências chamadas duras ou exatas, temos menos mulheres que homens. Mas estamos fazendo muita força para ampliar isso.

E o que falta conquistar?
Qual foi a área que não avançou? A violência. Na violência, nós não conseguimos avançar. Ela continua. Na pior situação, há o assassinato de mulheres, a violência dentro de casa, o estupro, o incesto. Tudo isso continua acontecendo e esta é a área que a gente menos conseguiu avançar. Não só no Brasil como na América Latina toda e no mundo, de forma geral. Mas aqui a distorção é muito pior.

Por que você diz que aqui é muito pior?
Por causa do número de mulheres. O Brasil está em quinto lugar no assassinato de mulheres.

A senhora tem escrito artigos destacando esse momento que o mundo vive com Trump [Donald Trump, presidente dos Estados Unidos] e Putin [Vladimir Putin, da Rússia]. Como a senhora enxerga épocas como essa que parecem de retrocesso?
Acho que vivemos um momento em que há várias forças em atuação. Evidentemente, quando você pega alguns grupos religiosos ou alguns indivíduos conservadores e muito conservadores, eles não admitem os avanços que nós conseguimos. Tem um aí que acha que a mulher tem que ser subserviente ao homem. Ou ele acha que o casamento entre homossexuais é uma aberração. Não concorda com o aborto mesmo em caso de anencéfalos. Até em coisas que já avançamos existem aqueles que querem voltar atrás. Por isso, acho muito importante a gente nunca perder de vista que o feminismo avançou, mas não consagrou os avanços. Você tem que estar sempre alerta porque senão volta para trás. Vide o Trump que, nos Estados Unidos, quem imaginaria que ia fazer as propostas tão retrógradas como ele está fazendo?

Há como recuperar o Dia Internacional da Mulher como um evento de luta? Esse ano parece um ano especial, de mobilização e de greves, em nível internacional. Tem como voltar a marca do dia de luta e não do dia de bombons?
Acho que hoje em dia ninguém ousa pensar o Dia Internacional da Mulher como o dia do bombom. Eu não vejo mais isso não. Se você andar pela rua ou mesmo aqui pelo campus [da USP], o que você vê? Frases e cartazes assim [ela mostra postais com frases que pedem o fim do assédio e da violência contra a mulher], de que isso tem que parar. A violência sexual tem que parar. Elas podem ser chefes no trabalho, elas podem andar como quiserem. Você deve apoiá-las. Isso nós estamos fazendo. Agora, elas podem sair à noite sozinhas. Hoje você pega uma adolescente e ela não aceita mais vir com essa conversa. Ela quer andar de shorts sim, decotada sim e ninguém tem nada a ver com isso. Elas já absorveram esse feminismo.

Esse é o momento que você falou que está faltando, da consolidação do feminismo?
Na sociedade não existe, nunca [houve] uma consolidação. O que existe é sempre um processo. É um processo que pode ir e voltar. Se você comparar hoje com, por exemplo, quando conquistamos o direito ao voto, quando a Bertha Lutz [biológa] lutou pelo direito ao voto, em 1920. Sabia que ela jogava panfletos por avião? Quem tinha avião naquela época? Ela fez todo um trabalho de direito ao voto. Então já era uma coisa forte. Havia muitas jornalistas feministas. Se você pegar de 1850 para frente, o número de mulheres jornalistas e feministas era muito grande. E depois teve um retrocesso.

As adolescentes podem ser um novo [avanço]?
Acho que estamos avançando. Por exemplo, na violência, a gente não superou os limites. Mas a gente tem a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio. Mas agora é uma questão de cultura. Você tem a lei, mas não tem ainda a cultura para implantar isso.

