Enquanto Lula tenta se reaproximar dos evangélicos, Bolsonaro busca os mais pobres e Moro usa a internet para atrair os jovens
Vinícius Valfré, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA — Longe da arena política tradicional, uma montagem do ex-juiz Sérgio Moro caminhando pela Praça dos Três Poderes entre números da Lava Jato caiu na graça dos jovens. Embalado por um hit do momento que brinca com os “tchucos de estilo chique e confortável”, o vídeo curto viralizou no Tik Tok e foi visto quase meio milhão de vezes – uma marca elevada para essa nova rede social. Criado por apoiadores, o conteúdo aproveitou um fragmento de 13 segundos do material gravado para o evento de filiação ao Podemos, oportunidade em que Moro buscou falar de outros temas além do combate à corrupção e, assim, atrair eleitores fora da sua própria “bolha”.
Com a largada do processo eleitoral, pré-candidatos, aliados e simpatizantes tentam ajustar narrativas para dialogar com diferentes grupos. Cada um a seu modo, os pré-candidatos se movimentam para fora de seu eleitorado tradicional. O entorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por exemplo, quer realizar nos próximos meses um grande encontro com líderes evangélicos para recuperar apoio do segmento que foi decisivo na vitória de Jair Bolsonaro (PL) em 2018. A ideia é enfatizar contradições na postura cristã do presidente, como a falta de compaixão por vítimas da covid-19, para tentar tirar votos do atual chefe do Executivo nesse eleitorado.
Bolsonaro, por sua vez, mira na população com menor faixa de renda ao abandonar compromissos liberais e reformistas para mudar o teto de gastos públicos e garantir um auxílio de R$ 400 no ano que vem. Pesquisa Ipec divulgada no dia 14 mostrou que os eleitores com rendimento familiar mensal de até um salário mínimo são hoje os que mais acenam com a intenção de mudar o voto de Bolsonaro para Lula em 2022.
Buscando se consolidar como terceira via, Moro adotou a tática de se contrapor aos dois como alguém de fora da política. “Independentemente de perfis sociais, Moro surge como opção por ser alguém equilibrado que possa sustentar a democracia. É lógico que ele também vem moldando o discurso para poder falar para todos os públicos”, resumiu o deputado Júnior Bozzella (PSL-SP), entusiasta e articulador do projeto eleitoral do ex-juiz.
Para o cientista político Rodrigo Prando, do Mackenzie, neste momento da disputa polarizada entre Lula e Bolsonaro, cabe a Moro “furar sua bolha” para tentar atrair a fatia do eleitorado que ainda não se definiu. “O Moro tem uma vantagem. Ele já é conhecido, surge como alternativa aos dois, e é importante mostrar que é diferente de um e de outro. Os polos têm cerca de 30% da preferência do eleitorado, cada. Tem outros 40% a serem disputados”, afirmou.
Guerra ideológica
Fora das campanhas, outra “guerra” de comunicação tem sido travado entre os campos à esquerda e à direita. Lançado em setembro, um documentário que promove a teoria conspiratória de que a facada sofrida por Bolsonaro na campanha de 2018 foi falsa é disseminado por petistas. O vídeo tem mais de 1,5 milhão de visualizações no YouTube e uma entrevista com o autor chegou a ser divulgada pelo canal oficial do partido.
No polo oposto, a produtora Brasil Paralelo cresce no segmento de vídeos de cunho conservador, não raro dando eco a bandeiras bolsonaristas. Conhecida como uma espécie de “Netflix bolsonarista”, a empresa tem o plano de expandir seus cerca de 260 mil assinantes para as favelas de São Paulo.
A produtora firmou parceria com a ONG G10 Favelas para distribuir acessos a moradores de comunidades. O projeto começou por Paraisópolis, com 500 assinaturas. “Estamos levando informações às pessoas. Ninguém é obrigado a assistir”, disse Renato Dias, diretor da Brasil Paralelo.
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