Eleições presidenciais
Por
Alexandre Garcia
Manifestantes protestam contra eleições presidenciais na Nicarágua.| Foto: Jeffrey Arguedas/EFE
O líder da revolução sandinista, Daniel Ortega, foi eleito domingo (7), mais uma vez, presidente da Nicarágua, com 75% dos votos. O segundo em votos teve 14% e é seu colaborador. Outros quatro candidatos ficaram com menos de 4%. A mulher de Ortega, Rosario, que ele chama de copresidenta, também foi reeleita – vice-presidente. Sete candidatos da verdadeira oposição estão presos. A candidata que detinha a preferência popular, Cristina Chamorro, está em prisão domiciliar. Ela é filha de Violeta Chamorro, que foi presidente na Nicarágua, sucedendo a 11 anos do período pós-revolução de Ortega. Agora ele cumpriu ininterruptamente 14 anos, totalizando 25. E vai para mais cinco, com 76 anos de idade. Pelos últimos três anos, ele fez leis de censura e criminalização da oposição. Milhares de nicaraguenses se exilaram nos Estados Unidos e Costa Rica. Os três principais partidos de oposição foram extintos. A repressão foi legalizada.
É semelhante ao que acontece em outros países banhados pelo Mar do Caribe: em Cuba, por mais de 60 anos; na Venezuela, por quase 20 anos. É uma ideologia, um regime, que exige totalitarismo para se manter no poder, com censura e sem liberdades fundamentais, fingindo eleições e dominando o legislativo e o judiciário. E por aqui é aplaudido pelos que se sentiram no vazio ao perderem a matriz soviética. No Brasil ainda tivemos a sorte de o fisiologismo ter prevalecido sobre a ideologia. A ideologia ficou como rótulo, para atrair idealistas em busca da utopia, mas a apropriação do estado e de suas empresas é que foi a joia da coroa, para sustentar os instrumentos de manutenção do poder. Até que aconteceu, depois de anos de desfrute da apropriação, a revolução do voto na eleição presidencial de 2018 que fechou os ralos e torneiras do estado.
Estamos a menos de um ano de novas eleições. Será a revolução de 2018 confirmada ou se prepara uma contra-revolução? Tal como na Nicarágua de Ortega, nesses últimos anos, a estrutura plantada em tempos de dominação do estado por partido político trabalha dentro e fora dos três poderes para reagir aos novos tempos. A volta ao passado, para muitos é uma questão de sobrevivência; para outros, manutenção de privilégios; para alguns, vingança da derrota; outros mais, por fanatismo ideológico. A CPI foi o divã catártico que revelou esse movimento reacionário.
Temos uma amostra no continente latino-americano do padrão desses regimes; no Brasil, tivemos a experiência da corrupção institucionalizada – sem ela, hoje, teve dinheiro suficiente para socorrer estados, municípios e milhões sem renda. Mas também há um avanço da censura, da restrição a liberdades fundamentais e o silêncio de quem deveria vocalizar as liberdades. Na Alemanha, os judeus foram sendo tolhidos mas pensavam que seria a última vez. A última vez foi quando foram postos em trens para os campos de extermínio. O maior mal, hoje, não vem dos que vociferam ameaças; é dos que ficam calados ante manifestações totalitárias. Encorajados, vão avançar mais. Na Nicarágua, toda movimentação contra a oposição tinha como alvo a eleição desse domingo. Aqui, o alvo é a eleição do ano que vem.
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