Aos 67 anos, chanceler ainda é jovem o suficiente para assumir outros desafios, mas tem mantido a boca fechada a respeito de seus planos para a aposentadoria
Katrin Bennhold e Melissa Eddy, The New York Times, O Estado de S.Paulo
Ela perderá o título por menos de duas semanas: Angela Merkel, ao que tudo indica, não será a chanceler que ocupou o cargo por mais tempo depois de Otto von Bismarck, o líder fundador da Alemanha.
Quando Helmut Kohl finalmente entregou as chaves da chancelaria alemã, em 1998, ele havia passado 5.870 dias no cargo mais graduado de seu país; se Olaf Scholz tomar posse, conforme planejado, no início de dezembro, Merkel deixará a chancelaria a poucos dias de bater esse recorde, como a segunda chanceler a permanecer mais tempo no cargo no período pós-guerra.
Ainda assim, 16 anos são bastante tempo, e depois de passar quase um quarto de sua vida no cargo mais alto do país, muitos se perguntam o que Merkel vai fazer agora.
Sua partida era aguardada havia muito — ela anunciou que não concorreria à reeleição três anos atrás. Desde então, as fábricas de rumores têm funcionado a todo vapor. Alguns a previram aceitando convite para se tornar conferencista de alguma faculdade americana, enquanto outros tiveram esperança de que ela assumisse algum cargo-sênior na União Europeia ou alguma outra instituição internacional.
O que ficou claro desde o início: ela quis deixar o cargo segundo seus próprios termos, em seu próprio tempo. “Quero, em algum ponto, encontrar o momento certo de deixar a política”, disse ela em 1998 a Herlinde Koelbl, uma fotógrafa alemã. “Não quero virar sucata.”
Dois anos atrás, quando Merkel sofreu acessos de tremores incontroláveis, houve o temor de que ela não completasse o mandato. Ainda assim, mesmo sem conseguir superar a longevidade de Bismarck no cargo, Merkel compartilhou com ele a alcunha de “chanceler de ferro” e seguiu firme.
Aos 67 anos, Merkel ainda é jovem o suficiente para assumir outros desafios, mas tem mantido a boca fechada a respeito de seus planos para a aposentadoria. Quando pressionada, Merkel se esquivou com a ideia de que não tem tempo para pensar sobre isso, insistindo que apenas quando deixar a chancelaria será capaz de começar a colocar o foco em seu próximo passo.
“Acho que todo dia de governo tem de ser levado igualmente a sério e sempre considerado com o mesmo olhar atento”, afirmou ela. “Acredito em governar ao mesmo tempo que vivo minha vida pessoal e de maneira tão sensata quanto possível; e em fazer isso até o último dia em que me caiba essa responsabilidade.”
Com esse último dia se aproximando cada vez mais, Merkel começou a falar mais livremente a respeito de uma necessidade que tem de fazer uma pausa longa o suficiente para descansar e refletir a respeito do que realmente lhe interessa. Em uma entrevista que concedeu neste verão, depois de receber um doutorado honorário — seu 18.º — da Universidade Johns Hopkins, a chanceler permitiu o primeiro vislumbre real de como imagina seu futuro.
“Tentarei ler algo — e então meus olhos ficarão pesados, porque estou cansada, daí dormirei um pouquinho. Depois veremos”, afirmou ela.
Mas quando o Parlamento aprovou nove funcionários para trabalhar em tempo integral em seu escritório de ex-chanceler, muitos apontaram rapidamente que trata-se de uma equipe formidável para alguém que planeja ficar deitada no sofá lendo livros.
“Gostaria, nessa fase seguinte da vida, de pensar muito cuidadosamente no que quero fazer”, afirmou em setembro.
