Por Bruno Romani – Jornal Estadão
Ainda tentando alcançar ChatGPT, o Google anunciou nesta quinta-feira, 13, que finalmente trouxe ao Brasil o seu chatbot inteligente, batizado de Bard. Ele chega quatro meses após estrear nos EUA e no Reino Unido – e cinco meses desde que o Google revelou que iria criar uma ferramenta de inteligência artificial (IA) batalhar diretamente contra o serviço da OpenAI. Além do Brasil, o chatbot chega aos 27 países da União Europeia e funcionará em 40 idiomas.
Para aprender o português brasileiro e outras nuances da nossa cultura, o Bard passou por um treinamento de três meses, o que inclui o trabalho de revisores, legisladores, reguladores e outros especialistas brasileiros. “A localização foi fundamental para o processo de chegada ao Brasil”, disse em apresentação para jornalistas Leonardo Longo, gerente de marketing de produto da companhia na América Latina.
Na apresentação, os representantes da empresa voltaram a negar que o atraso tenha ocorrido em razão da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). No mês passado, Fábio Coelho, presidente do Google no Brasil, disse ao Estadão que o projeto precisava ser aperfeiçoado para o contexto brasileiro – e que não estava parado por conta da legislação.
No entanto, a companhia não revela exatamente quais dados são usados para treinar os seus modelos de IA – o discurso internacional da empresa é de que os dados utilizados estão públicos na web e oferecem perspectiva ampla de assuntos. Atualmente, uma das críticas à indústria de IA é de que não é possível saber exatamente quais informações ou bancos de dados são usados para treinar os sistemas, ainda que muitos desses pacotes sejam abertos e conhecidos de toda a comunidade científica.
“Estamos num momento experimental e não podemos oferecer agora esse nível de detalhe”, disse ao Estadão Claudia Tozetto, diretora de comunicação da companhia. Na apresentação para jornalistas, Bruno Pôssas, vice-presidente global de engenharia para busca, afirmou: “A LGPD é aplicada (no Bard) para pode garantir que a gente cuide dos dados de maneira correta”.
Caráter experimental
Na apresentação, o Google repetiu alguns refrões desde que a companhia foi sugada para a competição com a OpenAI. Primeiro, a gigante falou em responsabilidade na implementação de sistemas de IA – é uma menção indireta à OpenAI, que, para alguns especialistas, lançou o ChatGPT de maneira irresponsável, sem os devidos testes e salvaguardas.
Outro ponto reforçado foi de que o Bard é um projeto experimental – e que está longe de um modelo de monetização. Ao atribuir a aura de produto ainda em desenvolvimento, o Google admitiu que o seu chatbot pode apresentar respostas ofensivas, viés e alucinações (na comunidade científica, o termo é usado quando sistemas de IA produzem conteúdo que fogem do bom senso ou que são factualmente errados).
O ChatGPT e o Bing (que usa o mesmo “cérebro” da ferramenta da OpenAI) produziram diversos casos do tipo nos primeiros meses de uso – um dos exemplos já clássicos é o diálogo no qual o Bing “flertou” com colunista do New York Times Kevin Roose. Em todos os casos, o usuário pode reportar ao Google que não gostou da resposta por meio de um botão na interface – os casos serão avaliados e poderão ser usados para retreinar o sistema.
Outra forma de combater respostas ruins é a integração com a ferramenta de buscas – por meio de um botão, é possível checar a resposta no buscador da companhia. O ChatGPT, que tem uma base de dados atualizada até setembro de 2021, não consegue oferecer respostas atualizadas e também não permite conferir a informação – para assuntos para os quais não há resposta 100% correta, a ferramenta mostrará três respostas diferentes, equilibrando pontos de vista.
O Google, porém, toma cuidado para não rejeitar o seu tradicional serviço – no alvorecer da popularidade do ChatGPT, especulou-se que a ferramenta de buscas havia ganhando um concorrente de peso. “Não há escolha entre Busca e Bard. Eles são complementares”, disse Pôssas.
Conheça os novos recursos do Bard
Além do anúncio sobre o Brasil, o Google revelou seis novos recursos que fazem estreia de maneira global. O primeiro deles permite fixar conversas na barra lateral esquerda, o que permite acesso rápido a conversas mais importantes com o chatbot – é um recurso que não existe no ChatGPT.
Outro recurso inédito no concorrente permite que o Bard “leia em voz alta” as suas respostas, um recurso chamado de “text-to-speech. Um terceiro elemento exclusivo permite que desenvolvedores exportem código em Python para o Replit. A quarta novidade tem apelo para redes sociais: um botão que permite compartilhar as respostas produzidas pela máquina.
Embora funcionem no Brasil, as últimas duas ferramentas estão disponíveis apenas em inglês. Um deles permite modificar o estilo da resposta para: simples, longa, curta, profissional ou informal. O Bing, da Microsoft, tem um recurso similar, que permite respostas mais “simples” ou criativas.
O último recurso é uma rasteira no ChatGPT: o chatbot foi integrado com o Google Lens e consegue analisar uma foto e dar uma resposta. Por exemplo, você poderá carregar uma foto de cachorro e receber informações sobre a raça. A ferramenta também poderá legendar imagens. A capacidade de uma IA ser capaz de usar texto e imagens é chamada de multimodalidade.
Quando a OpenAI apresentou o GPT-4, prometeu recurso similar no ChatGPT, porém, o recurso ainda não foi implementado.
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