Ao apertar do gatilho
Manoel Hygino
O viajor que chega ao Brasil lendo os jornais, ouvindo os noticiários ou
assistindo à programação das tevês, ficará assustado, no mínimo, com o teor dos
fatos de que toma conhecimento. Sem Estado Islâmico, sem os brutais embates na
luta intestina e fratricida na Síria, sem os incidentes entre palestinos e
israelenses ou, ainda, sem as escaramuças entre turcos e curdos, a impressão
que se tem é de que nos tornamos também aqui campos de batalha.
Há conflitos por todos os lados. As notícias do Rio Grande do Sul despertam
especial atenção, porque ali as pelejas sempre foram por outros motivos e
meios. As mortes presentemente se dão nos bairros e no próprio centro urbano da
bela Porto Alegre, à luz do dia ou nas trevas da noite. No Rio Grande do Norte,
escaramuças se registram diariamente, com mortos e feridos, inclusive em Natal
tão decantada em verso e prosa.
Em São Luís, Maranhão, Estado de ilustres brasileiros, os fatos são
cruéis e deploráveis, desde o presídio de Pedrinhas, núcleo de permanente
rebelião de detentos contra a polícia estadual. Criminosos incendeiam os
alojamentos e os coletivos na capital, durante noites sucessivas, obedecendo a
ordens recebidas de detrás das grades, prejudicando o transporte coletivo e o
sossego da população.
Em Franco da Rocha, São Paulo, presídio-hospital psiquiátrico, que
acolhe centenas de detentos, estes se rebelam e ateiam fogo aos alojamentos,
permitindo que dezenas deles escapem. Um consolo: autoridades alertam que se
trata de criminosos de alta periculosidade. Agora, cabe ao poder público,
reconstruir tudo e recuperar. Quem paga?
Em São Paulo ainda, a Secretaria de Administração Penitenciária informa
que “o clima de harmonia que predominava” entre as grandes facções criminosas
do Estado terminou. Elas partiram, novamente, para a guerra e, evidentemente,
quem terá de suportá-la é a sociedade.
Os mais importantes presídios de Rondônia e Roraima se tornaram
caldeirões em permanente ebulição. Em ambos, multiplicaram-se mortos e feridos
e os governos estaduais se veem na contingência de apelar para a União.
No Sudeste impressiona a sucessão de ataques a bancos e repartições
públicas. Em Belo Horizonte, a Polícia Civil prendeu grupo responsável por mais
de trinta investidas contra caixas eletrônicos com prejuízo acima de R$ 1,5
milhão. Os criminosos são previdentes: fabricam os próprios explosivos. Também
na capital das Alterosas, bandidos obrigam motoristas do Uber a atuar em
crimes. Mas os taxistas também protestam: cinco deles são vítimas de meliantes
todos os dias.
Pelo que se vê, não ingressamos no rol dos crimes ‘daselite’. É outro
segmento expressivo no cotidiano do crime. Pergunto-me: ‘vale a pena ainda
tocar no assunto?’.
No dia 1º deste mês, militares do Exército, destacados na segurança da
Presidência da República, foram presos.Três deles são suspeitos de assaltar
seis pessoas. O grupo usava pistolas das Forças Armadas para roubar dinheiro,
celulares e objetos pessoais de pedestres em Ceilândia. Estavam com distintivos
e crachás do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
Este é responsável pela segurança do chefe da nação e pela coordenação dos
serviços de inteligência federal, entre outras atribuições.