Quanto custa reflorestar as
áreas que Dilma prometeu
Leão Serva
A presidente afastada Dilma Rousseff chutou alto quando apresentou o
plano para a participação do Brasil no acordo climático de Paris, no ano
passado. Ela prometeu reflorestar, até 2030, 12 milhões de hectares desmatados
no país ao longo das últimas décadas. Não se trata de uma promessa de Dilma,
que foi embora do Planalto com ela, mas um acordo fechado como chefe de Estado,
compromisso do país, que deve ser cumprido por seus sucessores.
O plano de Dilma tinha a mesma consistência de suas promessas de campanha
eleitoral: nenhuma. Foi um chute. Quando foi perguntada quanto custaria para
cumprir a promessa, ela disse que não sabia e até brincou: "Se alguém
tiver esse cálculo complexo de quanto vamos gastar, me passe que eu vou ficar
muito feliz"...
Uma instituição da sociedade civil fez os cálculos e acaba de divulgar o
levantamento "Quanto
custa reflorestar 12 milhões de hectares". Trata-se do Instituto
Escolhas, um centro de estudos associado ao Insper exatamente para
dar consistência a planos e ideias que aparecem nos debates sobre grandes temas
nacionais, como os ambientais, que frequentemente são chutes estratosféricos.
A conclusão é que reflorestar todas as áreas prometidas pelo país até
2030 vai consumir um investimento total de R$ 52 bilhões (ou 3,7 bilhões por
ano), gerando também mais de 200 mil empregos diretos e R$ 6,5 bilhões em
impostos.
O Escolhas é dirigido por Sérgio Leitão, ex-Greenpeace, que se diz
cansado de ver discussões sobre ideias pouco alicerçadas em números,
contestadas por adversários também avessos à objetividade. Para seus estudos, o
instituto usa os melhores cérebros da instituição universitária para levantar
ou checar os dados que permitam avaliar as hipóteses debatidas na sociedade.
"Quanto custa reflorestar..." foi feito por economistas da
instituição universitária sob a coordenação de Roberto Kishinami e Shigueo
Watanabe Jr.
Desde seu lançamento, em meados do ano passado, o Escolhas já
desenvolveu três trabalhos desse tipo: um sobre o custo de uma reforma
tributária que incentive a economia menos poluente (o "imposto sobre
carbono"); outro com cenários para uma mudança da matriz energética
brasileira (hoje dependente de hidrelétricas); e este cálculo do custo do
reflorestamento.
Se a conta de R$ 52 bilhões parece muito à primeira vista, os benefícios
compensam: florestas "produzem chuvas" ao reter no solo a água, que
depois evapora e volta a se precipitar; em áreas desmatadas, a água escorre
para os rios e vai embora imediatamente. Por isso, o reflorestamento deverá
resultar em uma recuperação do regime de chuvas de áreas do país, como Amazônia
e Sudeste, cada vez mais secas. Além disso, o crescimento de florestas
"sequestra" carbono, que as plantas usam para formar seus troncos,
retirando da atmosfera parte dos chamados gases de efeito estufa emitidos por
automóveis e indústrias.
Trata-se de portanto de um investimento com resultados mais positivos do
que os mesmos R$ 52 bilhões jogados fora pelo governo federal em incentivos
fiscais sem contrapartidas para indústrias, inclusive a automobilística. O
cálculo que Dilma pediu foi feito. Agora, como sugere o nome do instituto, cabe
ao governo fazer a escolha certa.



