1 d • 6 minutos de leitura – Jornal Estadão
O TikTok afirmou neste domingo, 19, que estava restaurando o serviço para os usuários nos Estados Unidos, após a popular plataforma de compartilhamento de vídeos ter ficado fora do ar desde sábado por uma proibição federal. A mudança ocorrreu depois que o presidente eleito, Donald Trump, disse que tentaria retomar o serviço por meio de uma ordem executiva em seu primeiro dia no cargo.
Trump declarou que planejava emitir a ordem para dar à empresa-mãe do TikTok, sediada na China, mais tempo para encontrar um comprador aprovado antes que a plataforma fosse sujeita a uma proibição permanente nos EUA. Trump anunciou a medida em sua conta na Truth Social (rede social que ele criou).
O Google e a Apple removeram o aplicativo de suas lojas digitais para cumprir a lei, que exigia que o fizessem caso a empresa-mãe do TikTok, ByteDance, não vendesse suas operações nos EUA até este domingo. A lei, aprovada com amplo apoio bipartidário em abril, previa multas severas em caso de não cumprimento.
Americanas fazem protesto em frente à Suprema Corte americana contra a suspensão do TikTok Foto: Jacquelyn Martin/AP
A empresa que administra o TikTok disse em uma postagem no X que o comunicado de Trump forneceu “a clareza e a garantia necessárias aos nossos provedores de serviço de que não enfrentarão penalidades por oferecer o TikTok a mais de 170 milhões de americanos”.
Pouco depois da declaração do TikTok, alguns usuários relataram que o aplicativo voltou a funcionar, e o site do TikTok parecia estar operando para pelo menos parte dos usuários. No entanto, mesmo com o TikTok voltando gradualmente, ele permaneceu indisponível para download nas lojas de aplicativos da Apple e do Google.Vídeo relacionado: Trump quer dividir propriedade do TikTok, que vai restabelecer serviço nos EUA após suspensão (AFP)
A lei, que entrou em vigor neste domingo, exigia que a ByteDance cortasse os laços com as operações dos EUA devido a preocupações de segurança nacional relacionadas às origens chinesas do aplicativo.
Contudo, o estatuto dava ao presidente em exercício autoridade para conceder uma extensão de 90 dias caso uma venda viável estivesse em andamento. Embora alguns investidores tenham feito ofertas, a ByteDance declarou anteriormente que não venderia a operação americana.
Em sua postagem no domingo, Trump afirmou que “gostaria que os Estados Unidos tivessem uma participação de 50% em uma joint venture”, embora não estivesse claro de imediato se ele se referia ao governo ou a uma empresa americana.
Trump disse que sua ordem iria “estender o prazo antes que as proibições da lei entrem em vigor” e “confirmar que não haverá responsabilidade para qualquer empresa que ajudou a manter o TikTok ativo antes da minha ordem”. “Os americanos merecem assistir à nossa emocionante posse na segunda-feira, assim como outros eventos e conversas”, escreveu Trump.
A disponibilidade intermitente do TikTok ocorreu após a Suprema Corte dos EUA determinar, em uma decisão unânime na sexta-feira, que o risco à segurança nacional representado pelos laços do TikTok com a China superava as preocupações sobre a limitação da liberdade de expressão do aplicativo ou de seus milhões de usuários nos Estados Unidos.
Quando os usuários do TikTok nos EUA tentaram assistir ou postar vídeos na plataforma na noite de sábado, eles viram uma mensagem sob o título: “Desculpe, o TikTok não está disponível no momento”. “Uma lei proibindo o TikTok foi promulgada nos EUA,” informava a mensagem aos usuários que abriram o aplicativo e tentaram navegar pelos vídeos. “Infelizmente, isso significa que você não pode usar o TikTok por enquanto.”
A interrupção no serviço, implementada pelo TikTok com algumas horas de antecedência, pegou a maioria dos usuários de surpresa. Especialistas haviam dito que a lei, conforme redigida, não exigia que o TikTok retirasse sua plataforma do ar, mas apenas que as lojas de aplicativos o removessem. Esperava-se que os usuários existentes continuassem a ter acesso aos vídeos até que o aplicativo parasse de funcionar devido à falta de atualizações.
