segunda-feira, 13 de junho de 2016

DILMA PROMETEU - QUEM VAI CUMPRIR?



Quanto custa reflorestar as áreas que Dilma prometeu

Leão Serva  



A presidente afastada Dilma Rousseff chutou alto quando apresentou o plano para a participação do Brasil no acordo climático de Paris, no ano passado. Ela prometeu reflorestar, até 2030, 12 milhões de hectares desmatados no país ao longo das últimas décadas. Não se trata de uma promessa de Dilma, que foi embora do Planalto com ela, mas um acordo fechado como chefe de Estado, compromisso do país, que deve ser cumprido por seus sucessores.
O plano de Dilma tinha a mesma consistência de suas promessas de campanha eleitoral: nenhuma. Foi um chute. Quando foi perguntada quanto custaria para cumprir a promessa, ela disse que não sabia e até brincou: "Se alguém tiver esse cálculo complexo de quanto vamos gastar, me passe que eu vou ficar muito feliz"...
Uma instituição da sociedade civil fez os cálculos e acaba de divulgar o levantamento "Quanto custa reflorestar 12 milhões de hectares". Trata-se do Instituto Escolhas, um centro de estudos associado ao Insper exatamente para dar consistência a planos e ideias que aparecem nos debates sobre grandes temas nacionais, como os ambientais, que frequentemente são chutes estratosféricos.
A conclusão é que reflorestar todas as áreas prometidas pelo país até 2030 vai consumir um investimento total de R$ 52 bilhões (ou 3,7 bilhões por ano), gerando também mais de 200 mil empregos diretos e R$ 6,5 bilhões em impostos.
O Escolhas é dirigido por Sérgio Leitão, ex-Greenpeace, que se diz cansado de ver discussões sobre ideias pouco alicerçadas em números, contestadas por adversários também avessos à objetividade. Para seus estudos, o instituto usa os melhores cérebros da instituição universitária para levantar ou checar os dados que permitam avaliar as hipóteses debatidas na sociedade. "Quanto custa reflorestar..." foi feito por economistas da instituição universitária sob a coordenação de Roberto Kishinami e Shigueo Watanabe Jr.
Desde seu lançamento, em meados do ano passado, o Escolhas já desenvolveu três trabalhos desse tipo: um sobre o custo de uma reforma tributária que incentive a economia menos poluente (o "imposto sobre carbono"); outro com cenários para uma mudança da matriz energética brasileira (hoje dependente de hidrelétricas); e este cálculo do custo do reflorestamento.
Se a conta de R$ 52 bilhões parece muito à primeira vista, os benefícios compensam: florestas "produzem chuvas" ao reter no solo a água, que depois evapora e volta a se precipitar; em áreas desmatadas, a água escorre para os rios e vai embora imediatamente. Por isso, o reflorestamento deverá resultar em uma recuperação do regime de chuvas de áreas do país, como Amazônia e Sudeste, cada vez mais secas. Além disso, o crescimento de florestas "sequestra" carbono, que as plantas usam para formar seus troncos, retirando da atmosfera parte dos chamados gases de efeito estufa emitidos por automóveis e indústrias.
Trata-se de portanto de um investimento com resultados mais positivos do que os mesmos R$ 52 bilhões jogados fora pelo governo federal em incentivos fiscais sem contrapartidas para indústrias, inclusive a automobilística. O cálculo que Dilma pediu foi feito. Agora, como sugere o nome do instituto, cabe ao governo fazer a escolha certa.