Tem alguma lei que pode ajudar?
Lei não adianta. A lei ajuda. Ela pune. Isso é importante. Mas nós vivemos em uma cultura patriarcal, uma cultura machista. Então, enquanto você viver em uma cultura machista, você não consegue acabar com isso. Vou dar um exemplo. Tem um fulano, que não quero citar, que matou a mulher e era uma pessoa notória porque ganha dinheiro. Dois dias depois, o que vejo nos jornais? A seguinte frase: 'fulano de tal [ela não diz o nome, mas ela está falando do goleiro Bruno, condenado por assassinato] está muito magoado com seus companheiros que não foram visitá-lo na prisão'.  Eu acho que os companheiros não foram visitá-lo na prisão porque não estavam de acordo por ele ser um assassino. Mas a mídia não está passando isso. A mídia está passando 'coitado, ele pagou o seu crime, então agora ele tem que ser recepcionado'. Você colocar na mídia essa tentativa de dizer vamos recuperá-lo? A moça sumiu. Nunca se achou o corpo dela.

E as transgêneras?
 
Gênero significa o seguinte: quando você está pensando em uma pessoa, em um corpo, até agora a gente pensava apenas do ponto de vista biológico. Hoje não pensamos mais do ponto de vista biológico. Hoje pensamos mais. Você vive em uma sociedade e é a sociedade que tem uma cultura que vai ensinar para você a ser mulher, a ser homem. Isso é gênero. Gênero é o contexto dentro do qual as pessoas estão. Ao lado disso você tem homens que podem ser biologicamente homens, mas não se sentem homens, se sentem mulheres. E vice-versa. Homens que são bissexuais, mulheres que são bissexuais. Hoje tem os crossdresser [termo que designa pessoas que se vestem com roupas associados ao sexo oposto], que é uma coisa muito interessante, que são homens que se vestem como mulheres. É raríssimo o caso contrário, mas tem também. Você vive em uma sociedade que, felizmente, as coisas agora estão aparecendo. Em vez de o cara ficar enrustido ou se suicidar, em vez de ele ficar sofrendo, hoje em dia não. Claro que não é todo mundo que hoje em dia aceita essa decisão. Porque a pessoa é o que ela é. Não importa. Desde os 3, 4 anos de idade, ela já começa a se definir. Ela não está escolhendo. Faz parte dela essa atuação, essa maneira de ser.

O 8 de março é um dia de luta também para a mulher trans?
 
Elas podem, por que não? Acho que sendo um dia internacional, cada um vai para a rua fazer o que quer.

MULHERES BRASILEIRAS PELO MUNDO



Como vivem as brasileiras pelo mundo

Estadão Conteúdo 







Nos Estados Unidos, Raquel se sente pressionada para sempre parecer uma "mulher perfeita". Na Índia, Ana tem dificuldades para encontrar preservativo e absorvente, pois a compra é feita praticamente de forma clandestina. Na África do Sul, Juliane não tinha coragem de sair à noite, mesmo que de carro. Já Luísa circulava sem problemas na Austrália, mas se incomodava de ser considerada "exótica".

No Dia Internacional da Mulher, o Estado coletou depoimentos de 25 brasileiras que moram ou moraram em diferentes países, de todos os continentes, para contar como é a vida da mulher nesses locais. O que é permitido a uma mulher na Árábia Saudita? Como é a vida delas no Timor Leste? Qual o grau de liberdade que têm na França? Nesta página estão cinco desses relatos, e os demais compõem o especial que pode se acessar no estadao.com.

Nesta quarta-feira (8), mulheres vão sair às ruas em pelo menos 30 cidades brasileiras e outras 150 em todo o mundo e prometem fazer ainda uma paralisação internacional sem precedentes. A Greve Internacional de Mulheres (GIM), também denominada Paro Internacional de Mujeres e International Women's Strike, não pertence a coletivo ou país em específico. É um movimento organizado por mulheres de mais de 40 países.

No Brasil, o movimento é chamado de 8M, sigla para 8 de março. Inspirado na Women's March, ocorrida nos Estados Unidos em janeiro, surgiu no país no mês passado.

Criadora do 8M em São Paulo, a cineasta e pesquisadora Marina Costin Fuser contou que aceitou o convite da militante feminista americana Angela Davis. Filósofa presente no ato norte-americano em janeiro, Angela leu uma carta pedindo a união de mulheres e convocando uma mobilização mundial. Há um mês, criou um grupo de discussão sobre o 8M no Facebook que, em dois dias, mobilizou 5 mil pessoas interessadas em organizar o ato desta quarta-feira (8) em todo o Brasil.

