terça-feira, 21 de abril de 2015

MAGLEV - TREM JAPONÊS



Trem japonês de levitação magnética atinge velocidade recorde de 603 km/h
Teste foi realizado na manhã desta terça (21), horário local, em Yamanashi.
Trem bateu seu próprio recorde, de 590 km/h.

           



Um protótipo do futuro trem japonês de levitação magnética atingiu nesta terça-feira a velocidade recorde de 603 km/h (Foto: Kyodo/Reuters)

Um protótipo do futuro trem japonês de levitação magnética atingiu nesta terça-feira a velocidade recorde de 603 km/h, informou a Central Japan Railways.
"Esta velocidade de 603 km/h se manteve por 10,8 segundos" quando o trem atravessava um túnel, destacou o porta-voz da companhia, afirmando que trata-se de um recorde mundial.
O teste, com pessoas a bordo, foi realizado na manhã desta terça-feira, em uma linha especial de 42,8 km em Yamanashi, no centro do Japão, onde este "maglev" é desenvolvido há anos.
No teste, o trem pulverizou seu próprio recorde, de 590 km/h, percorrendo mais de 10 km por minuto ou 170 metros por segundo.
O objetivo do teste era comprovar a estabilidade deste meio de transporte inclusive a uma velocidade muito superior à prevista para o serviço comercial.
A Central Japan Railways constrói atualmente uma nova linha vinculada a este "linear Shinkansen", que deve entrar em funcionamento em 2027 entre Tóquio e Nagoya, no centro do país, circulando a 500 km/h para cobrir uma distância de 286 quilômetros em 40 minutos.
RIO - O Japão voltou a demonstrar sua liderança tecnológica nas viagens de transportes de alta velocidade após o seu trem de levitação magnética ter estabelecido um recorde mundial de mais de 600 km/h, apenas poucos dias depois de ele ter quebrado o seu recorde anterior de 12 anos de 581 km/h, chegando a 590 km/h.
O maglev - abreviação de “magnetic levitation” (levitação magnética, em tradução livre) - de sete vagões chegou a uma velocidade máxima de 603 kmh nesta terça-feira durante o que autoridades descreveram como um “confortável” zunido ao longo de uma pista de testes perto do Monte Fuji.
Ele funciona por meio de um sistema de levitação magnética que usa motores lineares instalados pertos dos trilhos. O campo magnético gerado faz com que o trem seja elevado até 10 centímetros acima da ferrovia e também o impulsiona, eliminando o contato, assim fazendo com que a única forma de atrito seja o ar.
Transportando 49 trabalhadores da Central Japonesa de Estrada de Ferro, o trem conseguiu fazer em quase 11 segundos a mais de 600 km/h sua jornada de 1,8km, informou a empresa.
“A viagem foi confortável e estável”, disse Yasukazu Endo, o chefe do Centro de Testes de Maglev, ao jornal “Asahi Shimbun”. “Nós gostaríamos de continuar analisando os dados e utilizá-los na concepção dos carros e outros equipamentos.”

CUSTO DE CONSTRUÇÃO
Enquanto passageiros querem já fazer uso da tecnologia, há preocupações sobre o enorme custo de construção da infraestrutura para um serviço de maglev comercial previsto para entrar em operação até 2027 entre Tóquio e a cidade central de Nagoya, em uma distância de 286 km.
O serviço comercial, que seria executado em uma velocidade máxima de 500 km/h, deve ligar as duas cidades em apenas 40 minutos.



Especialistas esperam que em 2045 os trens maglev façam o trajeto de 410 kmentre Tóquio e Osaka em apenas uma hora e sete minutos, reduzindo o tempo de viagem pela metade.
Mas estimativas colocam os custos de construção em quase US $ 100 bilhões (R $ 67bn) para o trecho Tóquio-Nagoya, com mais de 80% da rota prevista para passar por de túneis de montanha caros.
Apesar do preço salgado, o Japão espera vender sua tecnologia ferroviária de alta velocidade no exterior como parte de uma tentativa de reviver a terceira maior economia do mundo por meio de exportações de infraestrutura.
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segunda-feira, 20 de abril de 2015

O QUE VOCÊS ACHAM?



