Debate político
Por
Luís Ernesto Lacombe

O debate político atual pode ser resumido a “tudo é culpa de Jair Bolsonaro”.| Foto: Alan Santos/Presidência da República
Houve
uma época em que os brasileiros quase não falavam de política. Talvez
por desesperança, talvez por falta de tempo, na luta diária de cada um
por um lugar ao sol. Talvez não parecesse mesmo importante, não
parecesse necessário que tivéssemos olhares atentos, senso crítico
aguçado, informações reunidas, opiniões claras formadas sobre nossos
governantes, seus mandos e desmandos. Talvez fosse preguiça, sensação de
impotência, de que nada poderia ser melhorado. Todo poder emana do
povo, mas lhe escapa rápido das mãos, dura o tempo de apertar os botões
de uma urna eletrônica… Depois disso, somos todos reféns de votos
equivocados, descolados do mundo real, definidos, muitas vezes, na
ignorância do isolamento político, na cegueira, na ilusão, ou sob
influência direta do oportunismo, do egoísmo.
Não queríamos saber de política, nos permitíamos a negligência, o desinteresse, o fato consumado: é assim, sempre foi assim e sempre será. Durante muito tempo, foi impossível pensar de modo diferente. Dois partidos parecidos se revezando no poder, no famoso “teatro das tesouras”, dois partidos de origens diferentes apontando para o mesmo destino: mais Estado. E é engraçado como o brasileiro tende a não gostar do governo, mas normalmente ama o Estado. É quase uma esquizofrenia daqueles que acreditam que existe alguma coisa de graça. Nada é de graça. Cada vez mais, as pessoas estão tendo essa compreensão… E por quê? Porque o Brasil se politizou, o que deveria ser maravilhoso.
Em que momento o debate político passa a ser inútil, desprezível, infrutífero? Em que momento deixa de ser debate e passa a gerar irritação, desconforto, danos à saúde?
Não vou aqui discorrer sobre o que nos levou a essa politização, há gente mais gabaritada do que eu para isso. A ideia é analisar brevemente o debate político… Tentar entender até que ponto ele sobrevive, é saudável, propositivo, indicador das melhores respostas, de caminhos. E em que momento passa a ser inútil, desprezível, infrutífero? Em que momento deixa de ser debate e passa a gerar irritação, desconforto, danos à saúde? Quando vira um bicho doido, veias saltadas, cara vermelha? Quando vira um engolidor de gente? Frases sobrepostas, vozes se escalando, leviandade, mentira, palavras se chocando no ar e se espatifando sem o menor sentido…
Quem não fala de política hoje em dia? Todo mundo fala (ainda bem!), mas vai se formando uma coleção de absurdos. Cansa, cansa ouvir que o presidente da República estimula práticas criminosas na Amazônia: garimpo, narcotráfico, grilagem, desmatamento… Como se os problemas da região tivessem começado no dia da posse de Bolsonaro. E, afinal, por que, em menos de quatro anos, ele já não solucionou todos eles? A milícia, o presidente é miliciano, mandou matar Marielle Franco, mandou dar sumiço em Bruno Pereira e Dom Phillips… Ataca diariamente a democracia. E se não fosse o STF para conter esses arroubos autoritários… Numa boa, isso é debate? Porque, desse jeito, não vamos a lugar algum.
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