quinta-feira, 15 de setembro de 2022

PODEMOS ESPERAR ALGUMA COISA DE BOM DA NOVA PRESIDENTE DO STF

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Ministra Rosa Weber ficará no comando do STF até outubro de 203, quando se aposenta.| Foto: Carlos Moura/STF

A ministra Rosa Weber tomou posse nesta segunda-feira, dia 12, no cargo de presidente do Supremo Tribunal Federal, substituindo Luiz Fux. Seu mandato não durará o biênio habitual, pois ela completa 75 anos em outubro de 2023, ocasião em que se aposentará compulsoriamente. Rosa Weber assume o comando do Supremo em um momento delicado para a instituição, cujas decisões estão fazendo da corte um elemento desestabilizador da República: os dois anos agora encerrados foram marcados por algumas das mais escandalosas derrotas que o STF infligiu ao combate à corrupção – incluindo a anulação dos processos do ex-presidente Lula e a suspeição do ex-juiz Sergio Moro – e pela intensificação das medidas tomadas dentro dos inquéritos abusivos das fake news, dos “atos antidemocráticos” e das “milícias digitais”, em flagrante violação das garantias e liberdades individuais.

Liberdade, aliás, foi um tema muito presente no discurso de posse de Rosa Weber, mas, apesar de toda a exaltação não apenas da liberdade, mas também da democracia e da tripartição de poderes, o discurso de Rosa Weber não permite esperar que, sob sua liderança, o Supremo se torne mais comedido em sua atuação. Vejamos, por exemplo, este trecho, em que a ministra afirma que o STF “tem sido alvo de ataques injustos e reiterados, inclusive sob a pecha de um mal compreendido ativismo judicial, por parte de quem, a mais das vezes, desconhece o texto constitucional e ignora as atribuições cometidas a esta suprema corte pela Constituição, Constituição que nós juízes e juízas juramos obedecer”. Rosa Weber, assim, se recusa a reconhecer que o Supremo pratica, sim, ativismo judicial, classificando as críticas como “ataques injustos e reiterados” de quem “desconhece o texto constitucional”.

Não são as palavras, mas a atuação de Rosa Weber ao longo do próximo ano que mostrará se a democracia será mesmo celebrada e se o primado das liberdades será reverenciado pela corte

Na verdade, quem desconhece o texto constitucional é quem cria regras que não estão na Carta Magna, como o Supremo fez ao dificultar privatizações; quem inventa crimes sem legislação que os defina, como o Supremo fez ao equiparar a homofobia ao racismo; quem toma o lugar do Executivo para definir política sanitária ou tributária, como fez o Supremo ao exigir passaporte vacinal de quem chega ao Brasil e ao anular decretos presidenciais sobre cobrança de IPI. Estes são apenas alguns poucos exemplos de verdadeiro ativismo judicial da corte nos últimos anos – e Rosa Weber votou favoravelmente à interferência nos casos da homofobia, do passaporte vacinal e das privatizações (o caso do IPI ainda não foi a plenário).

Da mesma forma, é preciso lembrar que Rosa Weber também endossou a abertura do inquérito das fake news, apesar da notória concentração, nas mãos do Supremo, de papéis de vítima, investigador, acusador e julgador; apesar de a Procuradoria-Geral da República ter pedido seu arquivamento; e apesar de todas as evidências de que o inquérito estava dando margem a arbitrariedades como a censura de publicações jornalísticas. A prática, assim, vai ao encontro de afirmações feitas pela ministra em seu discurso, como a de que “o Poder Judiciário não age de ofício”; ou sobre a necessidade de assegurar “a todos os cidadãos, sem qualquer exclusão, um núcleo essencial de direitos e garantias que não podem ser transgredidos nem ignorados”; ou, ainda, citando o ex-ministro Cezar Peluso, sobre a missão do Supremo de “repelir condutas governamentais abusivas (…), neutralizar qualquer ensaio de opressão estatal e de nulificar os excessos do poder”.


“Gostaria que todos vissem nesta solenidade uma celebração da democracia e a reverência ao primado das liberdades”, afirmou a nova presidente do Supremo quase ao fim de sua fala. Mas a solenidade, neste caso, é o de menos; é a atuação de Rosa Weber ao longo do próximo ano que mostrará se a democracia será mesmo celebrada e se o primado das liberdades será reverenciado por uma corte que, até o momento, tem se destacado mais por restringir liberdades e prejudicar a democracia – ainda que seus integrantes creiam sinceramente que a estão defendendo – que por guardar a Constituição e preservar os direitos e garantias nela inscritos.


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