Projeto pretende transformar corpos humanos em adubo
The New York TimesCatrin Einhorn
Em Cullowhee (EUA)


Katrina Spade, fundadora do projeto, cobre corpo com folhas em unidade de pesquisa

O corpo da pequena mulher de 78 anos de idade, com cabelos grisalhos caindo sobre os ombros rígidos, foi levado para um morro na Universidade Western Carolina, ainda vestido com uma camisola azul de hospital e meias verde-limão. Ela foi colocada sobre uma cama de serragem e, em seguida, mais serragem foi empilhada sobre ela. Se tudo acontecer como se espera, o corpo vai se transformar em adubo.
Trata-se do próximo passo surpreendente no movimento pelo enterro natural. Embora cada vez mais pessoas optem pelo sepultamento em mortalhas simples ou caixões biodegradáveis, os cemitérios urbanos continuam se enchendo. Para aqueles que têm consciência ambiental, a cremação é uma opção problemática, uma vez que o processo libera gases de efeito estufa.
Armada com uma prestigiosa bolsa de estudos na área ambiental, Katrina Spade, 37 --residente de Seattle formada em arquitetura--, propôs uma alternativa: um local para a compostagem humana. A ideia é atrair o interesse de defensores do meio ambiente e cientistas. A mulher que foi enterrada na serragem é o primeiro passo para testar como isso funcionaria.
"A compostagem faz as pessoas pensarem em cascas de banana e borra de café", diz Spade. Mas "nossos corpos têm nutrientes. E se pudéssemos dar origem a novas vidas depois de morrermos?"
Os cientistas concordam que os seres humanos podem ser compostados. Inúmeras fazendas em todos os EUA --entre elas pelo menos um terço das fazendas leiteiras do Estado de Washington-- compostam os corpos de animais mortos. Em alguns Estados, o departamento de transportes composta animais atropelados nas estradas.
"Tenho certeza de que pode dar certo", diz Lynne Carpenter-Boggs, cientista do solo na Universidade Estadual de Washington que faz parte do conselho consultivo do Urban Death Project [Projeto Morte Urbana, em livre tradução], uma organização sem fins lucrativos fundada por Spade.

Processo
O processo é surpreendentemente simples: coloque material rico em nitrogênio, como animais mortos, dentro de uma montanha de material rico em carbono, como serragem e aparas de madeira, acrescente umidade ou mais nitrogênio e faça outros ajustes, conforme for necessário. A atividade microbiana começará a cozinhar a pilha.
As bactérias liberam enzimas que quebram o tecido em componentes menores como aminoácidos, e, eventualmente, as moléculas ricas em nitrogênio se ligam às ricas em carbono, criando uma substância parecida com o solo.
As temperaturas chegam a cerca de 60 graus Celsius --às vezes mais--, e o calor mata os patógenos comuns. Feito da maneira correta, não deve haver nenhum cheiro. Os ossos também compostam, embora levem mais tempo do que os outros tecidos.
Spade projetou um edifício para a compostagem humana que pretende juntar a eficiência desse processo biológico com o ritual e o simbolismo pelos quais anseiam as pessoas em luto. Cada instalação da Urban Death teria no centro um cofre de três andares que ela chama de "núcleo". Os entes queridos carregariam seu morto, enrolado em uma mortalha, por uma rampa circular até o topo.
Lá, durante uma cerimônia para "depositar o corpo", familiares e amigos colocariam o corpo dentro do núcleo, que poderia armazenar até 30 corpos ao mesmo tempo.
Nas semanas seguintes, cada corpo desceria pelo núcleo até completar a primeira etapa da compostagem. Numa segunda fase, o material seria analisado, junto com qualquer osso reminiscente, e o composto seria curado.
Spade estima que cada corpo, combinado com os materiais necessários como aparas de madeira e serragem, produzirá composto suficiente para encher um cubo de 90 centímetros por 90 centímetros de lado.
Semanas ou meses depois, os familiares poderiam coletar parte do composto para usar como quisessem, talvez no próprio jardim ou para plantar uma árvore. Spade prevê que o restante irá para parques próximos ou áreas de conservação. Cada compostagem humana custaria cerca de US$ 2.500, uma fração do enterro convencional, estima Spade.
Ela espera construir a primeira instalação em Seattle e depois desenvolver um modelo que outras comunidades possam usar em instalações projetadas localmente. "Como as bibliotecas", diz ela. Primeiro, entretanto, ela e seus apoiadores no Urban Death Project terão de superar uma série de obstáculos. Um deles, e não menos importante, é o fator "eca".