“Quero escrever? Quero dar palestras? Quero vaguear por aí? Quero ficar em casa? Quero viajar o mundo?”, afirmou Merkel. “Por esse motivo, decidi que primeiro não vou fazer nada — e verei o que acontece. Acho essa ideia realmente fascinante.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
Pós-Merkel
Quem é Olaf Scholz, que está a caminho de ser o próximo chanceler da Alemanha
Por
Gazeta do Povo
Com raízes socialistas na juventude, Scholz foi se tornando menos radical ao longo dos anos e ganhou fama de pragmático e austero| Foto: EFE/EPA/CLEMENS BILAN
Com o anúncio, nesta quarta-feira (24), do acordo da coalizão de três partidos que deve governar a Alemanha pelos próximos quatro anos – formada pelos partidos Social Democrata (SPD), Verde e Democrático Liberal (FDP) -, o mundo passa a conhecer melhor um nome que já é familiar aos alemães há décadas e que deve encerrar a era Angela Merkel: Olaf Scholz deve ser o novo chanceler do país.
Scholz, de 63 anos, nascido em Osnabruque, na Baixa Saxônia, cresceu em Hamburgo, cidade da qual foi prefeito na década passada. Em 1975, quando ainda estava no ensino médio, ingressou no SPD. Como advogado trabalhista, defendeu operários.
Com raízes socialistas na juventude, foi se tornando menos radical ao longo dos anos e ganhou fama de pragmático e austero e o apelido de “Scholz-o-mat” (algo como “Scholz-automático”), porque seria mais “robô” do que humano. Como secretário-geral do SPD durante a gestão de Gerhard Schröder (1998-2005), defendeu reformas sociais e trabalhistas criticadas pela ala mais à esquerda do partido.
Prefeito de Hamburgo entre 2011 e 2018, Scholz depois se tornou vice-chanceler e ministro das Finanças na coalizão entre o SPD e a aliança União Democrata-Cristã/União Social-Cristã (CDU/CSU) de Merkel, chamada de “grande coalizão”. Foi o responsável pelo pacote de auxílio durante a pandemia na Alemanha e também atuou para a elaboração do fundo de recuperação da União Europeia (UE).
Em setembro, o SPD de Scholz venceu as eleições parlamentares alemãs com 25,7% dos votos, uma margem estreita sobre a CDU/CSU de Merkel, liderada por Armin Laschet, que obteve 24,1% dos votos.
Além da capacidade de adaptação, Scholz é conhecido pelo perfil discreto – o que faz muitos analistas enxergarem uma continuidade do estilo de Merkel à frente do Executivo alemão.
“Ele é como um jogador de futebol que estudou os vídeos de outro jogador e mudou seu estilo de jogo”, disse o analista político Robin Alexander, ao The New York Times. “Desde temperamento e estilo político até a expressão facial, Scholz agora ‘canaliza’ Merkel. Se Scholz fosse uma mulher, ele usaria terninhos.”
Para Andreas Kluth, colunista da Bloomberg, o poder de adaptação e conciliação de Scholz terá agora seu maior teste, não só pela importância do cargo que será assumido pelo ex-prefeito de Hamburgo, mas porque a coalização que irá governar a Alemanha “será um experimento” para o país.
“Pela primeira vez no nível federal, os social-democratas – que produziram apenas três dos oito chanceleres da Alemanha do pós-guerra – governarão tanto com os ambientalistas verdes quanto com os democratas liberais pró-mercado. Os sociais-democratas descendem do marxismo do século 19, os verdes da contracultura dos anos 1970 e os democratas liberais, na sua encarnação atual, do neoliberalismo. Fazer com que este trio cante afinado não será fácil”, alertou.
Este mês, durante as viagens de Luiz Inácio Lula da Silva pela Europa, Scholz se encontrou com o ex-presidente brasileiro em Berlim. O alemão deu RT a uma mensagem de Lula no Twitter falando da conversa e acrescentou um recado ao petista: “Estou muito satisfeito com nossas boas discussões e espero continuar nosso diálogo!”.
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