José Antônio Bicalho
Algo mais se perdeu com o acidente da
Samarco além das vidas humanas, da vila histórica de Bento Rodrigues e do Rio
Doce. Com o rompimento da barragem de rejeitos, também se perdeu a confiança
dos brasileiros no comportamento ético das grandes empresas e na
sustentabilidade de um sistema econômico baseado na livre iniciativa.
Essa confiança já havia sido duramente abalada pelos escândalos na Petrobras. Ali descobriu-se que as maiores construtoras do país agiam como máfia, protegendo mercado por meio de persuasão, proximidade e troca de favores com o governo. O negócio principal passou da engenharia para a política (no sentido mais baixo que a palavra possa ter). Passou a ser lobby e alianças, manipulação de regras e divisão de mercado.
Mas a Petrobras é uma empresa estatal, com diretoria loteada entre partidos políticos. Alguns poderiam arguir que todo o mal é fruto do contágio de um sistema político corrupto. Porém, a Petrobras é também uma empresa de capital aberto, a maior da Bovespa e do país, submetida a um Conselho de Administração, a auditorias financeiras e operacionais e a regras de governança do mercado financeiro.
Em todo caso, não se pode negar que a tragédia causada pela Samarco é quase o oposto do que aconteceu na Petrobras. Não quero fazer paralelo entre um e outro caso, mas sim mostrar que os dois se somaram na destruição da reputação das grandes corporações junto aos brasileiros.
Nos últimos anos, enquanto na Petrobras se montava um esquema sofisticado de manipulação de mercado e roubo, a Samarco era apontada como exemplo de princípios e eficiência. Entrevistei algumas vezes o presidente da empresa, Ricardo Vescovi, de quem tive ótima impressão pela sinceridade com que defendia um diálogo pautado pela ética e transparência com os diversos públicos de relacionamento, das comunidades do entorno aos políticos que fazem as leis e regulamentos do setor mineral.
De fato, a Samarco não fazia doações a políticos. Até então, apresentava números invejáveis de acidentes. A recente implantação da terceira linha de seu mineroduto (que liga Mariana a Ubu) e da quarta pelotizadora não registrou nenhum acidente fatal ou de grande gravidade, apesar de trabalharem quase 15 mil operários no pico das obras.
Seu custo por tonelada colocada no porto estava entre os mais baixos do mundo, o que comprovava a eficiência da operação. No ano passado, aumentou faturamento e lucro, enquanto praticamente todas as mineradoras do mundo perderam receita e rentabilidade, inclusive suas donas Vale e BHP Billiton.
O fato é que o rompimento da barragem mostrou que essa empresa exemplar foi terrivelmente negligente. Mesmo que ainda não se saiba as causas do acidente, engenheiros especialistas com os quais conversei nas últimas semanas foram unânimes em dizer que uma barragem não se rompe sem que vários erros técnicos e de operação se acumulem. “Não rompe da noite para o dia, ela dá sinais”, me disse um deles.
Dessa forma, sendo evitável, o rompimento da barragem quebra a confiança das pessoas comuns com as empresas que pareçam boas e responsáveis. Quem ganhará com essa quebra de confiança? Os políticos populistas, de direita e de esquerda, que fazem carreira demonizando as grandes corporações e propondo sistemas de regulação absurdos, burocráticos, pouco eficientes e inexequíveis. Quem perde? Todos nós, mas principalmente os poucos empresários que acreditavam na construção de uma economia de mercado baseada na ética. O fato é que demos um enorme passo para trás.
Essa confiança já havia sido duramente abalada pelos escândalos na Petrobras. Ali descobriu-se que as maiores construtoras do país agiam como máfia, protegendo mercado por meio de persuasão, proximidade e troca de favores com o governo. O negócio principal passou da engenharia para a política (no sentido mais baixo que a palavra possa ter). Passou a ser lobby e alianças, manipulação de regras e divisão de mercado.
Mas a Petrobras é uma empresa estatal, com diretoria loteada entre partidos políticos. Alguns poderiam arguir que todo o mal é fruto do contágio de um sistema político corrupto. Porém, a Petrobras é também uma empresa de capital aberto, a maior da Bovespa e do país, submetida a um Conselho de Administração, a auditorias financeiras e operacionais e a regras de governança do mercado financeiro.
Em todo caso, não se pode negar que a tragédia causada pela Samarco é quase o oposto do que aconteceu na Petrobras. Não quero fazer paralelo entre um e outro caso, mas sim mostrar que os dois se somaram na destruição da reputação das grandes corporações junto aos brasileiros.
Nos últimos anos, enquanto na Petrobras se montava um esquema sofisticado de manipulação de mercado e roubo, a Samarco era apontada como exemplo de princípios e eficiência. Entrevistei algumas vezes o presidente da empresa, Ricardo Vescovi, de quem tive ótima impressão pela sinceridade com que defendia um diálogo pautado pela ética e transparência com os diversos públicos de relacionamento, das comunidades do entorno aos políticos que fazem as leis e regulamentos do setor mineral.
De fato, a Samarco não fazia doações a políticos. Até então, apresentava números invejáveis de acidentes. A recente implantação da terceira linha de seu mineroduto (que liga Mariana a Ubu) e da quarta pelotizadora não registrou nenhum acidente fatal ou de grande gravidade, apesar de trabalharem quase 15 mil operários no pico das obras.
Seu custo por tonelada colocada no porto estava entre os mais baixos do mundo, o que comprovava a eficiência da operação. No ano passado, aumentou faturamento e lucro, enquanto praticamente todas as mineradoras do mundo perderam receita e rentabilidade, inclusive suas donas Vale e BHP Billiton.
O fato é que o rompimento da barragem mostrou que essa empresa exemplar foi terrivelmente negligente. Mesmo que ainda não se saiba as causas do acidente, engenheiros especialistas com os quais conversei nas últimas semanas foram unânimes em dizer que uma barragem não se rompe sem que vários erros técnicos e de operação se acumulem. “Não rompe da noite para o dia, ela dá sinais”, me disse um deles.
Dessa forma, sendo evitável, o rompimento da barragem quebra a confiança das pessoas comuns com as empresas que pareçam boas e responsáveis. Quem ganhará com essa quebra de confiança? Os políticos populistas, de direita e de esquerda, que fazem carreira demonizando as grandes corporações e propondo sistemas de regulação absurdos, burocráticos, pouco eficientes e inexequíveis. Quem perde? Todos nós, mas principalmente os poucos empresários que acreditavam na construção de uma economia de mercado baseada na ética. O fato é que demos um enorme passo para trás.




