sábado, 1 de janeiro de 2022

RETROSPECTIVA HUMORADA DE 2021

 

Alô, criançada, o bardo chegou!

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo

Empty asphalt road and New year 2022 concept. Driving on an empty road to Goals 2022 with sunset. 2022 written on highway road with arrow in empty asphalt road. Concept for vision 2021-2022.

Para escrever assim esta retrospectiva, busquei na leveza justificativa. Olhei para um lado, olhei para o outro, me vi diante do óbvio – e achei pouco.| Foto: Bigstock

Para escrever assim esta retrospectiva, busquei na leveza justificativa. Olhei para um lado, olhei para o outro, me vi diante do óbvio – e achei pouco. O que mais podia eu nos estertores do ano inventar? Titubeei, hesitei, ponderei. E mesmo temendo a reação do chefe decidi rimar.

Pensei que se do leitor um riso não arranco, que ao menos consiga lhe dar um solavanco. E tirar do tédio diário a que está exposto aquele que acompanha o noticiário. Ao leitor, pois, que jamais subestimo, ofereço neste dia meu derradeiro desatino. Num ano em que não faltaram estripulias jornalísticas, nada melhor do que encerrar com essas rimas assim meio tortas, meio místicas. E tão imperfeitas, as danadas, que em verso não ouso escrever. Sigo assim nessa toada, na esperança de o leitor entreter.

Vai ser curtinho, eu prometo, até porque o tempo me escapa. Deixa só eu ver aqui minhas notas para dos acontecimentos ter um mapa. Ah, sim, como esquecer? Em janeiro invadiram o Capitólio. E no meu parecer foi mais uma sandice que Caim incluiu no portfólio. O que mais teve naquele mês que julgo agora tão distante? Teve escritor agindo como militante e bocó falando em “autoritarismo necessário”. E teve ainda colunista pedindo impeachment com “talquei” em texto hilário.

Já estou em fevereiro e, falando de BBB, peço que a intelectual sobre Karol Conká venha a escrever. A conversa era boa, inteligente, prometia diversão. Tudo ia muito bem, até da Lava Jato o STF pregar o caixão. Num ano sem carnaval e numa época de lacração, me restou ver o desfile com minha imaginação, essa guerreira. Dali a alguns dias, entrevistei Roger Moreira. Falamos disso e daquilo. É bom demais conversar! Uma pena que o STF não respeite parlamentar.

No terceiro mês do ano, foi pouco o que escrevi. Tirei uns dias de férias, viajei com meu filho, Davi. No pouco tempo que tive, falei de pandemia, desse aniversário macabro. Falei também da mansão do Flávio – na época um grande descalabro. O comedimento do político, eu diria, não é nenhum. Por isso mesmo o que vale é admirar o milagre do homem comum. Em março ainda “Um Príncipe em Nova York” ganhou continuação. E ainda no começo do mês, Fachin beneficiou Lula com uma decisão. E por causa dela no ano que vem, teremos o ex-presidiário na eleição. Antes que do mês me despeça, não posso deixar de mencionar: a Emengarda ganhou vida e agora é tarde para reclamar.

Chegamos a abril e teve robô – robô! – reclamando de assédio. Definitivamente nosso tempo não nos deixa morrer de tédio. Estou procurando aqui uma rima, mas nem sei o que é bilva. Só me resta dizer que conversei com Alexandre Soares Silva. O papo foi bom, mas não adianta, não dá para ignorar a narrativa: dos cientistas questionei a noção de autoimportância e as estimativas. Ignorando da ciência a esclarecida estultícia, só me restou apelar para o otimismo e dizer: Lula candidato é boa notícia. Também falei com o Glenn e, veja bem, tutano está provado que ele tem. O mês estava acabando, de pauta não havia falta, e foi com muito pesar que comentei a morte do astronauta.

Em maio minha vida mudou – para muito melhor, não reclamo! Mas agora me bateu a dúvida: será que tenho rima para tanto? Logo no comecinho do mês, peguei nojinho de idealismo e corri para defender a legitimidade do bolsonarismo. Mas meu texto não é panfleto; quando muito um desagravo. Agora licença que vou me vestir todo de preto para falar de Paulo Gustavo. Uns se vão e outros ficam, da vida é esse o enredo. Passados uns dias tive a honra de conversar com o grande Ary Toledo. As notícias se acumulam, mas não posso reclamar se ainda tenho a oportunidade de o Renan Calheiros zoar. Para encerrar o mês das noivas, falo de casamento: FHC almoçou com Lula e eu contive o xingamento.

