Mais que comprar o Cruzeiro, o ex-atleta abriu as portas dos clubes brasileiros aos investidores
Robson Morelli, O Estado de S.Paulo
Ronaldo não comprou apenas o Cruzeiro, ele colocou o futebol brasileiro à venda. Com os seus R$ 400 milhões por 90% das ações do clube mineiro, um dos maiores atacantes do Brasil e do mundo abriu as portas de uma nova era para os times nacionais. Sua aquisição mistura gratidão pelo clube que o lançou ao estrelato, mas é negócio puro na veia, não se enganem com o contrário. Ronaldo não rasga nem perde dinheiro, como não perdia gols diante dos goleiros.
Sua iniciativa ocorreu após as mudanças do estatuto do clube permitirem que qualquer investidor, nacional ou internacional, pudesse comprar mais do que 49% das ações negociadas, tirando, portanto, o controle acionista do próprio clube, é o que faltava para as SAFs (Sociedade Anônima do Futebol) se tornarem interessantes ao capital estrangeiro, de qualquer parte, da Rússia, dos árabes, da China. Não há mais fronteira para o dinheiro taxado nas SAFs no Brasil.
Ronaldo adquiriu 90% das ações, deixando apenas 10% para os gestores do Cruzeiro. Ou seja, eles não mandam mais nada. Todo o controle é do comprador. Os R$ 400 milhões são uma pechincha, mas pega o clube na baixa. Um time mais bem estruturado seria vendido por valor maior. Pelas leis da SAF, o novo dono de um time de futebol brasileiro pega o clube zerado de dívidas, mas com a obrigação de destinar 20% das receitas para amortizar as pendências financeiras que ficaram para trás. Elas não vão desaparecer. No caso do Cruzeiro, essa dívida é de R$ 1 bi. O time está na Série B.
O que Ronaldo fez foi mostrar ao mundo que os clubes brasileiros e toda a sua tradição estão à venda. Em média, um time de primeira divisão tem receita anual entre R$ 350 milhões e R$ 800 milhões, alguns estimam bater em 2021 em R$ 1 bilhão. Mesmo com a pandemia e com arenas vazias a maior parte do ano, por exemplo, o Flamengo indicou receita em seu balanço anual de 2020 de R$ 669 milhões. O Palmeiras teve R$ 559 milhões, ambos seguidos por Corinthians (R$ 474 milhões), Grêmio (R$ 472 milhões) e Atlético-MG (R$ 418 milhões).
Portanto, os clubes brasileiros têm potencial para fazer receitas com direitos de transmissão dos jogos, patrocinadores, venda de jogadores, bilheterias, camisas e programa de sócio-torcedor. Estão endividados porque suas administrações sempre foram péssimas, sem transparência e voltadas para políticas de ‘cala-boca’ para a torcida, de modo a gastar, em muitos casos, o que não têm com jogadores e técnicos somente para acalmar ânimos.
Ronaldo será seguido por bilionários do mundo inteiro, alguns com experiência, outros nem tanto, claro, desde que os estatutos ofereçam controle acionário acima de 51%, como fez o time de BH. A notícia já se espalhou. É questão de tempo para todos entrarem no jogo.
Ronaldo escreve carta após comprar o Cruzeiro: ‘É a minha vez de abrir as portas para o time’
Ex-jogador e empresário adquiriu 90% das ações do clube mineiro neste sábado e investirá R$ 400 milhões na negociação
Redação, O Estado de S.Paulo
Ronaldo Fenômeno estreou pelo Cruzeiro aos 16 anos e deu início à sua vitoriosa carreira no futebol. Com 45, ele retornou, desta vez, para comprar 90% das ações do clube e ajudar na reformulação de um dos times mais vitoriosos do futebol brasileiro. Neste domingo, ele voltou a falar do motivo que o levou a investir na equipe celeste.
“Voltei porque acredito na volta do Cruzeiro. Não tenho todas as respostas para as perguntas que me faço e, possivelmente, não terei para todas as perguntas que vocês me farão. O que eu sei é que aquele garoto que aprendeu no Cruzeiro que os seus sonhos eram possíveis me faz hoje acreditar que é possível tirar o clube de refém dessa crise”, postou o atleta nas redes sociais.
A situação é delicadíssima. A dívida do Cruzeiro chega na casa de R$1 bilhão. Além disso, o time vai para o seu terceiro ano consecutivo na Série B do Campeonato Brasileiro. Ronaldo investirá R$ 400 milhões no futebol do Cruzeiro. Ele adquiriu 90% das ações do clube, que teve o estatuto mudado com a aprovação da SAF.
“Chegou a hora de voltar. É a minha vez de tentar abrir portas para o time. Não como herói. Não com super poderes para, sozinho, mudar a realidade. Mas com imensa responsabilidade. Com gestão inteligente e sustentável para um crescimento de médio e longo prazo. Com a lealdade de 9 milhões de apaixonados”, completou.
Veja o texto do ex-atacante Ronaldo, agora dono de 90% das ações do Cruzeiro
Em 25 de maio de 1993, entrei em campo pela primeira vez como profissional. Lembro como se fosse ontem da minha emoção ao receber a camisa do Cruzeiro. Eu só tinha 16 anos.
O pouco tempo que fiquei no time se justifica por uma razão: quase 30 anos depois, digo sem nenhuma dúvida que o Cruzeiro me deu a maior oportunidade da minha vida. Foi com a camisa azul celeste que tive a certeza que os meus sonhos de garoto eram possíveis.
Em 8 de agosto de 1994, a despedida do clube que abriu pra mim as portas do mundo; que me proporcionou sentir as primeiras grandes emoções no futebol; que me fez artilheiro, campeão, jogador da seleção; e que me preparou para tudo o que viria adiante.
Há dois anos, vi esse time centenário pelo qual tenho extrema gratidão ser rebaixado pela primeira vez; vi a tristeza tomar conta de uma das maiores torcidas do país. Doeu em mim.
E sinto ainda mais por saber que é sintoma do estado em que se encontra o futebol brasileiro, parado no tempo. O que seria daquele moleque de 16 anos sem a oportunidade de conquistar o mundo com a bola nos pés?
Não tenho todas as respostas para as perguntas que me faço e, possivelmente, não terei para todas as perguntas que vocês me farão. O que eu sei é que aquele garoto que aprendeu no Cruzeiro que os seus sonhos eram possíveis me faz hoje acreditar que é possível tirar o clube de refém dessa crise.
Chegou a hora de voltar. É a minha vez de tentar abrir portas para o time. Não como herói. Não com super poderes para, sozinho, mudar a realidade. Mas com imensa responsabilidade. Com gestão inteligente e sustentável para um crescimento de médio e longo prazo. Com a lealdade de 9 milhões de apaixonados.
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