'Primavera feminista'. "Estamos no auge da primavera feminista, com a juventude pautando. O feminismo está na ordem do dia. Portanto, no 8M, levantaremos bandeiras contra a violência doméstica, pela legalização do aborto, contra a pedofilia e a violência infantil e pela igualdade de gênero no local de trabalho", afirma a criadora do movimento em São Paulo.

De acordo com Marina, quem não puder interromper o trabalho desta quarta-feira (8) fica o convite para suspender as atividades domésticas. Outra sugestão do 8M para esta quarta-feira é que as mulheres se reúnam para debater sobre desigualdades de gênero entre 12h30 e 13h30 (horário estabelecido pelo grupo no Brasil).

Natalia Corazza Padovani, pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), conta que o movimento feminista se fortaleceu em reação à uma guinada conservadora em andamento ao redor do mundo. Para ela, a opressão das mulheres se manifesta de diversas formas e em vários países e, por isso, acredita, o combate ao machismo ganha com a ação conjunta.

Estados Unidos: 'Aqui, não se está imune à violência'
"Enquanto mulher, lésbica, imigrante e latina morando na Baía de San Francisco, ser mulher perpassa várias dessas identidades. Durante a maior parte dos 10 anos que vivo aqui, tenho trabalhado no serviço doméstico, cuidando de crianças. Na maioria das vezes, é isso que cabe à mulher latina: participar na economia informal. Sinto-me livre ao andar pelas ruas segurando a mão da minha parceira ou ao ser afetuosa com ela em lugares públicos. Sinto-me livre quando decido adotar uma aparência masculina, pois sei que não serei alvo de chacota. Mas a mesma lógica de violência contra a mulher que existe no Brasil também existe nos Estados Unidos. Não estou imune. Não ando à noite sozinha em lugares que não conheço, procuro saber onde e quando beber e como lidar com o assédio sexual em festas, principalmente enquanto brasileira, que é frequentemente objetificada."

França: 'Há os clichês negativos com o Brasil'
"Ser mulher na França, para mim, é ser exotizada. Quando você fala para um francês que é brasileiro, o Brasil evoca muitas imagens positivas. Mas essas imagens positivas, muitas vezes, trazem clichês racistas, homofóbicos, transfóbicos e sexistas. Quando eu comecei a trabalhar na França, na minha primeira semana de trabalho, colegas mostraram vídeos de bailarinas brasileiras dançando nuas e perguntando se eu usava calcinha fio dental. Eles achavam que isso era uma forma de puxar assunto sobre o Brasil. Assim como já fui a uma festa - isso já me aconteceu algumas vezes - e alguém perguntou: "Você é brasileira? Você é uma mulher de verdade?". No momento em que a pessoa me perguntou isso pela primeira vez, não entendi o que era. Demorei para entender que era realmente um comentário transfóbico. Porque existe a fama das transexuais brasileiras na França. Muitas vezes todos esses clichês trazem tudo isso de negativo com as mulheres brasileiras."

Austrália: 'Perpetua-se o estereótipo de ser sexy'
"Ser mulher em um país como a Austrália me permitiu ter mais liberdade do que no Brasil. Eu me sentia mais segura para sair nas ruas, sem tanto medo de assédio ou violência. Tinha um grau de liberdade maior do que no Brasil, apesar de às vezes ser mais sexualizada. Alguns disseram que eu era exótica e outros perpetuavam o estereótipo de brasileira ser sexy. Sempre me permiti fazer o que quisesse no Brasil e até sofri por isso porque fui assaltada várias vezes e assediada, como as brasileiras são. Na Austrália, agia da mesma forma, me permitia fazer o que quisesse. Mas nesse período em que morei lá não tive nenhum incidente por ser mulher - exceto a hiperssexualização de alguns, por ser brasileira. Foram poucas as vezes em que precisei estar sozinha, mas não deixei de fazer coisas sozinha. Confesso que ser mulher significa sempre ter medo de andar na rua sozinha, no Brasil ou na Austrália. Mas talvez por ter nascido num país violento essa sensação me acompanha."

