História por Roman Goncharenko • DW Brasil
Kiev tem intensificado seus ataques contra a península anexada por Moscou, bombardeando posições militares russas com drones e mísseis de cruzeiro. Por que a região é considerada crucial para a guerra?
Fumaça sobre a Crimeia após um ataque a Sebastopol em 13 de setembro passado© IMAGO/ITAR-TASS
Pela segunda vez consecutiva, as tropas ucranianas atacaram posições militares russas na península anexada da Crimeia na manhã desta quinta-feira (14/09). Segundo a mídia ucraniana, o alvo era um sistema antiaéreo S-300 ou o ainda mais moderno S-400 próximo à cidade de Yevpatoria.
Seria o segundo sistema desse tipo atacado na Crimeia em apenas algumas semanas. Desta vez, os militares russos relataram apenas um ataque de drone supostamente repelido, sem detalhes.
Na noite anterior, a Ucrânia relatou um ataque espetacular em Sebastopol, a principal base da Frota do Mar Negro. Segundo relatos de Kiev, vários mísseis de cruzeiro atingiram um navio de guerra e um submarino. Ambos estão gravemente danificados, mas Ministério da Defesa da Rússia anunciou que seriam reparados.
Ucrânia destrói ponte de Kerch
Há semanas os militares ucranianos têm aumentado os ataques à Crimeia, os mais intensos e onerosos para o lado russo, até agora. Depois de ser anexada ilegalmente em 2014, nos anos seguintes a península,foi transformada pela Rússia numa fortaleza militar, com diversas bases da Marinha e da Força Aérea.
Pouco antes do início da invasão russa, em fevereiro de 2022, o Ministério da Defesa da Ucrânia estimou o número de tropas russas na Crimeia em 32 mil homens. Dizem também que armas nucleares estão estacionadas no lugar
A Ucrânia atacou massivamente a península pela primeira vez em agosto de 2022. Naquela época, um aeroporto militar perto de Saki foi atingido e alguns aviões de combate foram destruídos.
Em outubro, há quase um ano, a ponte de Kerch foi explodida pela primeira vez . Desde então, a construção, que é a mais importante rota para o abastecimento das tropas russas, tem sido repetidamente atacada, mais recentemente por drones marítimos.
Base da Frota do Mar Negro
Porque a Crimeia é tão importante para ambos os lados? Para além da importância simbólica ressaltada repetidamente pelo presidente russo, Vladimir Putin, a península é principalmente importante do ponto de vista militar.
Ponte de Kerch parcialmente destruída após detonações em outubro de 2022© AFP/Getty Images
A Frota do Mar Negro ali estacionada está atacando cidades ucranianas com mísseis de cruzeiro Kalibr – que alcançam desde o interior do país até a fronteira da UE. O mesmo se aplica às aeronaves estacionadas na Crimeia com os seus mísseis.
A Crimeia também desempenha um papel central no abastecimento das tropas russas no sul da Ucrânia. Afinal, o bloqueio naval dos portos ucranianos seria difícil para a Rússia implementar sem a Crimeia.
Imediatamente após a invasão, a Rússia conseguiu ocupar áreas maiores da Crimeia e garantir uma ligação terrestre com o continente russo. O exército ucraniano tem tentado cortar esta ligação com a sua contraofensiva desde o início do verão no Hemisfério Norte.
Entre outras coisas, os militares estão atacando todas as pontes que ligam a Crimeia ao continente. As armas de precisão ocidentais são utilizadas principalmente para este fim, incluindo mísseis de cruzeiro britânicos e franceses.
Retomar a Crimeia e depois negociar?
O comandante-chefe do Exército da Ucrânia, general Valeriy Zalushnyj, descreveu a Crimeia como um “fator-chave” na guerra contra a Rússia.
A retomada da península enfraqueceria significativamente a Rússia, mas não garantiria um fim militar para a guerra. Saluzhny alertou que a Rússia poderia continuar com os disparos a partir de seu próprio território mesmo depois de perder a Crimeia.
Mesmo assim, o presidente Volodimir Zelenski ainda espera conseguir um avanço significativo na área. Ele disse que a guerra começou na Crimeia e terminaria ali.
A melhor opção para Kiev seria avançar para a Crimeia e depois negociar a retirada russa. Neste momento, porém, é difícil imaginar a Rússia concordando com isto.
Autor: Roman Goncharenko
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