Aristoteles Atheniense*
O recente pronunciamento de Lula, num
colóquio mantido com líderes religiosos, desaprovando a sua afilhada Dilma
Rousseff, que descumpriu as promessas feitas na campanha eleitoral, retrata não
só o descompasso surgido entre ambos, como reflete a crise que atingiu o
governo atual.
Na percepção do líder operário, o
gabinete presidencial “é uma desgraça. Não entra ninguém para contar notícia
boa”. Tomado de justa apreensão quanto ao desdobramento da crise política, o
ex-presidente indagou de sua sucessora: “Companheira, você lembra qual foi a
última notícia boa que demos ao país? Ela não lembrava”.
Nada mais compreensível e razoável,
pois é difícil lembrar daquilo que se tornou raro.
Em pesquisa realizada na região do ABC
paulista, berço do PT, os números conhecidos revelaram que o índice de
aprovação do Executivo é de 7%, enquanto que o de rejeição chegou a 75%.
Embora Dilma houvesse assumido o
compromisso eleitoral de “não mexer nos direitos dos trabalhadores”, nem
esperou o início do segundo mandato para aumentar os juros. De imediato,
impingiu uma alta na Selic, que saiu de 11% e foi para 11,25%. Outras três
elevações ocorreram de janeiro a abril, até chegarmos ao patamar de 13,25%, o
maior desde dezembro de 2008.
Além de aumentar a Selic, ainda elevou
os impostos, combustíveis, energia elétrica, promovendo cortes nos direitos
trabalhistas, gerando a recessão e o desemprego.
Foi em razão desse quadro alarmante,
sem perspectivas de recuperação, que Lula não hesitou em afirmar que o Brasil
conta, presentemente, “com um governo de mudos”. E nessa decepcionante
situação, colocou não só o PT, como ele próprio.
Ao mesmo tempo em que Lula chamou
Dilma aos brios, sobreveio a detenção dos presidentes das poderosas
empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, na décima quarta fase da operação
Lava Jato.
A nova investigação foi,
sintomaticamente, denominada de “erga omnes”, o que significa, para quem tem
conhecimento elementar de latim, “contra todos”. E por ser “contra todos”,
deverá atingir quem detinha a responsabilidade dos atos cometidos pelos
trapaceiros escolhidos para a Petrobras.
A esta altura, a cúpula do PT não
afasta a possibilidade de que o seu presidente de honra seja incluído no
processo investigatório em curso. Queixa-se de Dilma por não haver blindado o
seu criador, evitando que fosse arrastado ao descrédito público, valendo-se do
prestígio de seu cargo.
A insatisfação do PT envolve alguns
dos auxiliares diretos da presidente, sobretudo o ministro-chefe da Casa Civil,
Aloizio Mercadante, que não empresta ao escândalo da Petrobras a importância
que tem em termos de instabilidade constitucional e um futuro “impeachment”.
Embora o ministro José Eduardo Cardozo
simule indiferença ao resultado das pesquisas, sustentando que o Brasil está
vivendo um “momento específico que será revertido”, é flagrante o malogro de
todos os que reconduziram Dilma ao poder, diante das convulsões que estamos
enfrentando.
A partir do momento em que o
responsável pela ascensão de Dilma reconheceu que ela cometeu um autêntico
estelionato eleitoral, faltando à palavra empenhada junto aos seus eleitores,
não há como esperar por uma mudança de rumo no segundo semestre, como anunciou
o ministro Nelson Barbosa.
Usando da linguagem do povo, tão
sacrificado e descrente, essa possibilidade remota não passa de uma tentativa
de “tapar o sol com a peneira”.
* Advogado e conselheiro nato da OAB, diretor do
IAB e do IAMG, presidente da AMLJ