Angola: 'É comum ouvir cantadas nas ruas'
"Minha vida em Angola é parecida com a que tinha no Brasil. Trabalho de segunda a sexta, vou ao cinema, saio com os amigos, faço exercícios na Marginal de Luanda, vou à praia... Luanda é tão quente e úmida quanto o Rio, então uso basicamente as mesmas roupas. É claro que a sociedade aqui ainda é muito centrada no homem. É comum ouvir comentários machistas ou cantadas enquanto ando na rua. Mas como boa brasileira que sou, não me intimido. Respondo de volta e os caras logo param. Sendo mulher, me permito fazer quase tudo em Luanda. Moro no centro e faço muita coisa a pé: mercados, trabalho, restaurantes. Saio também para a balada sozinha sem problemas. Durante o dia, até me permito andar de candongas - os táxis azul e branco, parecidos com as vans do Rio -, mas procuro sentar próximo de outras mulheres ou do motorista. De noite, só uso os táxis de cooperativas com motoristas credenciados e rastreáveis. De resto, evito andar sozinha."

Arábia Saudita: 'Vive-se uma liberdade moderada'
"Sou brasileira-libanesa e sempre vivi no Brasil. Casei e meu marido trabalha na Arábia Saudita. Então, passamos a morar aqui. Em Jeddah, quase todos os restaurantes têm uma seção só para famílias e outra totalmente separada, onde entram só homens solteiros – e não mulheres solteiras. Sou muçulmana e para mim é natural cobrir o cabelo, usar o véu.Posso andar no shopping sozinha.Mulher não pode dirigir aqui. Quando não saio com meu marido de carro, pego Uber. Tive uma situação que passei que fiquei com um pouquinho de medo. Não usava véu, mas depois dessa situação preferi começar a usar. Porque os homens mexem. Não é que usar o véu vai me proteger, mas talvez na cabeça dos homens a mulher que usa o véu é mais reservada do que a mulher que não usa. É como se fosse no Brasil: mulher de minissaia na rua é comparável à mulher sem véu na Arábia Saudita. É liberdade moderada." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

TUDO QUE DÁ PREJUIZO DEVE SER VENDIDO NAS EMPRESAS PÚBLICAS



TCU deve liberar venda de ativos da Petrobrás

Estadão Conteúdo 






O Tribunal de Contas da União (TCU) deve liberar, em julgamento previsto para o próximo dia 15, o processo de venda de ativos da Petrobrás. Os projetos de desinvestimento da estatal estão suspensos desde 7 de dezembro por uma medida cautelar da Corte, que apontou falhas nos procedimentos adotados pela companhia.

No voto a ser apresentado ao plenário, o ministro José Múcio Monteiro, relator do processo, deve propor a liberação para a Petrobrás seguir adiante com os negócios, justificando que a estatal cumpriu as medidas necessárias para ajustar sua sistemática de desinvestimentos às exigências do TCU. O Estado apurou que o ministro seguirá o mesmo entendimento da área técnica.

Conforme a proposta, todos os novos processos de venda terão de cumprir as exigências do TCU desde o início. No caso de dez projetos, que já estavam em andamento, os ajustes poderão de ser feitos a partir da fase em que se encontram.

A Petrobrás tem apostado nos desinvestimentos para aumentar o volume de recursos em caixa e fazer frente ao endividamento bilionário. A cautelar aprovada em dezembro proibiu a venda de todos os ativos e empresas, à exceção de cinco, com receita de US$ 3,3 bilhões, que já estavam em etapa avançada.

A provável liberação pela corte de contas não é, contudo, o único entrave para a Petrobrás. Decisões judiciais travaram alguns negócios, como as vendas da Companhia Petroquímica de Pernambuco e da Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe); e dos campos Tartaruga Verde e Baúna, na Bacia de Santos.