Repulsa
Muitos norte-americanos consideram repulsiva a ideia de compostar corpos humanos, uma violação das normas culturais e religiosas. Um crítico no site da Urban Death comentou: "Isso só pode ser piada. Se não, só há uma palavra para descrever suas atividades: DOENTIO". Outro internauta escreveu: "Uma pilha de corpos costuma ser chamada de 'vala comum'. Por favor, pare com isso".
Além disso, há barreiras jurídicas. As leis estaduais variam: nos últimos anos, vários Estados legalizaram a hidrólise alcalina, conhecida por alguns como cremação com água, em que os corpos são dissolvidos em uma mistura aquecida de água e soda cáustica. Mas, em muitos outros Estados, os corpos devem ser enterrados, sepultados em túmulos, cremado ou doados para a ciência.
Ainda existem dúvidas sobre como o adubo humano deveria ser usado. Certos patógenos, como os príons relacionados à doença da vaca louca, por exemplo, podem sobreviver à compostagem, e animais que morreram de certas doenças estão proibidos de serem compostados.
Alguns especialistas recomendam que o gado compostado não seja espalhado nos campos onde frutas e verduras são cultivadas para o consumo humano.
Assim como na cremação, a contaminação por metais pesados pode ser uma preocupação; talvez as obturações dentárias tenham de ser retiradas dos corpos. "Há muitas discussões a serem travadas com a comunidade médica e o departamento de saúde", diz Carpenter-Boggs.
Spade, contudo, está seguindo adiante. Recentemente, ela e Cheryl Johnston, uma antropóloga forense de Western Carolina, voltaram à estação de pesquisa no morro da universidade. Doze corpos estavam em decomposição ao ar livre, cadáveres de estudo dos alunos de ciências forenses que estão aprendendo a analisar restos mortais. De um lado estava o corpo da mulher de 78 anos, que foi doado pela família e já estava deitado sobre a serragem havia cerca de três semanas.
Após rastelar, escavar e varrer a serragem, eles expuseram parte do maxilar e do peito da mulher. A temperatura na pilha estava em apenas 10 graus. "Pouca coisa aconteceu", disse Johnston. Spade tentou não parecer abatida. "Não estou surpresa", disse ela. "Quer dizer, eu estaria pulando de alegria se estivéssemos medindo 50 graus."
Em uma teleconferência na manhã seguinte, Carpenter-Boggs, a cientista do solo, sugeriu que ela acrescentasse material rico em nitrogênio para acelerar o início da compostagem.
No caso do gado, esterco seria o ideal, disse ela, mas isso não é apropriado para os seres humanos. Em vez disso, ela recomendou feno de alfafa ou pellets de madeira. Spade sorriu. "Quem não quer descansar para sempre em cima da alfafa?", perguntou.

GERENCIAMENTO POLÍTICO DESASTROSO DA PETROBRAS



Petrobras paga por equipamento inútil no Comperj
Alguns conjuntos de vasos, torres e reatores custaram mais de US$ 20 milhões
 José Casado, Bruno Rosa e Ramona Ordoñez 



Equipamentos da Petrobras que seriam usados no Comperj foram estocados em depósito na Ilha do Governador - Genilson Araújo/05-03-2015

BRASIL — São enormes, chegam a pesar uma tonelada. Alguns conjuntos de vasos, torres e reatores, custaram mais de US$ 20 milhões. Fabricados sob encomenda para o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), localizado em Itaboraí, receberam tratamento térmico especial para manter um nível de pressão interna. Chegaram ao porto do Rio quarenta e quatro meses atrás, em 2011. Lá ficaram por mais de um ano —“hibernados”, no idioma da burocracia.
Depois foram distribuídos entre pátios na Ilha do Governador e em Itaguaí, onde permanecem. O estacionamento custa em média US$ 360 por hora, com despesa de US$ 3 milhões por ano. Alguns chegaram ao canteiro de obras do Comperj, em Itaboraí. Estão abandonados.
Metade desses equipamentos, comprados para as unidades de nafta, destilação e coque, tornou-se inútil e a Petrobras não sabe qual será seu destino. Eles contam a história de administração desastrosa, reconhecida pela companhia estatal e pelo Tribunal de Contas da União, e permeada por casos de corrupção.
Começou em 2003, quando a Petrobras anunciou investimento de US$ 6,5 bilhões na construção de um complexo petroquímico na Região Metropolitana do Rio. Passaram-se doze anos, a empresa gastou US$ 21,6 bilhões — 232% acima do previsto —, e o Comperj acabou reduzido a uma refinaria de petróleo. Produzirá combustíveis, mas nem um quilo de petroquímicos.
O enredo de infortúnios ganhou velocidade no segundo semestre de 2006, na campanha de reeleição do presidente Lula em plena crise do mensalão.
A diretoria da estatal expediu uma ordem (código DIP AB-PQF 178) para imediata licitação, contratação de obras, compra e montagem de equipamentos considerados essenciais ao polo. A Petrobras encomendara o “projeto conceitual” do parque petroquímico, com entrega prevista em três anos. Ainda não possuía sequer um projeto básico, registram as auditorias da empresa e do tribunal de contas.
A decisão de antecipar tudo aconteceu sob orientação do presidente da estatal José Sérgio Gabrielli, apoiado pelos diretores Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Engenharia e Serviços). Estabeleceram até uma data, quarta-feira 12 de dezembro de 2012, para entrega da obra do Comperj “completa” — uma imposição “fortíssima”, na descrição feita por Pedro Aramis, chefe do inquérito interno conduzido na Petrobras, em depoimento na Justiça Federal, em Curitiba: “Isso deu margem a uma série de quebras dos padrões usuais de trabalho.”

