História de Hugo Henud – Jornal Estadão
As eleições de 2024 revelaram mais do que apenas os prefeitos e vereadores que estarão no comando dos municípios brasileiros nos próximos quatro anos; os resultados também deram indicativos para 2026, fortalecendo partidos do Centrão, especialmente o PSD, que conquistou o maior número de prefeituras do País, além de nomes como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o ex-coach Pablo Marçal (PRTB).
Em contrapartida, a disputa municipal enfraqueceu siglas como o PSDB e partidos de esquerda, que tiveram um desempenho eleitoral aquém do esperado. A polarização representada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também perdeu força neste pleito.
Bolsonaro ao lado de Ricardo Nunes (esq.) e Lula com Guilheme Boulos Foto: Tiago Queiroz/Estadão e Ricardo Stuckert/PR
Tarcísio sai como um dos grandes vencedores ao bancar o apoio a Ricardo Nunes (MDB) na corrida para a Prefeitura de São Paulo, mesmo diante da hesitação de Bolsonaro em respaldar o emedebista — especialmente após a ascensão de Marçal nas pesquisas, como explica Vinicius Alves, diretor do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) Analítica e professor de ciência política do IDP.
Marçal, por sua vez, é outro nome que, na avaliação de Alves, sai fortalecido: mesmo sem chegar ao segundo turno, o ex-coach mostrou-se competitivo e desponta como uma nova liderança à direita.
“Foi o acontecimento mais surpreendente desse pleito. O nível de competitividade de Marçal não poderia ser antecipado durante a pré-campanha e pode ter efeitos no quadro político nacional. Ele fez isso tudo sem apoio de outros partidos e fundo eleitoral”, afirma Alves.
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Partidos do Centrão, Kassab e exceções à esquerda
Entre as siglas, os partidos do Centrão — PSD, MDB, União Brasil e PP — ganharam destaque ao conquistar 3.500 municípios para a gestão que se iniciará em 2025, o que equivale a 62% das cidades brasileiras. Alves ressalta que esta eleição será lembrada pelo fortalecimento e resiliência desses partidos, que lançaram candidaturas competitivas em diversos municípios, principalmente nas capitais e cidades com mais de 200 mil eleitores, que concentram uma fatia expressiva do eleitorado.
O cientista político destaca o PSD, vitorioso em 887 municípios, o que fortalece ainda mais a sigla e a consolida para futuras articulações, com potencial para ocupar uma posição semelhante à historicamente desempenhada pelo MDB — um partido capaz de dialogar com diferentes grupos e integrar tendências tanto à esquerda quanto à direita. O comandante da sigla, Gilberto Kassab, surge também como um dos grandes vencedores destas eleições.
No campo da esquerda, o cientista político Antonio Lavareda destaca nomes como Eduardo Paes (PSD), reeleito no primeiro turno e consolidado como um forte candidato ao governo do Rio de Janeiro em 2026, além de João Campos (PSB), igualmente reeleito em Recife, também sem a necessidade de segundo turno.
Lula, Bolsonaro, partidos de esquerda e a polarização como principais perdedores
Na avaliação de Lavareda, a reticência de Bolsonaro em declarar apoio a Nunes em São Paulo fez com que o ex-presidente perdesse parte de sua liderança no campo da direita, apesar do bom desempenho do PL nas eleições municipais. Da mesma forma, o apoio de Lula não se traduziu em vitórias expressivas em várias cidades-chave, como São Paulo, onde a chapa Guilherme Boulos (PSOL) e Marta Suplicy (PT) não saiu vitoriosa.
O cientista político também observa que a polarização entre Lula e Bolsonaro, que parecia se intensificar nas eleições municipais, foi a grande derrotada, dando espaço ao fortalecimento dos partidos do Centrão.
Os partidos de esquerda, por sua vez, saíram igualmente enfraquecidos, perdendo espaço no Ceará (apesar da vitória apertada do petista Evandro Leitão em Fortaleza) e em várias capitais, além de enfrentarem dificuldades nas periferias e em redutos tradicionais. Para Lavareda, após as eleições, as legendas que compõem esse campo político precisam rever sua comunicação para alcançar grupos que poderiam ser aliados, mas que se afastam por não se identificarem com todas as pautas mais tradicionais da esquerda brasileira.
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