JULIA CHAIB, MARIANNA HOLANDA E RICARDO DELLA COLETTA – FOLHA DE SÃO PAULO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O namoro de Jair Bolsonaro (sem partido) com partidos do centrão para encontrar uma legenda que o abrigue está sendo marcado por cálculo político das duas partes desde o primeiro momento.
A negociação continua em curso depois que o presidente colocou em dúvida sua filiação ao PL em razão de divergências em composições estaduais.
Bolsonaro disse ainda nesta segunda-feira (15), em Dubai, que seu prazo de espera por uma definição com o PL tem limite –e afirmou que voltou a conversar com outros partidos sobre uma possível filiação.
A hipótese de reeleição do mandatário não é tratada como uma certeza nem na cúpula do PL nem na do PP, que também negociou intensamente uma eventual entrada de Bolsonaro.
Dirigentes de ambas as siglas reconhecem que o pleito de 2022 em nada se assemelha ao de 2018 e que, hoje, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está com vantagem eleitoral.
Nem mesmo a criação e o aumento no valor pago hoje do Bolsa Família para o tíquete do Auxílio Brasil, cuja parcela será de R$ 400, são vistos como capazes de alavancar Bolsonaro nas pesquisas.
Um sintoma desse pragmatismo é o fato de que Valdemar Costa Neto, presidente do PL, indicou que pode liberar parte dos diretórios a apoiar quem quiser na eleição presidencial –razão pela qual Bolsonaro decidiu repensar a filiação e cancelar o evento que estava marcado para o dia 22.
Na sexta-feira (12), o PL publicou uma nota oficial no site do partido na qual afirma que o presidente do diretório em Pernambuco terá plena autonomia para conduzir a escolha de “nomes que constarão na chapa de candidatos majoritários e proporcionais”.
Mesmo fazendo oposição ao governo de Paulo Câmara (PSB), o PL buscou se afastar de Bolsonaro, segundo fontes no estado, por causa da rejeição ao seu nome em Pernambuco.
O cenário faz parte da estratégia eleitoral montada pelo PL, cujo objetivo é fortalecer bancadas na Câmara e no Senado e se posicionar em 2023 como uma força política incontornável –independentemente de quem ocupe o Palácio do Planalto.
O pragmatismo dos partidos do centrão, hoje com Bolsonaro, não vem de agora e é o que garante sua sobrevivência política. O PP e o PL apoiaram governos do PSDB, do PT e do MDB.
Como exemplo, o líder na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), já ocupou o mesmo cargo no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e foi vice-líder nas gestões de Lula e Dilma Rousseff (PT). No governo de Michel Temer (MDB), Barros foi ministro da Saúde.
Assim, o plano do PL para a Câmara em 2022 é aumentar o número de deputados eleitos tendo Bolsonaro como o grande puxador de votos. Hoje, o partido tem 43 congressistas na Casa –a terceira maior bancada.
A legenda já pode registrar um crescimento em 2022, antes do pleito, com a migração de deputados bolsonaristas que pretendem seguir Bolsonaro, se a filiação se confirmar.
Com o desempenho de Bolsonaro e de outros puxadores de voto, líderes da sigla esperam atingir a marca de 60 deputados.
Caso o plano seja bem-sucedido, a direção da legenda diz acreditar que o PL se posicionará como uma força política que não poderá ser ignorada mesmo se Bolsonaro perder a reeleição.
O poder de uma sigla das proporções do PL –e que tem histórico de votar unida em pautas importantes– deve ser suficiente para influenciar placares de interesse do Planalto.
Hoje com quatro congressistas, a bancada do PL no Senado pode ser reforçada com a filiação de Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho mais velho do presidente.
A prioridade na Casa é garantir a reeleição dos dois senadores que devem disputar a renovação dos mandatos em 2022: Romário (RJ) e Wellington Fagundes (MT).
O desenho eleitoral para reforçar a posição do governo no Senado foi um dos principais temas da reunião entre Bolsonaro e o chefe do PL, Valdemar Costa Neto.
No encontro em 10 de novembro, ficou acertado o apoio de Bolsonaro à reeleição de Romário, em uma chapa estadual encabeçada pelo governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL).
Além do Rio, o mandatário e Valdemar simularam a construção de chapas em diferentes estados que devem dar sustentação política à candidatura presidencial.
Trataram, por exemplo, da candidatura do ministro Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência) e do senador Jorginho Mello (PL) para os governos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, respectivamente. Onyx é filiado ao DEM e planeja se mudar para o PL.
A estratégia de reforçar a situação de governistas no Senado envolve ainda a candidatura de aliados que buscarão um primeiro mandato na Casa, não necessariamente pelo PL.
A expectativa é que a ministra Tereza Cristina (Agricultura) tente uma cadeira por Mato Grosso do Sul. Hoje no DEM, ela mantém conversas sobre uma possível filiação ao PP –outro partido que deve apoiar a reeleição de Bolsonaro.
Já o ex-ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) atualmente dialoga com o PL sobre uma eventual candidatura ao Senado por Minas Gerais.
Da parte de Bolsonaro, o cálculo também foi prático. Sem conseguir criar um partido para chamar de seu ou então se apoderar de outra legenda, o presidente resolveu buscar uma sigla que possa lhe dar dois elementos que serão importantes em 2022: tempo de televisão e dinheiro para campanha.
Bolsonaro até tentou fundar a Aliança pelo Brasil após deixar o PSL, partido pelo qual foi eleito em 2018, mas o processo não andou.
Com essa constatação, o mandatário decidiu negociar com as siglas com as quais conversou sobre a possibilidade de ter influência na escolha dos candidatos ao Senado. Apesar de ter na Câmara uma base parlamentar relativamente sólida com partidos do centrão, na Casa ao lado o cenário é outro.
O presidente não consegue ver avançar o processo de indicação de André Mendonça, escolhido por ele para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal), assim como acumula derrotas. Assim, a prioridade do presidente em um novo governo é conseguir ter maioria tanto na Câmara como no Senado.
Em outra frente, a principal preocupação de Bolsonaro é com um palanque competitivo em São Paulo, maior colégio eleitoral do país.
A situação política é complexa. Apesar de não ter uma secretaria no governo João Doria (PSDB), o PL faz parte da base de apoio do tucano.
De acordo com interlocutores, Bolsonaro e Valdemar acertaram esperar uma definição mais clara do cenário eleitoral paulista para avançar nas articulações.
O diagnóstico é que é preciso esperar as prévias do PSDB para melhor avaliar o quadro, principalmente caso Doria seja derrotado pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
Ao Painel, da Folha, o presidente do PL disse que o apoio do PL ao vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB) na disputa pelo Governo de São Paulo poderá ser revisto.
A participação do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) no pleito, possivelmente pelo PSD, também tem sido levada em conta nas discussões sobre o palanque governista em São Paulo. A recente aproximação do tucano com Lula embaralhou um pouco mais o cenário paulista.
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