segunda-feira, 12 de outubro de 2015

AJUSTE FISCAL = AUMENTO DE IMPOSTOS



  

Paulo Haddad



Quando se intervém na economia de forma intensa visando a atingir um objetivo meritório, é preciso estar prevenido sobre a possibilidade de se provocar grandes perdas e danos sociais. Muitas vezes, os custos sociais da intervenção podem ser inesperados ou imprevistos. Mas, na maioria das vezes, esses podem ser previsíveis e estimados quantitativamente através de modelos de projeção. Como é o caso do ajuste fiscal que está sendo implementado no Brasil dentro de uma arquitetura analítica amplamente conhecida por experiências históricas realizadas em diversos países, inclusive no Brasil num passado recente.
É evidente que se o ajuste é bem-sucedido, os benefícios sociais são imensos. A economia ganha maior estabilidade. Elimina-se o imposto inflacionário que deteriora o poder de compra dos assalariados. Cria-se um ambiente de confiança entre consumidores e empresários que pode estimular a expansão da demanda agregada e reativar a economia. O campo de oportunidades para a população pode se ampliar. Mas nem sempre isto acontece. Nesse ca</CW>so, prevalecem os custos sociais do ajuste malsucedido.
Destaca-se, em primeiro lugar, a elevação da taxa de desemprego que, no caso brasileiro, já se aproxima de dez milhões de trabalhadores que estavam inseridos nos mercados formais urbanos. Esse número tende a crescer à medida que a recessão deve se aprofundar pelo menos até o primeiro semestre do ano que vem. Quem já viveu a experiência de ruptura de suas condições gerais de vida ao ser desempregado conhece a eventual realidade de ocorrer uma desestruturação da sua família, a perda da sua autoestima, o estresse psíquico e emocional e, principalmente, o desalento em relação à construção de projetos futuros.
Em segundo lugar, destaca-se a questão das desigualdades sociais. Estudos do IPEA com base em dados das declarações do imposto de renda das pessoas físicas entre 2008 e 2014 mostram que somos uma das sociedades mais desiguais do mundo. Os números são evidentes: 0,3% dos declarantes concentra 14% da renda total do Brasil e 22,7% de toda a riqueza declarada em bens e ativos financeiros. Trata-se do topo da pirâmide social com apenas 71.440 pessoas ou 0,05% da população economicamente ativa.
Grande parte dessa concentração de renda e de riqueza é resultante da intervenção de políticas públicas concebidas e implementadas num contexto histórico em que prevalece uma concentração de poder político. Nesse contexto, segmentos não organizados e mais empobrecidos da sociedade civil muitas vezes não encontram espaço de expressão, de interlocução e de participação para viabilizar programas e projetos de interesse coletivo. E a desigualdade enfraquece a demanda agregada e a retomada do crescimento da economia ao reduzir relativamente a renda daqueles que têm maior propensão a consumir.
O principal custo social, entretanto, é o desbalanceamento entre benefícios incertos e improváveis a serem realizados num futuro indefinido pela austeridade fiscal e a dura realidade, concreta e efetiva, dos custos sociais do desemprego e das desigualdades em expansão. Nessa trajetória, um ajuste que produz somente custos para a sociedade leva o governo federal a se tornar um semeador de incertezas econômicas, de tensões políticas e de dramas sociais.

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