“A comunidade no TikTok é única, então é estranho não ter mais isso”, disse a criadora de conteúdo Tiffany Watson, de 20 anos, no domingo. Watson afirmou que estava em negação sobre o fechamento iminente e, com o tempo livre, planeja se concentrar em fortalecer sua presença no Instagram e no YouTube. “Ainda há pessoas que querem conteúdo de beleza”, disse Watson.
O aplicativo da empresa também foi removido na noite de sábado de lojas de aplicativos importantes, incluindo as operadas pela Apple e pelo Google. A Apple informou aos clientes que também havia removido outros aplicativos desenvolvidos pela empresa-mãe do TikTok, incluindo um que alguns influenciadores de mídia social haviam promovido como uma alternativa.
“A Apple é obrigada a seguir as leis nas jurisdições onde opera”, disse a empresa. O plano de Trump de emitir uma ordem executiva para poupar o TikTok em seu primeiro dia no cargo reflete o momento coincidente da proibição e a mistura incomum de considerações políticas em torno de uma plataforma de mídia social que ganhou popularidade inicialmente com vídeos muitas vezes engraçados de danças e clipes musicais.
Durante seu primeiro mandato na Casa Branca, Trump emitiu ordens executivas em 2020 proibindo o TikTok e o aplicativo de mensagens chinês WeChat, medidas que foram posteriormente bloqueadas pelos tribunais. No entanto, quando o impulso para uma proibição surgiu no Congresso no ano passado, ele se opôs à legislação. Desde então, Trump atribuiu ao TikTok o mérito de ajudá-lo a ganhar apoio de jovens eleitores na eleição presidencial do ano passado.
Apesar de ter desempenhado seu papel na implementação da proibição em todo o país, o governo Biden destacou nos últimos dias que não pretendia implementar ou aplicar a proibição antes que Trump assumisse o cargo na segunda-feira. Nos nove meses desde que o Congresso aprovou a lei de venda ou proibição, nenhum comprador claro surgiu, e a ByteDance declarou publicamente que não venderia o TikTok. No entanto, Trump afirmou que esperava que seu governo pudesse facilitar um acordo para “salvar” o aplicativo.
O CEO do TikTok, Shou Chew, deve comparecer à posse de Trump com um assento privilegiado. Chew postou um vídeo no final da noite de sábado agradecendo a Trump por seu compromisso em trabalhar com a empresa para manter o aplicativo disponível nos EUA e por “defender firmemente a Primeira Emenda e se opor à censura arbitrária”.
O escolhido de Trump para conselheiro de segurança nacional, Michael Waltz, disse à CBS News no domingo que o presidente eleito discutiu o apagão do TikTok nos EUA durante uma ligação no fim de semana com o presidente chinês Xi Jinping, “e eles concordaram em trabalhar juntos sobre isso”.
No sábado, a startup de inteligência artificial Perplexity AI apresentou uma proposta à ByteDance para criar uma nova entidade que combine a Perplexity com os negócios do TikTok nos EUA, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto. A Perplexity não está pedindo para adquirir o algoritmo da ByteDance que alimenta os vídeos do TikTok com base nos interesses dos usuários e tornou a plataforma um fenômeno.
Outros investidores também demonstraram interesse no TikTok. Kevin O’Leary, estrela do programa “Shark Tank”, disse recentemente que um consórcio de investidores, incluindo ele e o bilionário Frank McCourt, ofereceu US$ 20 bilhões em dinheiro à ByteDance. O ex-secretário do Tesouro de Trump, Steven Mnuchin, também afirmou no ano passado que estava formando um grupo de investidores para comprar o TikTok.
Em Washington, legisladores e autoridades do governo há muito levantam preocupações sobre o TikTok, alertando que o algoritmo que determina o que os usuários veem é vulnerável a manipulações por parte das autoridades chinesas. No entanto, até o momento, os EUA não apresentaram publicamente evidências de que o TikTok tenha entregue dados de usuários às autoridades chinesas ou manipulado seu algoritmo para beneficiar interesses chineses./AP
Nenhum comentário:
Postar um comentário