GOVERNO ADOTA POLÍTICA BANCÁRIA DE JUROS ALTOS



Não seja enganado pelos juros

José Antônio Bicalho 



Vai tomar crédito ou possui dívidas? Recomendo, então, dar uma olhada na pesquisa de juros do Instituto de Pesquisa Econômica e Administrativa (Ipead/UFMG). A apresentação da pesquisa é muito simples e de entendimento imediato. Está dividida por setores e por pessoa física e jurídica. E apresenta a maior e a menor taxa encontrada no mercado de Belo Horizonte e o juro médio praticado.
Para que serve a pesquisa? Para que, ao comprar um bem a prestação ou tomar um empréstimo, você saiba se está contratando um juro acima ou abaixo da média do mercado. E o mesmo vale para as dívidas antigas, para se saber se os juros contratados estão dentro da realidade atual de mercado. Ou seja, é uma ferramenta para ordenação financeira e para negociação com quem oferece crédito, seja o banco, a construtora, a concessionária de veículos ou a loja de eletrodomésticos.
Pela última pesquisa, referente a maio, ficamos sabendo, por exemplo, que o maior juro praticado atualmente é o do uso do cartão de crédito rotativo. O maior juro encontrado é de 18,02% e o menor de 15,28%. Já o juro do cartão de crédito parcelado vai de 4,90 até 11,43%.
São taxas absolutamente absurdas. Em qualquer país do mundo já seriam absurdas se fossem cobradas anualmente, mas no Brasil são juros mensais. Mas o juro do parcelamento é bem menor que o do rotativo. Caso você não tenha conseguido pagar integralmente a fatura do cartão, então verifique imediatamente a taxa que está pagando e faça as contas. É provável que em muito pouco tempo você já esteja acumulando uma dívida impagável.
Vamos fazer uma continha simples. Suponhamos que um cliente de cartão de crédito não tenha conseguido pagar R$ 1 mil de sua fatura e tenha entrado no crédito rotativo. E que por azar esteja nas mãos do banco e da operadora que cobram o juro mais caro. Lançando juro sobre juro, a dívida mais que dobrará em apenas cinco meses, passando para R$ 2.287. Em sete meses, terá sido triplicada, para R$ 3.185. Quadruplicará em nove, para R$ 4.435. E em doze meses terá chegado ao absurdo de R$ 7.287. Ou seja, mil reais terá sido multiplicado por sete em apenas um ano.
Então, ao invés de pagar 18% ao mês no rotativo, que tal trocar essa dívida por outra com juro de, digamos, 1,94% ao mês? Esse é o menor juro de crédito pessoal encontrado pela pesquisa do Ipead, mas só vale para o crédito consignado para funcionários públicos. Já o menor juro para o consignado privado é de 2,45%.
Então, se estiver em dívida com o banco, qualquer que seja ela, use a pesquisa para encontrar um crédito alternativo que seja mais barato e para negociar com seu gerente. Se não for feliz na negociação, troque de banco. Por lei, é garantido a todos os cidadãos a portabilidade dos créditos tomados no mercado financeiro.
Agora, se seu caso for a intenção de comprar casa, carro ou bem durável  financiado, na pesquisa também estão todos os juros maiores, menores e médio cobrados por categoria. A pesquisa mostra, por exemplo, que o menor juro encontrado no setor imobiliário, de 0,13%, vale tanto para apartamento comprado na planta quanto para imóvel já construído. Então, se não houver um bom desconto no preço do imóvel, não existirá vantagem em se comprar um apartamento na planta.
É evidente que na hora de negociar um bem como um imóvel ou um carro, não são apenas os juros que determinam a compra. Mas, pelas absurdas taxas cobradas no Brasil eles são muito relevantes. Faça as contas, compare e exija pagar o mínimo ou algo muito próximo do mínimo. E sempre abaixo da média de mercado. A pesquisa é aberta e está no site da Fundação Ipead.


DE VOLTA AO SUS E À EDUCAÇÃO PÚBLICA DE MÁ QUALIDADE



Sem saída, classe média troca escola e encara o SUS

Raul Mariano 



APERTO FINANCEIRO – Depois de 11 anos como titular de um plano de saúde, a cineasta Carem Abreu migrou para o SUS

O aumento de despesas típicas da classe média em níveis superiores à inflação somado ao crescimento dos índices de desemprego estão levando milhares de pessoas a abandonarem os serviços privados de saúde e educação e migrarem de volta para os serviços públicos em Belo Horizonte.
No acumulado de janeiro de 2012 a maio de 2016, as mensalidades escolares do ensino infantil subiram 91%. No mesmo período, a elevação da inflação foi de 41,7%, conforme dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead). A consequência, segundo especialistas, é o êxodo de famílias de volta aos serviços gratuitos.

No caso dos planos de saúde, a alta foi de 36,28% no mesmo período. Um percentual menor que a inflação, mas que não impediu o abandono dos serviços privados de saúde. Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) revelam que, em Minas, o número de usuários de planos de saúde teve uma redução de 215.223 pessoas entre março de 2015 e março de 2016.

A cineasta Carem Abreu precisou deixar o plano de saúde depois de 11 anos utilizando o serviço privado. “O modelo de negócios do setor audiovisual é todo baseado em leis de incentivo. Este ano recebi apenas em junho repasses que deveriam ter sido feitos em março. Isso me levou a abandonar o plano de saúde e acabei descobrindo que o atendimento público em Belo Horizonte tem sido melhor do que o particular”, relata.

O luthier Paulo Penteado também foi obrigado a rever os gastos com o plano de saúde que pagava para a família de quatro pessoas.

“Eu pagava um plano que estava passando dos R$ 800 por mês e acabou ficando inviável. Estou em fase de troca e agora devo adotar um plano familiar que custa um pouco mais de R$ 600. Continua não sendo barato, mas se adequa a meu orçamento”, explica Penteado.

Educação

O mesmo movimento foi observado nas escolas particulares, que tiveram uma diminuição de 7% no número de alunos no último ano. O percentual equivale a cerca de 80 mil estudantes migrando para o ensino público, segundo o presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), Emiro Barbini.

“Tivemos um aumento recente de impostos, como o ISSQN, em cerca de 50%. Sem falar no aumento do preço da água, luz, transporte e produtos de limpeza. Tudo que a escola usa aumentou. Na educação infantil, há um agravante porque temos que funcionar com um número reduzido de alunos pois, quanto menor a idade, maior a atenção demandada”, justifica Barbini.