Em junho infelizmente os mortos pela Covid chegaram a meio milhão, e teve início no Senado o espetáculo do coronelão, que se estenderia até o fim do ano sem encontrar corrupção. Teve ainda Copa América – como a gente perde tempo debatendo besteira! Mas deixando de lado a esquerda histérica e seu besteirol, me permiti atravessar a fronteira para falar de Alberto Fernandez gastando todo o meu portunhol.

Julho é o mês mais gelado na minha querida Curitiba. E começou com político assumindo a homossexualidade, na esperança de causar comoção e percebendo a oportunidade. Enquanto isso, na CPI, Renan Calheiros dava show e eu fazia paródia da Xuxa. Cara-de-pau que sou, mandei às favas a vergonha, essa bruxa, para escrever um roteiro que ninguém se deu ao trabalho de ler – que puxa! Vergonha tampouco têm uns cantores viciados em lacração que se tiram a chupeta da boca é para entoar “ão, ão, ão, Bolsonaro é um bobão”. Por falar em rimas fáceis e também em papelão, que falar de Joyce Hasselmann, que depois de um tropeção, saiu por aí acusando uma grande conspiração?

Em agosto o cachorro louco deu o ar da graça em Tóquio e a desistência da ginasta gerou todo um colóquio. Se lá faltava ímpeto, aqui sobrava bravata: enquanto em Brasília tanques desfilavam, teve ministro babando na gravata. E no Congresso os deputados, ignorando a gritaria, sepultavam o voto auditável, despertando supostos desejos presidenciais de acordar a infantaria. Quem acordou mesmo, porém, foi o STF, que impôs uma censura mequetrefe para oponentes intimidar. O que levou até minha mulher da minha sanidade duvidar.

Setembro foi muito louco, se bem que passou rapidinho. Começou com papo de golpe, todo mundo ficou com medinho, e terminou com pizza degustada nas ruas de Nova York e com a extrema-esquerda ensaiando um retorninho. No meio disso, porém, teve manifestação gigante e clima beligerante, para tudo culminar num recuo impressionante.

Em outubro bateu o cansaço e de novo precisei me ausentar. Não sem antes assistir à CPI e minha repulsa compartilhar. Perguntei aos leitores, e ouvi muito impropério, se atropelar bandido é um ato cristão e legítimo – fala sério! Por falar em seriedade, em outubro teve debate quente sobre a distribuição de absorvente. Tema espinhoso. Me falta lugar de fala. Mas como sou teimoso, escrevo assim mesmo. E vou para a sala, ligo a TV a esmo e o Chappelle me apunhala com um monte de piada, mostrando que essa geração woke é mesmo privilegiada.

Novembro, este sim, foi um mês tormentoso. Começou com voleibolista sofrendo cancelamento acintoso. Depois teve lavajatista entrando para a política – fato que não passou incólume à minha pena, oh, tão crítica. Quando morreu a cantora, não deu tempo nem de chorar. Porque Moro falou “grosso”, tanto quanto lhe era possível. E o Gil entrou para a ABL, numa eleição incompreensível. Como se não bastasse tanta coisa acontecendo, teve também o Toffolli o verdadeiro golpe reconhecendo. Encerrando com chave de ouro, o clichê não podia faltar: em São Paulo a escultura de um touro deu o que falar.

Em dezembro que eu pensava que seria um mês tranquilo, Olavo “fugiu” do país e eu tive que comentar aquilo. Enquanto Wagner Moura se enchia de camarão eu lia a biografia do Lula. E no Senado o azarão, André Mendonça, a própria sabatina articula. O ano vai acabando, a PEC dos Precatórios foi aprovada. Até o Randolfe ficou noivo em cerimônia (jeca) reservada. Antes de descansar, Luiz Fux falou um monte de bobagem. Mas quem encerrou o ano a se esbaldar foi mesmo o Barroso – a quem devo irônica vassalagem.

Só de textos aqui na Gazeta foram mais de duas centenas. Sem falar no Polzo Show, O Papo É e também o Quarentena. Agora lá vou eu para o descanso merecido, mergulhar no mar manso e, agradecido, sonhar com um 2022 em que, na ausência de paz, ao menos o caos seja divertido.

EBOOK G
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