História de Notas & Informações – Jornal Estadão
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, informou que o governo fará “um conjunto de intervenções” para baratear os preços dos alimentos ainda no primeiro bimestre. Ou seja, agora é oficial: o governo entendeu que a inflação pode custar a reeleição do presidente Lula da Silva. Em vez de atacar as causas do problema, sobretudo os gastos excessivos do governo, os petistas preferem, como sempre, concentrar-se nos sintomas, forçando uma queda artificial dos preços – como se estes fossem resultado da vontade arbitrária de quem os estabelece, e não expressão das relações básicas de mercado. E a história mostra que sempre que o governo se julgou capaz de intervir nessas relações, o resultado foi desastroso: desabastecimento e mais inflação.
Mas os petistas são teimosos. Segundo Costa, o governo fará reuniões com os ministros da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e da Fazenda para tratar do assunto. Lula da Silva ainda deve conversar com os produtores rurais, mas, de acordo com Costa, ele já tem em mãos uma lista de sugestões elaborada por representantes de supermercados.
Tudo foi dito em uma entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, da própria Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, ambiente que talvez tenha dado conforto para que Costa dissesse o que realmente pensa. A declaração não foi tirada de contexto, o ministro não foi induzido ao erro e não se trata de fake news.
Costa não adiantou quais medidas serão anunciadas, mas isso pouco importa. O que interessa é a mensagem que o ministro passou. Ainda há muitos brasileiros com idade suficiente para lembrar como era o Brasil antes do Plano Real, que pôs fim à espiral inflacionária a partir de 1994. Naquelas décadas, experimentou-se de tudo, de estoques reguladores à retenção de exportações, passando por congelamento de preços e fiscais voluntários que davam voz de prisão a gerentes de supermercado. Mas os preços, indóceis, teimavam em subir.
Só isso deveria bastar para desestimular iniciativas como a anunciada pelo ministro Costa, mas o governo parece ter se dado conta de que não tem mais tempo: a eleição, segundo o próprio Lula, está logo aí, razão pela qual é preciso agir para conter os preços dos alimentos. E foi o presidente quem disse, durante a primeira reunião do ano com seus ministros, que a prioridade de seu governo será “comida barata na mesa do trabalhador”.
O cacoete intervencionista do PT é conhecido. Não faz nem um ano que o Executivo cogitou adquirir arroz importado para vender o produto diretamente nos supermercados, a preços tabelados e subsidiados, em embalagem própria com a logomarca do governo federal. Foi logo após as enchentes no Rio Grande do Sul, e a iniciativa só foi abandonada por suspeitas de fraude no leilão.
Também é bom lembrar que os combustíveis estão defasados em relação aos preços internacionais. A gasolina não sobe desde julho, e o diesel está com o mesmo preço desde dezembro de 2023. E, apesar da disparada do dólar, a Petrobras, que tem mantido uma política de preços “abrasileirados” desde o início do governo Lula, diz que ainda aguarda o “momento adequado” para fazer eventuais reajustes.
O governo bem sabe que esse tipo de coisa pega mal. Tanto que, ao longo do dia, a palavra “intervenções”, expressamente mencionada por Rui Costa no programa, foi retirada do texto divulgado no site da Casa Civil – como se omitir a palavra resolvesse o problema.
Os próximos passos são previsíveis. O marqueteiro Sidônio Palmeira entrará em campo para resolver a “confusão” antes que ela se torne mais uma crise, enquanto, nos bastidores, não faltará quem diga que qualquer tipo de intervenção está fora de cogitação.
Os alimentos estão caros em razão da influência de fatores climáticos e da valorização do dólar, mas a demanda também contribui para manter os preços elevados. E é neste ponto que Rui Costa expôs o pensamento que guia o governo nessa discussão: a recusa em aceitar a lei da oferta e da procura e em reconhecer o quanto o Executivo colabora diretamente para a carestia
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