Para o presidente, a impossibilidade de manter o reajuste das mensalidades abaixo da inflação tem custado caro às escolas particulares no Estado.
“Temos uma inadim-plência cada vez mais alta e uma migração para as escolas públicas que seriam impedidas se tivéssemos uma saúde financeira melhor”, destaca.
“O Brasil chegou a ter uma indústria incipiente de equipamentos hospitalares, que acabou sendo destruída pela abertura comercial. Então há uma tendência natural de elevação dos custos da saúde,
já que a maioria dos equipamentos precisa
ser importada”

Cláudio Gontijo - Economista

Queda da demanda por serviços é recorrente durante crises
A debandada de usuários de planos de saúde rumo ao SUS, bem como a de estudantes deixando as escolas particulares e indo para escolas públicas já aconteceu em outras crises, segundo o professor de economia da UFMG Cláudio Gontijo.

Ele explica que no início da década de 1980, quando a economia brasileira viveu um período de recessão, o mesmo movimento foi observado. “A tendência agora é que o problema seja mais acentuado. Os Estados e municípios estão com a corda no pescoço devido à queda nas transferências de recursos da União, queda de arrecadação e a mordaça da lei de responsabilidade”, observa o professor.

Com a implantação do programa do governo interino de Michel Temer, avalia Gontijo, medidas em prol do ajuste fiscal, como a reforma previdenciária, podem tornar a situação da saúde pública ainda mais delicada. “Com a possível desindexação entre o piso dos aposentados e o salário mínimo , a demanda pelos serviços públicos de saúde pode crescer ainda mais”.



PROCESSO RECESSIVO DA ECONOMIA BRASILEIRA



Nova década perdida?

Paulo Haddad 



Já existem cenários robustos elaborados por especialistas nacionais e internacionais que, à semelhança do que ocorreu nos anos 1980, sinalizam a chegada de mais uma década perdida no processo de desenvolvimento brasileiro. O indicador mais relevante desses cenários mostra que o PIB per capita dos brasileiros em 2020 poderá ser quase igual ao seu PIB per capita de 2010, um contexto típico de estagnação ou de retrocesso econômico decenal.
Sabemos que cenários não são projeções econômicas, mas mapas de possibilidades de que eventos relevantes poderão ocorrer, mas sem que se possa precisar quando e como poderão ocorrer com maior grau de probabilidade. Cenários são particularmente úteis para contextos de rápidas mudanças. Isto porque quando um sistema experimenta uma profunda descontinuidade no seu comportamento podem ocorrer mudanças abruptas e potencialmente catastróficas. Os exemplos tradicionais são as corridas aos bancos em função de uma crise financeira ou o colapso de grandes camadas de gelo em função das mudanças climáticas. São pontos críticos de descontinuidades ou de irreversibilidades com grandes transformações nas trajetórias de evolução de eventos estruturais (tipping points).
Contudo, não precisamos recorrer a futuros caóticos para mostrar as chances de que os anos 2010 poderão entrar na história econômica e social do país como uma década perdida para o nosso progresso e bem-estar da população. Futuros caóticos são alguns eventos altamente ou totalmente imprevisíveis e incontroláveis como, por exemplo, a economia mundial passar, nos próximos anos, de um crescimento lento para uma profunda recessão com impactos adversos sobre nossas exportações, financiamentos externos e crescimento.
Na verdade, podemos considerar o futuro como uma extensão ou projeção do passado recente quando há restrições e condicionalidades dominantes na configuração do que pode ocorrer com as principais variáveis macroeconômicas nos próximos anos. O crescimento médio da economia brasileira no primeiro mandato de Dilma Rousseff, de 2011 a 2014, foi de 2,2% ao ano. Entre os presidentes que governaram o país desde 1985, a maior média anual foi do mandato de Itamar Franco quando o PIB cresceu 5,4% ao ano.

As taxas de crescimento de 2016 e 2017 serão sensivelmente negativas como a de 2015, que foi negativa em 3,8%. É provável que, no início da nova administração do Governo Federal pós-eleições de 2018, tenhamos um biênio de baixo crescimento por causa das defasagens intertemporais das eventuais reformas econômicas e político-institucionais que deverão ocorrer. Essas defasagens correspondem ao tempo econômico e ao tempo político-administrativo necessários para que expectativas, aspirações e correções de distorções passadas possam vingar.
Usualmente, os economistas têm se equivocado nos resultados de seus cenários sobre o futuro da economia. Entretanto, esses equívocos se atenuam quando o julgamento informado pela experiência profissional gera resultados previsíveis, mesmo que não sejam facilmente antecipados ou calculáveis. Principalmente quando se observa a incapacidade política dos governantes em realizar uma gestão eficaz dos conflitos de interesses entre grupos e classes sociais numa economia que se derrete em um processo recessivo e que corre o risco de caminhar para uma profunda depressão até 2018.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...