Receita
O programa de desinvestimentos gerou receita de US$ 13,6 bilhões no biênio 2015-2016, não atingindo a meta de US$ 15,1 bilhões devido à restrição ao negócio desses dois campos. Com isso, a diferença de US$ 1,5 bilhão foi acrescida à meta para o biênio 2017-2018, que passou para US$ 21 bilhões.

Entre outras irregularidades que embasaram a cautelar de dezembro, o TCU apontou a falta de transparência e a possibilidade de direcionamento dos negócios. Listou a escolha do assessor financeiro sem consulta ao mercado, a liberdade da estatal para a definição de potenciais compradores e a permissão para que o objeto alienado fosse alterado "a qualquer momento", mesmo em etapas avançadas de negociação.

Segundo o TCU, parte considerável de atos relacionados à venda dos ativos não era enviada à deliberação de órgãos diretivos da companhia. Na ocasião, a companhia informou que se comprometeu com as correções solicitadas pelo TCU e reafirmou as metas de seu plano de desinvestimentos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A ECONOMIA DO BRASIL DIMINUIU 7,2% EM DOIS ANOS - CULPA DOS POLÍTICOS



Brasil tem a pior recessão em 68 anos

Janaína Oliveira e Tatiana Moraes 









O carpinteiro Sebastião Soares perdeu o emprego e busca forças para retornar ao mercado


Empresas falidas, linhas de produção paradas, fornos industriais abafados, desemprego em massa, placas de aluga-se para todo lado e até restaurantes tradicionais de portas fechadas são o retrato mais fiel da crise traduzida em números ontem pelo IBGE.
Após um tombo de 3,8% em 2015, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que é a soma das riquezas produzidas no país, despencou 3,6% em 2016, na comparação com o ano anterior.
No biênio 2015-2016, a queda do PIB chega a 7,2%. Na série de crescimento do IBGE, iniciada em 1948, foi a primeira vez que houve dois anos seguidos com queda anual do PIB, de acordo com a coordenadora de Contas Nacionais do órgão, Rebeca Palis.
Segundo ela, com a retração acumulada de 7,2%, é possível dizer que a recessão atual é a pior em 68 anos. Ainda conforme os cálculos do IBGE, o PIB encerrou 2016 no mesmo nível do terceiro trimestre de 2010. “É meio como se estivesse anulando 2011, 2012, 2013, 2014, que tinham sido positivos”, afirmou Rebeca.
Um dos setores mais atingidos pela crise é a indústria. Segundo o IBGE, o PIB industrial brasileiro despencou 3,8% no ano passado. Em 2015, o tombo havia sido ainda pior, de 6,3%.
O índice acompanha a drástica queda no faturamento do setor. Em 2016, conforme o presidente do Comitê de Política Econômica e Industrial da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Lincoln Gonçalves, houve retração de 17% na receita das fábricas brasileiras. Minas sofreu um recuo menor, de 12%, mas os efeitos foram devastadores.
“As demissões foram pesadas. Se não houver uma mudança razoável no cenário político e econômico em 2017, com redução da taxa básica de juros, novos cortes serão inevitáveis”, alerta o representante da Fiemg.
Dono da C. Hugo Fromas e Ferragens, em Venda Nova, o empresário Vanderli Figueiredo Araújo teve que se debruçar em planilhas para reduzir custos e conseguir pagar os funcionários em dia. Dos 55 empregados, restaram apenas 20.
“Dá dor no coração, mas a gente fica sem saída. Tenho R$ 300 mil a receber na praça e as empresas alegam que estão sem dinheiro. Outro dia aceitei um carro para diminuir meu prejuízo”, afirmou Araújo.
Um dos termômetros da economia, o setor de máquinas e equipamentos registrou queda de 16%.
“Já vínhamos alertando sobre a gravidade da situação. As fábricas estão com capacidade ociosa alta, em torno de 36%. São quatro anos consecutivos de queda. Um desastre”, disse a gerente do Departamento de Economia e Estatística da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Cristina Zanella. Segundo ela, só em 2016, foram 80 mil demissões no país.
O desempenho da construção civil também desmoronou, com recuo de 5,2% em 2016, após queda de 6,5% em 2015. Com projetos engavetados, mais de 35 mil vagas foram eliminadas somente em Minas Gerais no ano passado, segundo o Sinduscon-MG.
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) foram quase 18 mil demissões no ano passado, sendo 13.700 só na capital.
O carpinteiro Sebastião Soares da Silva é uma das vítimas. “Na empresa em que eu trabalhava eram 50 funcionários. Só sobraram uns três. A gente tem que tirar forças de não sei onde para seguir em frente e arranjar um novo serviço”, disse.