 “O PROCESSO ERA MALFEITO”
Costa e Duque deflagraram uma corrida contra o relógio na empresa. Duque distribuiu um mapa dos contratos necessários, com datas previstas para assinatura e prazos apertados de execução. Os dois diretores listaram quais empresas seriam convidadas, como demonstram e-mails enviados por Pedro Barusco, gerente-executivo de Duque. Marcaram reuniões trimestrais com fornecedores para resolver aumentos nos contratos sem licitação, classificados como “emergenciais”.
Nos meses seguintes, de 2007 a 2012, a Petrobras assinou três dezenas de contratos do gênero para o Comperj. Somaram US$ 7 bilhões, com 21 empresas privadas — todas são investigadas em processos por corrupção.
A propina era disfarçada como “custo operacional” das empreiteiras, confessou Eduardo Leite, vice-presidente da Camargo Corrêa, em depoimento à polícia há três semanas. Repassavam os custos dos subornos à Petrobras encobertos como “custos contingenciados”. Na Camargo Corrêa, por exemplo, o sistema de orçamento de obras — conhecido internamente como Primavera —, admitia variações nesse item de até 5%.
“Era fácil”, disse Leite, “porque 1% do contrato se torna insignificante em um projeto mal orçado”. E na Petrobras ficava ainda mais simples, acrescentou, porque “o processo era malfeito” no orçamento, na contratação e na fiscalização dos serviços, ao contrário do que ocorria em outras empresas “como a Vale”.
Em parte dos contratos era inserida uma cláusula (“Quantidade determinada”) prevendo compra de equipamentos mesmo sem a certeza da sua necessidade. “Funcionava como um cheque em branco para as empresas", contou Almir Barbassa, ex-diretor financeiro da estatal, à comissão interna.
Como resultado da antecipação nas compras, sem o plano básico de engenharia e análise de riscos, “algumas contratações acabaram se tornando inúteis”, segundo o tribunal de contas.
Foi o caso dos equipamentos comprados em 2010 para melhoria da nafta, que serviria de matéria-prima à produção de petroquímicos. Em 2012, porém, a Petrobras redesenhou tudo para usar o gás natural extraído do pré-sal como insumo. Assim, o conjunto de peças adquirido em caráter “emergencial” dois anos antes, tornou-se desnecessário.
A unidade de hidrotratamento de nafta hoje é uma inutilidade de US$ 20,5 milhões abandonada em Itaboraí. Oito grupos de equipamentos, também adquiridos “com urgência” para o Comperj, não têm mais finalidade, nem destino.
Alguns podem ser usados, quando solucionados problemas nas obras de logística para transporte. Mas até à montagem, a estatal deverá pagar um adicional de US$ 569 milhões por “elevações de custos”, informa o TCU.
Em janeiro, perguntaram à então presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, qual seria o valor de venda do Comperj. A resposta foi seca e enfática:
— Zero!

sábado, 18 de abril de 2015

ROUBO DE INFLUÊNCIA POLÍTICA



Documentos revelam que Palocci recebeu R$12 mi de empresas quando coordenava a campanha de Dilma em 2010
Não há comprovação de qualquer serviço e ocorreu até contrato de boca

