sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

PROJETOS DO GOVERNO PARA O ANO DE 2022

 

Prioridades legislativas

Por
Rodolfo Costa – Gazeta do Povo
Brasília

Fachada do Congresso Nacional, sede das duas Casas do Poder Legislativo brasileiro. Obra do arquiteto Oscar Niemeyer. As cúpulas abrigam os plenários da Câmara dos Deputados (côncava) e do Senado Federal (convexa), enquanto que nas duas torres – as mais altas de Brasília, com 100 metros – funcionam as áreas administrativas e técnicas que dão suporte ao trabalho legislativo diário das duas instituições. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Fachada do Congresso: governo espera a aprovação de microrreformas econômicas em 2022, mas mesmo elas podem ser um desafio| Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

O governo federal encerra 2021 já com o foco em 2022. As atenções, naturalmente, estarão voltadas para o calendário eleitoral. Mas o Palácio do Planalto também espera colocar em votação e aprovar no Congresso algumas pautas econômicas, sobretudo microrreformas como marcos regulatórios setoriais.

As grandes reformas, como a administrativa e a tributária, oficialmente são tratadas como prioridades. Mas, nos bastidores, governistas reconhecem que ambas têm pouca chance de avançar num ano eleitoral.

Na reta final de 2021, com a aprovação no Congresso da PEC dos Precatórios, da nova Lei do Câmbio (PL 5387/19), da nova Lei de Cabotagem, a chamada “BR do Mar” (PL 4199/20), e do Marco Regulatório das Ferrovias (PL 3754/21), o governo obteve sucesso em algumas pautas consideradas prioritárias pelo Planalto.

Outras, contudo, ainda permanecem estagnadas, a exemplo do PL 591/21, a privatização dos Correios e o PLP 11/20, que altera regras do ICMS sobre os combustíveis. A despeito da prioridade dada pelo governo a ambas, as pautas podem ter mais dificuldades de tramitar em 2022 devido a dificuldades políticas e eleitorais que o governo travará no Congresso em um ano de eleições.

O Senado, onde tramitam ambos os projetos, tem sido a Casa onde o governo encontra mais dificuldades para ver suas propostas avançarem. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), é um pré-candidato à presidência da República.


Quais são os projetos que o governo quer ver aprovados pelo Congresso em 2022
Além da privatização dos Correios e da alteração de regras do ICMS sobre os combustíveis, outros propostas são tratadas como prioridades por equipe econômica e pelo Planalto:

Marco do Setor Elétrico (Projeto de Lei 414/2021).
Marco Legal do Reemprendedorismo (PLP 33/20).
Marco Legal das PPPs, as Parcerias Público-Privadas (PL 7063/17).
O projeto das Debêntures de Infraestrutura, que cria novos instrumentos financeiros para projetos de infraestrutura (PL 2646/20).
Além dessas pautas, outros projetos são tratados como relevantes pelo Planalto, segundo informações obtidas pela Gazeta do Povo:

O PL 4728/20, que trata da adesão ao Programa Especial de Regularização Tributária (Pert), o PL 4728/20.
O PL 6299/02, que facilita a liberação de novos agrotóxicos e renomeia as substâncias como pesticidas.
O PL 2633/20, que trata da regularização fundiária.
O PL 2159/21, que trata da nova Lei do Licenciamento Ambiental.
O PL 3179/12, que regulamenta o homeschooling.
O PL 3227/21, que modifica o Marco Civil da Internet.
O PL 490/07, que altera o Estatuto do Índio e estabelece que as terras indígenas devem ser demarcadas por meio de leis.
O PL 191/2020, que regulamenta o garimpo em terras indígenas.

Reformas estruturantes têm pouca chance de sair do papel em 2022
Já as reformas estruturantes, principalmente a administrativa e a tributária, continuam a ser tratadas formalmente como prioritárias pelo governo. Mas figuram em uma lista de “panorama futuro” – o que significa que nem o próprio governo acredita que possam avançar num ano eleitoral.