Revenda de motos em BH e Sete Lagoas é espelho da crise: 83% dos funcionários na rua
Com o freio na produção das fábricas e o corte de vagas, a indústria, que geralmente tem empregos mais qualificados, leva a reboque outros segmentos vitais para a economia, como serviços e comércio.
O empresário Rodrigo Brito de Souza Braga dá rosto à queda de 6,3% no PIB do comércio. No começo do ano passado, ele administrava oito lojas da Motovia, revendedora de motocicletas. Com a crise, se viu obrigado a fechar seis unidades.
Braga afirma que em 2015 chegava a comercializar 300 motos por mês. Em 2016, o número caiu para 40. “Os bancos pararam de liberar crédito. Assim, quem não tinha dinheiro na mão não conseguia comprar as motos. E ninguém tem dinheiro durante uma crise”, justifica. O faturamento da rede, que beirava os R$ 2 milhões, despencou para R$ 350 mil.
Como reflexo, foi necessário enxugar o quadro de funcionários. Dos 139 empregados que trabalhavam nas lojas, ficaram 24, retração de 83%. O cotidiano de Braga acompanhou a marcha a ré. “Eu tinha um padrão de vida, hoje tenho outro. Deixei de trocar de carro, de viajar. Vou menos a restaurantes”, comenta.
No país, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Bicicletas e Similares (Abraciclo), houve retração de 11,5% na venda de motos entre 2015 e 2016.
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Bruno Falci, inflação alta, juros elevados e aumento do desemprego vêm criando uma espécie de ciclo vicioso que dificulta a vida dos brasileiros e das empresas.
Para este ano, entretanto, a expectativa é a de que o desempenho no primeiro trimestre já esteja em patamares positivos. “Queda da inflação e redução da Selic pelo Banco Central são as principais razões para o ânimo”, disse.

Setor de serviços amarga prejuízos,
e saída para atrair clientela é inovar
O setor de serviços, um dos mais importantes na composição do PIB brasileiro, despencou 2,7% 2016, segundo o IBGE. Isso significa que salões de beleza, bares e restaurantes, por exemplo, produziram e faturaram menos. Ou fecharam as portas.
Os restaurantes foram um dos segmentos que mais amargaram perdas. Durante o ano, foi comum encontrar estabelecimentos tradicionais inovando para atrair clientes. “As casas criaram promoções e focaram em produtos mais baratos. Quem não se reinventou, teve problemas mais sérios”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG), Ricardo Rodrigues. De acordo com ele, 33% das casas mineiras encerraram 2016 operando no vermelho.
Rodrigues, que possui dois restaurantes em Belo Horizonte, não está entre os devedores. Para manter a saúde financeira das casas, no entanto, ele precisou abrir mão de bens. “Tive que vender algumas coisas que eu tinha para reinvestir no negócio, dilapidar patrimônio mesmo. Todo mundo colocou o pé no freio, não tenho a menor dúvida. Quem não está no vermelho freou investimentos”, afirma.
O setor agropecuário também registrou recuo. No ano, a queda foi de 6,6%. Segundo a coordenadora Técnica da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso, os efeitos climáticos foram responsáveis pela quebra de safra de 2016. Enquanto a seca não deu trégua em alguns locais como Minas Gerais, no Sul choveu demasiadamente. “No campo, o produtor sentiu muito. O que piorou a situação foi a inflação, mesmo que reduzida, que deixou o consumo das famílias muito mais restrito”, lamenta.





AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...