THIAGO BRONZATTO E FILIPE COUTINHO

 


Em 3 de dezembro de 2010, a petista Dilma Rousseff, eleita havia poucas semanas para seu primeiro mandato como presidente da República, mandou anunciar o nome do ministro mais poderoso de seu governo. Dali a dias, Antonio Palocci ex-ministro da Fazenda, ex-deputado federal, ex-prefeito de Ribeirão Preto e hoje alvo ilustre da Operação Lava Jato – assumiria a chefia da Casa Civil. Era a improvável ressurreição política de Palocci, ceifado do governo Lula anos antes, quando, após resistir a toda sorte de acusações de corrupção, acabou por não resistir ao escândalo da quebra dos sigilos do caseiro Francenildo. Perdeu o cargo, mas não a influência. Palocci ressurgiu na eleição de Dilma. Coordenou a campanha e atuou como arrecadador informal da petista, ao lado do tesoureiro do PT, João Vaccari, hoje preso. A nomeação para a Casa Civil, na qual sucederia a Erenice Guerra, premiava seus bons serviços na campanha. Nas palavras de Dilma, Palocci fora “um dos artífices da jornada vitoriosa” que a elegera. Estava claro quem mandaria em Brasília no terceiro mandato petista.
No mesmo dia do anúncio, Palocci recebeu R$ 1 milhão do escritório do criminalista Márcio Thomaz Bastos, segundo documentos da empresa do petista, em poder do Ministério Público Federal (MPF) e obtidos por ÉPOCA. MTB, como era conhecido o advogado, morreu no ano passado. Em 2010, após uma longa passagem pelo Ministério da Justiça do governo Lula, na qual fez muitas tabelinhas com Palocci, resistia como principal conselheiro jurídico da cúpula do PT. O dinheiro foi repassado sem que houvesse sequer contrato formal. Era um contrato de boca. Duas semanas depois, Palocci recebeu mais R$ 1 milhão de MTB. Os R$ 2 milhões somavam-se aos R$ 3,5 milhões repassados durante a campanha e a pré-campanha de Dilma. No total, 11 pagamentos. Sempre sem contrato. Sempre em valores redondos – R$ 500 mil, no auge das eleições, e R$ 250 mil, antes. Sempre depositados, segundo o próprio Palocci, na conta da Projeto, a empresa de consultoria criada por ele após deixar o governo Lula.
No dia em que foi anunciado como ministro de Dilma, Palocci recebeu R$ 1 milhão em sua consultoria
Qual a origem do dinheiro? O Pão de Açúcar, dizem os advogados de Palocci e do escritório de MTB. Por que o Pão de Açúcar pagaria uma pequena fortuna a Palocci? Para que o petista, um médico sanitarista que passava aqueles dias de 2010 na intensa faina de uma campanha presidencial, ajudasse na fusão entre o grupo de Abilio Diniz e as Casas Bahia. Não se sabe como Palocci poderia ser tão valioso numa negociação dessa natureza – nem por qual razão o Pão de Açúcar não o contratara diretamente. Mas ele prestou algum serviço? A renomada consultoria Estáter, contratada de forma exclusiva pelo Pão de Açúcar para tocar a fusão, informou ao MPF que, por óbvio, não – Palocci não prestou qualquer serviço, o que despertou suspeitas entre os investigadores. Fontes que participaram das negociações confirmaram a ÉPOCA que Palocci não participou de qualquer reunião, conversa informal ou troca de e-mails durante o negócio. Em ofício ao MPF, o Pão de Açúcar disse que “em função da relação de confiança desenvolvida” é comum que os “serviços de assessoria jurídica sejam contratados de modo mais informal”. Palocci não é advogado. Procurado por ÉPOCA, o Pão de Açúcar informou que não vai se pronunciar.
Palocci não tardou a cair novamente. Pouco após assumir a Casa Civil, o jornal Folha de S.Paulo revelou que ele comprara um apartamento avaliado em R$ 6,6 milhões, antes de voltar a Brasília. Palocci, que não tem herança e sempre foi político, se recusou a explicar a origem do dinheiro. Disse apenas que provinha dos clientes que contratavam a Projeto, sua empresa de consultoria. Preferiu deixar a Casa Civil a revelar os nomes deles – e a declinar para que fora exatamente contratado. Agora, ÉPOCA teve acesso a documentos internos da empresa de Palocci, a uma investigação sigilosa do MPF sobre ela e a uma lista com 30 nomes de empresas que pagaram o ex-ministro. Os papéis oficiais, assim como a investigação dos procuradores, revelam que a prosperidade da empresa de Palocci coincidiu com o momento em que ele assumiu as tarefas de coordenar a campanha de Dilma – e de arrecadar para ela.
Em 2010, Palocci recebeu, ao menos, R$ 12 milhões em pagamentos considerados suspeitos pelo MPF. Além dos pagamentos do escritório de Márcio Thomaz Bastos, supostamente em nome do Pão de Açúcar, os procuradores avaliaram como suspeitos os pagamentos do frigorífico JBS e da concessionária Caoa. Eles somam R$ 6,5 milhões. São suspeitos porque, na visão do MPF, Palocci, mesmo depois de ouvido, não conseguiu comprovar que prestou serviços às empresas – ou foi desmentido por quem estava envolvido, como no caso da consultoria Estáter e do Pão de Açúcar. Ademais, para o MPF, a inexistência de contratos para muitos dos pagamentos reforça os indícios de que as consultorias foram, na verdade, de fachada. Por que grandes empresas gastaram tanto com Palocci? E qual o destino final do dinheiro? Ninguém sabe ainda.
A investigação à qual ÉPOCA teve acesso corre em Brasília, mas será requisitada por procuradores que trabalham nos dois maiores casos de corrupção sob investigação no país: a Lava Jato. No petrolão, a Procuradoria-Geral da República abriu inquérito para apurar a acusação de que o petista arrecadou R$ 2 milhões – para a mesma campanha de Dilma em 2010. A denúncia foi feita pelo delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras. Como Palocci não tem foro privilegiado, o processo contra ele corre no Paraná, sob a guarda do juiz Sergio Moro. Com base no trabalho dos procuradores de Brasília, a Força-Tarefa de Curitiba espera avançar mais rapidamente no rastro do dinheiro que circulou pelas contas associadas ao ex-ministro. Eles preparam o pedido de quebra dos sigilos de Palocci, entre outras medidas.




