Orion Teixeira
A renovação da prisão preventiva e a
denúncia formal, feita ontem pelo Ministério Público Federal, contra as
direções das duas maiores empresas do país, que também foram, ao longo dos
anos, os principais financiadores da política, colocam em xeque não somente a
eleição e reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), mas toda a República
brasileira. Os procuradores federais ofereceram, ontem, a denúncia, e a
sustentam em provas, de que a Odebrecht e a Andrade Gutierrez faziam parte de
um cartel que combinava o resultado de licitações na Petrobras e pagava propina
sobre os contratos.
Se o juiz federal Sergio Moro,
responsável pelos processos da Lava Jato, aceitar a denúncia, os executivos
passam a ser considerados réus, entre eles os antes superpoderosos Marcelo
Odebrecht (presidente) e Otávio Azevedo (Andrade Gutierrez). Com isso, a cada
dia que passa, a República vai ruindo e todo o sistema que a financiava e
sustentava. Onde é que isso vai parar?
Além dessa constatação, outra é
necessária. A exemplo do que aconteceu no processo do mensalão (2005/2013), só
estão sendo presos os executivos e empresários, que ganharam bilhões em
contratos com estatais, mas os grandes beneficiários do esquemão, os políticos,
ainda estão soltos. No caso do mensalão, depois das espetaculosas prisões dos
ex-dirigentes do PT (José Dirceu, entre eles), só estão presos o núcleo
financeiro (Banco Rural) e o núcleo publicitário (Marcos Valério à frente). Os
políticos já ganharam a liberdade, quando não progrediram do regime semiaberto
para prisões domiciliares.
Mais uma vez, agora, no esquema de
desvios da Petrobras, a investigação chega perigosamente perto dos políticos. Porém,
o processo emperra nas instâncias superiores (STF e STJ), onde os políticos se
beneficiam do foro privilegiado. Em outro movimento, o presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), rompe, de maneira inédita, com governo Dilma.
No terceiro lance, o ex-presidente Lula (PT) tenta aproximação com o
ex-presidente Fernando Henrique (PSDB), rivais históricos, e, apesar das
negativas, a própria presidente Dilma formaliza a intenção de conversar com os
tucanos, com quem vive às turras.
“Pacto da governabilidade”
Tudo somado, o que está em jogo é mais
do que mandato da presidente, mas todo o sistema que sustentou a ela e aos
ex-presidentes Lula e Fernando Henrique e antecessores, com reprodução
semelhante e proporcional aos governadores e prefeituras.
Por isso, Dilma busca, agora, de
maneira tardia, o que deveria ter sido sua prioridade desde o início para não
ficar refém de forças menos republicanas. O “pacto de governabilidade” pode ser
a última cartada da presidente depois que sua base aliada foi desmontada pelo
mesmo PMDB que a salvou no mandato passado e após o fracasso de sua nova
política econômica. Além de contrariar o receituário social-petista, o ajuste
fiscal do ministro Joaquim Levy (Fazenda) fez água a seis meses do fim do ano.
Se era para equilibrar as contas, a constatação hoje é que o país ficará no
vermelho.
As conversas com a oposição deverão
ser positivas e podem até estar sendo feitas porque o desmonte, de novo, se
aproxima, perigosamente, dos políticos.

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