A reforma administrativa, a proposta de emenda à Constituição (PEC) 32/2020, tende a permanecer travada no plenário da Câmara. O mesmo vale para a reforma tributária prevista pela PEC 110/19, que tramita no Senado; para o projeto que cria a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), lei que unifica o PIS e Cofins, que tramita na Câmara; e a reforma do Imposto de Renda (IR), o PL 2337/21, que está no Senado.

“A reforma tributária que eu tanto lutei para que saísse acho que não sai mais. A CBS não pode nascer antes do que a PEC 110, a não ser que se faça uma alteração constitucional bem pequena caso não aprove a PEC. Mas, de toda a forma, não acredito que [as propostas] avancem”, lamenta o deputado Alexis Fonteyne (Novo-SP), presidente da Frente Parlamentar Mista pelo Brasil Competitivo.

O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), negou anteriormente à Gazeta do Povo que as reformas estruturantes serão deixadas de lado e afirmou que elas seriam retomadas em 2022. Ele entende ser possível retomar a agenda de reformas estruturantes no início do ano legislativo, em fevereiro, e seguir o ritmo até abril, prazo final da janela partidária para a disputa eleitoral.

“Como o prazo final de filiações é 4 de abril, nós poderemos votar ainda no início do ano que vem matérias, porque o período eleitoral começa quando se definem as chapas e as filiações. Vamos fazer um esforço para votar”, afirmou Barros.

À época, o líder do governo garantiu que a tramitação das microrreformas independeria das macrorreformas. “Pautas como os marcos do setor elétrico, das ferrovias e das PPPs são prioridades que já estão tramitando na Casa. Temos a intenção de votar essas pautas independentemente das reformas”, destacou Barros.

A despeito da convicção do líder do governo em retomar as reformas estruturantes em 2022, as chances de matérias como as reformas administrativa e tributária avançarem e serem aprovadas nas duas Casas do Congresso são quase nulas. O foco no calendário eleitoral habitualmente eleva a impopularidade das reformas estruturantes e as torna quase impossíveis de serem aprovadas em um ano eleitoral. E mesmo as microrreformas correm o risco de não passar.

O líder do Novo na Câmara, Paulo Ganime (RJ), é um entusiasta das macro e microrreformas, mas entende que nem todos os novos marcos regulatórios terão chances de ser aprovados ainda em 2022. “Queremos avançar nessas pautas regulatórias, mas nem todas irão [avançar]. Não temos nem tempo”, pondera.

“Digamos que a gente consiga fazer com que todos os relatores liberem seus pareceres e as matérias estejam prontas para ir à votação. (…) Podemos votar alguma coisa no início do próximo ano, mas há pouco tempo para aprovar tudo nas duas Casas e levar à sanção. Espero que possamos avançar pelo menos umas três ou quatro [microrreformas], mas não será simples”, analisa Ganime.

Pautas sociais podem ter alguma prioridade no Congresso
Além das pautas econômicas, outras matérias que podem ir à votação no Congresso são propostas pontuais com foco em programas sociais. É o que tradicionalmente os governos e os parlamentares apostam nos anos eleitorais para, em alguma medida, ampliar sua popularidade.

O governo apostou na PEC dos Precatórios e na Medida Provisória (MP) 1.061/2021, a que institui o programa Auxílio Brasil, para encerrar o ano com seu programa social já estruturado. Mas a defesa de propostas que venham a ampliar o bem-estar dos mais pobres é um cenário não descartado pelo analista político Lucas Fernandes, coordenador de análise política da BMJ Consultores Associados.

“O governo vai tentar ir para o tudo ou nada na agenda populista. A AGU [Advocacia-Geral da União] já entrou no STF [Supremo Tribunal Federal] com o pedido para poder aumentar os gastos sem furar o teto de gastos por conta das eleições. O governo vai ficar nessa de jogar para medidas populistas, mas não vai conseguir aprovar nada substancial da agenda econômica”, diz Fernandes.

O consultor fala em referência a um julgamento no STF que pode permitir o governo zerar a fila de benefícios que receberão o Auxílio Brasil e ampliar o valor do benefício sem incorrer nas limitações da lei eleitoral, que impede o aumento desse tipo de gasto a partir de 1.º de janeiro de 2022.


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