segunda-feira, 13 de junho de 2022

O BRASIL ESPERA DOS CANDIDATOS BONS PLANOS DE GOVERNO

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Palácio do Planalto na Praça dos Três Poderes em Brasília


Palácio do Planalto, na Praça dos Três Poderes.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.

Os movimentos políticos para as eleições de outubro estão sendo intensificados à medida que se aproximam as campanhas eleitorais dos candidatos aos cargos eletivos nos poderes Legislativo e Executivo, nas esferas estadual e federal. A eleição deste ano traz algumas diferenças em relação às anteriores, no mínimo por uma razão: o mundo enfrentou uma dura crise, que atingiu a todos os países e impôs pesados sacrifícios e recessão como decorrência da devastação sanitária provocada por um vírus. Praticamente todos os países se viram diante da desorganização do sistema econômico, queda de produção, emprego e renda em níveis elevados e, iniciada a recuperação, surge o fantasma da inflação.

Esse cenário aumenta a importância dos planos de governo dos futuros governadores e do presidente da República, pois é da qualidade de suas propostas e da eficiência da gestão que decorrerá o progresso ou a estagnação do país. No caso do governo federal, mais que um plano detalhado, são os princípios gerais e as macropolíticas que levarão ao país ao crescimento ou ao retrocesso econômico e social. A América Latina transformou-se em laboratório nos últimos 70 anos, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, quanto às políticas que não funcionam e, quando aplicadas, levam rotineiramente ao empobrecimento e atraso. Dito isso, é hora de os candidatos apresentarem seus planos em termos dos grandes princípios e as políticas que pretendem implementar.

O tipo de esquerdismo econômico praticado pelos governos dos países latinos tem provocado baixo crescimento econômico, atraso social, empobrecimento e conflitos sociais, além de deixar portas abertas para a ineficiência e a corrupção

Não é necessário plano ultradetalhado. Pelo contrário, não é preciso mais que umas poucas páginas, desde que destaquem os princípios que o governante pretende cumprir seguidos das grandes políticas. Tomando a experiência dos países latino-americanos, um plano de governo capaz de levar o país ao êxito deve conter compromissos com a proteção das liberdades econômicas e individuais, com a democracia e com o estado de Direito; respeito e proteção ao direito de propriedade; atuação do setor estatal em respeito ao princípio da subsidiariedade; responsabilidade fiscal e controle da dívida pública; estabilidade da moeda e controle da inflação; recuperação e expansão da infraestrutura; estímulo ao empreendedorismo e à iniciativa empresarial; ampliação da abertura ao exterior e o estímulo à importação de tecnologias; enxugamento da máquina estatal; ampliação dos programas de educação e qualificação profissional; prioridade ao combate à pobreza; redução da intervenção governamental no mercado; desregulamentação e desburocratização; e reformas tributária, administrativa e política.

A Fundação Getúlio Vargas, por seu Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), vem apresentando estudos e insistindo na importância da qualidade do capital humano e da produtividade (produção por hora de trabalho) para o crescimento econômico e o desenvolvimento social. O Brasil já está enfrentando dificuldade nesse terreno, principalmente em razão do desperdício do bônus demográfico causado pelo rápido envelhecimento da população. Um efeito dessa situação é que os jovens em idade de trabalhar estão entre os que mais sofreram com o desemprego e o desalento em relação ao mercado de trabalho, causando assim enorme desperdício de força de trabalho e trazendo consequências psicológicas e profissionais aos afetados.


Existe significativa parcela da população fora do mercado de trabalho em função da idade, aposentadoria ou doença. Esse fato, somado à população jovem sem emprego, dificulta fortemente o crescimento econômico. Ademais, na América Latina tem sido corriqueiro que os países que deram guinada à esquerda na economia e desrespeitaram as regras essenciais da democracia política e da economia de livre mercado colham péssimos resultados econômicos e fortes tensões sociais. Definitivamente, o tipo de esquerdismo econômico praticado pelos governos dos países latinos – inclusive alguns abundantes em riquezas naturais, como Argentina e Venezuela – tem provocado baixo crescimento econômico, atraso social, empobrecimento e conflitos sociais, inclusive porque, além da opção errada, os governos têm sido invariavelmente ineficientes e corruptos, salvo honrosas exceções. E, a julgar pela única prévia de propostas de governo divulgada até o momento, a do ex-presidente, ex-presidiário e ex-condenado Lula, a esquerda continuará apostando nas escolhas equivocadas que condenaram países ao atraso onde quer que tenham sido aplicadas.

As eleições deveriam representar boa oportunidade para levar a discussão aos temas relevantes e aos planos dos candidatos. Infelizmente, a maior parte do tempo vem sendo perdida em questões menores, desavenças político-partidárias e agressões verbais, coisa que preenche o tempo dos atores do espetáculo e os exime de tratar dos assuntos sérios, relevantes e decisivos para o futuro do Brasil. Porém, vale a pena cobrar e ter esperança de que, em algum momento, o nível das falas e discursos suba e trate do que é mais importante para o destino da nação.

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