O procurador da República Frederico Paiva, responsável pela investigação e coordenador do núcleo de combate à corrupção no Distrito Federal, não quis dar entrevista, porque o caso corre sob sigilo. Com o avanço em Palocci, que também está sob investigação em outras frentes da Lava Jato, a Força-Tarefa do Paraná atinge a tríade responsável pela arrecadação de dinheiro no PT desde a queda de Delúbio Soares. Além de Palocci, a tarefa cabia ao ex-ministro José Dirceu e ao tesoureiro João Vaccari. No caso de Vaccari, já preso, as evidências de participação no esquema são abundantes (leia mais na coluna de Ruth de Aquino). Os procuradores também abriram uma investigação específica para Dirceu. À semelhança de Palocci, Dirceu enriqueceu como consultor, após sair do governo em desgraça. Ele é suspeito de forjar contratos de consultoria para receber propina das empreiteiras. Ele e as empresas negam. No total, José Dirceu recebeu como consultor pouco mais de R$ 29 milhões entre 2006 e 2013. “Uma das principais sistemáticas para o pagamento de propina para agentes públicos era justamente a celebração de contratos simulados com empresas de consultoria. Há suspeita de que a JD assessoria tenha sido utilizada para essa finalidade”, escreveram os procuradores ao pedir a quebra de sigilo da empresa de Dirceu. O ano de 2010, quando Dilma foi eleita, também foi próspero para o petista. Sua empresa de consultoria faturou R$ 7,2 milhões. Para os procuradores, as operações de Dirceu e Palocci são siamesas no método e, suspeitam, na finalidade.
Há uma proliferação de consultorias petistas. Também preso na Operação Lava Jato, o ex-deputado André Vargas é mais um deles. Valeu-se de contratos de consultoria de fachada para ganhar dinheiro. Por meio da empresa Limiar, ele recebeu R$ 200 mil da JBS em agosto de 2010, às vésperas da eleição. Questionada sobre o repasse, a empresa afirmou que contratou em 2010 os serviços de “consultoria de marketing” prestados por Vargas, técnico de nível médio em administração de empresas. Não colou. No despacho que decretou a prisão de Vargas, o juiz Sergio Moro disse que “há prova de que a empresa teria recebido remuneração por serviços não prestados”.


DEMOCRACIA RELATIVA DE LULA E MADURO CADA UM AO SEU MODO

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