Amália Goulart
Um eventual processo de impeachment da
presidente Dilma Rousseff (PT) será analisado pelo Senado, não pela Câmara.
Os deputados decidirão pela abertura
ou não do processo, na análise do pedido de impedimento feito pelo jurista
Hélio Bicudo, ex-petista, à Câmara. A base da proposta são as pedaladas que
propiciaram a rejeição das contas presidenciais. Mas será o Senado o
responsável pelo procedimento, caso ele se concretize.
Já sabendo do poder do Senado, presidido por Renan Calheiros (PMDB), o governo
começou a trabalhar para ter uma base que rejeite o eventual impeachment. No
tabuleiro político, Renan passou a valer mais que o raivoso e quase abatido
Eduardo Cunha (PMDB).
Vamos aos fatos
Começa amanhã o que pode se
transformar na formatação do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Como
adiantei na coluna do dia 21 de setembro último, a oposição, em conluio com o
presidente da Câmara Eduardo Cunha, espera a análise do pedido de impedimento
feito pelo jurista Hélio Bicudo.
O acordo dos oposicionistas com Cunha
é para que ele arquive o pedido. Mas o presidente da Câmara pode surpreender e
aceitar a proposta de Bicudo. Esse é o rumor que fechou a sessão plenária da
última quinta-feira e que está em análise desde então.
A estratégia da oposição é ter maioria
para derrubar Dilma e não deixar que Cunha arque sozinho com o ônus. Por isso,
o arquivamento seria útil.
Com ele, a oposição entraria com
recurso no plenário. Ele seria apreciado na quarta-feira, dia 21. Se a maioria
dos presentes na sessão votarem favoráveis, abre-se o caminho para o processo
de impeachment. <EM>
Revés
Mas, caso Cunha decida acatar o pedido
de Bicudo, seria instalada uma comissão especial que produziria um relatório. A
comissão teria 15 dias para analisar a proposta e seria composta por
integrantes de todos os partidos com representação.
Se o parecer for pela admissão do
pedido, é marcada uma sessão para votar a possível abertura de um processo de
impeachment.
Para que seja aberto o processo,
precisaria do voto de dois terços da Câmara, ou 342 dos 513 deputados.
Se o processo for aberto, a presidente é afastada por 60 dias, período em que
será julgado o impeachment. Assume o cargo o vice-presidente Michel Temer
(PMDB). Caberá ao Senado, e não à Câmara, analisar o processo de impedimento.
Daí, o poder de Renan Calheiros.
Em tempo: governistas foram instruídos
a questionar, regimentalmente, todas as etapas citadas acima, com fulcro de
adiar o processo.
Ele fica?
Para colocar mais lenha na fogueira, o
presidente da Câmara não vive lá um de seus melhores momentos. Pelo contrário.
Com as complicações advindas da conta
na Suíça, Cunha certamente terá os atos à frente da presidência questionados
pelos governistas. E a oposição seria acusada pelo governo de golpe, sob o
argumento de unir-se àquele que sofre graves acusações em troca de colocar em
pauta o impeachment presidencial.