domingo, 26 de julho de 2015

MUITA PROMESSA E NENHUMA AÇÃO



  

Ricardo Galuppo


Acabou. Lamentavelmente acabou de forma melancólica a esperança de que o Brasil pudesse levar a sério a promessa do governo de buscar um pouco de ordem à economia. O rascunho de credibilidade que Joaquim Levy tentou traçar nos primeiros momentos de sua gestão no Ministério da Fazenda desapareceu na quarta-feira passada, com o anúncio da redução da meta fiscal de R$ 66 bilhões para acanhados R$ 8,7 bilhões. Ficou comprovado, naquele momento, que o amadorismo na condução da economia visto nos quatro anos iniciais do governo Dilma Rousseff sobrevive no segundo mandato e que a equipe econômica liderada por Levy e Nelson Barbosa tem uma competência equivalente à daquela comandada por Guido Mantega e Mirian Belchior. Moral da história: tempos tenebrosos aguardam o país.

O grande problema que envolve o anúncio não é a medida propriamente dita, mas as razões que estão por trás da redução da meta fiscal. Três merecem destaque. A primeira delas é, talvez, a mais reveladora: a promessa de se economizar R$ 66 bilhões este ano foi feita sem que a equipe econômica estivesse a par da situação real das contas públicas. Foi, portanto, uma promessa politiqueira e irresponsável, feita com a intenção de acalmar os ânimos da sociedade às vésperas da segunda posse de Dilma Rousseff.

Ritmo despudorado

A segunda razão revela que, por mais que Levy tente vestir a fantasia de austero, ele se mostra, na prática, tão leviano quanto seu antecessor. Sim: a promessa de economia do primeiro momento baseava-se na expectativa de aumento da arrecadação e não na contenção das despesas, que vêm aumentando num ritmo despudorado desde os tempos do governo Lula. Um cálculo da RC Consultores, do economista Paulo Rabello de Castro, revela que os gastos não financeiros do governo tiveram uma expansão real de 11,5% na comparação com o primeiro semestre do ano passado. Como a economia está paralisada e o Planalto vê a cada dia diminuir sua capacidade de tungar a classe média para conseguir os recursos necessários para cobrir seus gastos, a solução foi avisar antes que não será possível cumprir a promessa. E que, talvez, nem dê para economizar os R$ 8,7 bilhões prometidos agora.

Imposto inflacionário

A terceira razão mostra que o governo, em lugar de pensar no futuro do país, parece mais interessado em salvar o próprio pescoço e promover uma farra com as forças que lhe restam para, quem sabe, cruzar a linha de chegada em 2018. E para não passar recibo da própria inépcia, o governo conta com a ajuda de sua base no Congresso, um jogo de cena para dizer que a medida anunciada na quarta-feira foi tomada para não comprometer os “programas sociais” em curso. Se estivesse minimamente interessado no bem-estar da sociedade, sobretudo daquela parte que está na base da pirâmide, o governo não estaria tomando medidas que terão como consequência o descontrole total sobre a inflação. Esse sim, o maior castigo que uma sociedade pode receber.

CORRUPÇÃO INTERNA E EXTERNA



  

Stefan Salej


A evolução da engenharia brasileira é fantástica e o país, em um determinado momento, era capaz de produzir praticamente todos os bens industriais e construir todas as obras de infraestrutura. E quando não sabia, as empresas se associavam com congêneres estrangeiras e traziam a tecnologia. Em seguida, absorviam essa tecnologia e desenvolviam inovações. Um ciclo virtuoso que permitiu ao país avançar muito em todos os campos que têm por base o conhecimento técnico.

A imensa necessidade do país de construir obras de infra-estrutura também gerou, com o respectivo conhecimento técnico, empresas capazes de realizarem esses projetos. E assim nasceram e viveram felizes por muitos anos, atravessando muitos governos e sobrevivendo a regimes e políticos, empresas que popularmente chamamos de empreiteiras. E elas adquiriram, além dos conhecimentos de engenharia, também os conhecimentos ou a tecnologia de fazer negócios com políticos, empresas e entidades públicas e outros contratantes. Tornaram-se grandes no exercício de suas atividades na área de tecnologia e de influência política, como financiadores dos políticos. Essa trajetória esteve várias vezes em evidência e, mais recentemente, está aqui à nossa frente, sob o sugestivo nome de operação “Lava Jato”.

Orgulho nacional

Durante muitos anos essas empresas estiveram limitadas aos negócios no Brasil. Dominavam o mercado nacional, raríssimas vezes penetrado por congêneres estrangeiras, como foi a construção da Usina de São Simão, quando entraram os italianos como parte do acordo para a Fiat instalar-se em Minas, e devagar foram para o exterior. Com o mesmo pacote tecnológico que usavam no Brasil: excelente engenharia e ainda melhor tecnologia de fazer negócios. Envolveram nesse pacote os financiamentos do BNDES e até empresas estatais, como a Eletrobrás, em época mais recente. E lá foi pelo mundo afora o nosso orgulho nacional, vendendo de tudo e comprando a todos. O mesmo modelo, a mesma gente, só que os corrompidos eram outros.

Modelo de negócios

E agora, que a água transbordou nessa “Lava Jato”, os negócios no exterior também começam ser investigados. A questão é quanto tempo vai demorar e quanto alguns ditadores que faziam parte dos esquemas vão querer descobrir. Mas o fato é que se não mudarem o modelo de negócios, não haverá mais mercado no exterior. Todos têm medo de trabalhar com quem está sendo julgado. E Minas, que tem empresas com muita engenharia, vai perder ainda mais mercados e mais empregos se a tecnologia de fazer negócios não mudar. E olha que fomos pioneiros em fazer obras no exterior. Lembra da Mauritânia, do Iraque? Outros tempos, outras empresas. Outras pessoas.

sábado, 25 de julho de 2015

A CASA CAIU



  

Orion Teixeira



A renovação da prisão preventiva e a denúncia formal, feita ontem pelo Ministério Público Federal, contra as direções das duas maiores empresas do país, que também foram, ao longo dos anos, os principais financiadores da política, colocam em xeque não somente a eleição e reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), mas toda a República brasileira. Os procuradores federais ofereceram, ontem, a denúncia, e a sustentam em provas, de que a Odebrecht e a Andrade Gutierrez faziam parte de um cartel que combinava o resultado de licitações na Petrobras e pagava propina sobre os contratos.

Se o juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato, aceitar a denúncia, os executivos passam a ser considerados réus, entre eles os antes superpoderosos Marcelo Odebrecht (presidente) e Otávio Azevedo (Andrade Gutierrez). Com isso, a cada dia que passa, a República vai ruindo e todo o sistema que a financiava e sustentava. Onde é que isso vai parar?

Além dessa constatação, outra é necessária. A exemplo do que aconteceu no processo do mensalão (2005/2013), só estão sendo presos os executivos e empresários, que ganharam bilhões em contratos com estatais, mas os grandes beneficiários do esquemão, os políticos, ainda estão soltos. No caso do mensalão, depois das espetaculosas prisões dos ex-dirigentes do PT (José Dirceu, entre eles), só estão presos o núcleo financeiro (Banco Rural) e o núcleo publicitário (Marcos Valério à frente). Os políticos já ganharam a liberdade, quando não progrediram do regime semiaberto para prisões domiciliares.

Mais uma vez, agora, no esquema de desvios da Petrobras, a investigação chega perigosamente perto dos políticos. Porém, o processo emperra nas instâncias superiores (STF e STJ), onde os políticos se beneficiam do foro privilegiado. Em outro movimento, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), rompe, de maneira inédita, com governo Dilma. No terceiro lance, o ex-presidente Lula (PT) tenta aproximação com o ex-presidente Fernando Henrique (PSDB), rivais históricos, e, apesar das negativas, a própria presidente Dilma formaliza a intenção de conversar com os tucanos, com quem vive às turras.

“Pacto da governabilidade”

Tudo somado, o que está em jogo é mais do que mandato da presidente, mas todo o sistema que sustentou a ela e aos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique e antecessores, com reprodução semelhante e proporcional aos governadores e prefeituras.

Por isso, Dilma busca, agora, de maneira tardia, o que deveria ter sido sua prioridade desde o início para não ficar refém de forças menos republicanas. O “pacto de governabilidade” pode ser a última cartada da presidente depois que sua base aliada foi desmontada pelo mesmo PMDB que a salvou no mandato passado e após o fracasso de sua nova política econômica. Além de contrariar o receituário social-petista, o ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy (Fazenda) fez água a seis meses do fim do ano. Se era para equilibrar as contas, a constatação hoje é que o país ficará no vermelho.

As conversas com a oposição deverão ser positivas e podem até estar sendo feitas porque o desmonte, de novo, se aproxima, perigosamente, dos políticos.

SE NÃO HOUVESSE DELAÇÃO PREMIADA...



Lava Jato vai muito além da delação premiada

Josias de Souza



Denunciados: Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, e Marcelo Odebrecht, da Norberto Odebrecht
Arrastada para o epicentro da Operação Lava Jato pelo delator Paulo Roberto Costa, a Odebrecht especializou-se na emissão de notas imperiais. Em outubro de 2014, o presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, deitou sobre o papel o seguinte: “Neste cenário nada democrático, fala-se o que se quer, sem as devidas comprovações, e alguns veículos da mídia acabam por apoiar o vazamento de informação protegida por lei, tratando como verdadeira a eventual denúncia vazia de um criminoso confesso, que é 'premiado' por denunciar a maior quantidade possível de empresas e pessoas.''
Nesta sexta-feira, os procuradores da Lava Jato vieram à boca do palco para informar que os imperadores da Odebrecht e da Andrade Gutierrez foram denunciados à Justiça. Entre eles os presidentes das duas empreiteiras: Marcelo Odebrecht e Otávio de Azevedo. Para desassossego dos redatores de notas oficiais, as provas pareceram abundantes e densas. A Procuradoria da República cobra das das maiores empreiteiras do país um ressarcimento de R$ 7,2 bilhões.
Valendo-se das delações, a Lava Jato refez o caminho da propina de trás para a frente. Partindo das sardinhas da Petrobras, os investigadores chegaram aos tubarões que frequentam o topo da cadeia alimentar da corrupção. Com a ajuda de autoridades estrangeiras, mapearam-se logomarcas e contas bancárias. Coisa sofisticada, feita para não ser descoberta.
Informações recebidas da Suíça serviram de matéria-prima para que o juiz Sérgio Moro decretasse a prisão de Marcelo Odebrecht e seus executivos pela segunda vez. Estão em cana desde 19 de junho. E permanecerão atrás das grades por tempo indeterminado.
O brasileiro já está autorizado a apertar o botão do otimismo. As jazidas de lama descobertas nos subterrâneos da Petrobras podem resultar em consequências benignas. Sobretudo se as provas reunidas contra os agentes políticos forem igualmente sólidas.
Com sorte, a corrupção brasileira, de proporções amazônicas, pode ser bastante reduzida. Com muita sorte, os governos de Lula e Dilma Rousseff podem ser os últimos a escorar a governabilidade em alianças partidárias podres, baseadas no roubo e na desfaçatez.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...