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CPI da Covid
CPI da Covid
Com menções a ícones pop e memes, CPI vai de Mia Khalifa a Casa de Papel
Hanrrikson de Andrade e Luciana Amaral
Além das acaloradas discussões entre senadores e dos longos interrogatórios realizados nos últimos seis meses, a CPI da Covid, que deve chegar ao fim na próxima terça-feira (26), ficou marcada pelos deboches com ícones da cultura pop, ironias contendo referências históricas e menções a memes famosos nas redes sociais.
Um dos momentos de maior descontração ocorreu à medida que os parlamentares fizeram da ex-atriz pornô Mia Khalifa, digital influencer com mais de 25 milhões de seguidores no Instagram, “personagem” nas reuniões do colegiado.
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A repercussão nas redes sociais foi tão grande que a celebridade de origem libanesa interagiu com o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), no Twitter.
“Em vez de negociar com o Butantan, Pazuello foi negociar a CoronaVac com uma empresa de importação de produtos eróticos… Corre aqui, Mia Khalifa! Acho que estavam te usando de cortina de fumaça!”, ironizou o congressista do bloco de oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido)
O tuíte foi publicado em 18 de julho. Horas depois, Mia entrou na brincadeira e enviou mensagem em resposta, também no Twitter: “Vocês estão em crise… Estou a caminho”.
A ex-atriz pornô foi citada em várias outras oportunidades, sempre em tom de ironia. A brincadeira surgiu dois meses antes em provocação ao senador governista Luis Carlos Heinze (PP-RS), entusiasta de medicamentos sem eficácia no tratamento da covid-19, como cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina.
De acordo com o parlamentar gaúcho, existe uma conspiração internacional para favorecer a indústria farmacêutica (a “big pharma”) e omitir, em escala global, uma suposta eficiência desses remédios no combate aos sintomas do novo coronavírus —fato que é comprovadamente inverídico, segundo estudos clínicos e avaliações feitas por médicos e autoridades sanitárias.
Em várias oportunidades, Heinze mencionou suposta pesquisa da revista Lancet, que, segundo ele, teria sido encomendada por uma empresa gerenciada por uma atriz pornô.
Ele não fez menção nominal a Mia. Mas o argumento do congressista foi imediatamente associado nas redes sociais a uma corrente de fake news que se popularizou durante a pandemia e que tinha a foto da ex-atriz pornô.
“Gostaria de questionar essa comissão, sobre qual das minhas falas, eu citei o nome da Mia Khalifa? Não conheço e nunca ouvi falar o nome dela. Não sabia nem o nome”, rebateu Heinze na reunião realizada em 9 de junho.
Apesar dos esforços do senador bolsonarista em negar a menção a Mia, o estrago já havia sido feito. Nas redes sociais, usuários produziram memes em série com fotos da influencer, e ela própria chegou a publicar uma montagem na qual aparecia prestando depoimento à CPI.
Responsável pelas interações com Mia no Twitter, Randolfe brincou com a situação em vários momentos. Em um dos interrogatórios realizados em junho, o senador insinuou, em tom de ironia, que o colegiado deveria convocá-la para prestar depoimento.
“O senador Heinze, aqui, várias vezes, tem prestado alguns dados importantes a esta CPI, não é? Já informou aqui, por exemplo, que houve a aprovação do Parlamento italiano sobre o uso de hidroxicloroquina, que teve greve pelo tratamento precoce na Grã-Bretanha e que, parece-me, a Mia Khalifa deveria, talvez, vir a esta CPI.”
Gil do Vigor
No depoimento da médica Nise Yamaguchi, suspeita de integrar o chamado gabinete paralelo que assessorava informalmente Bolsonaro e estimulava o uso de cloroquina, em junho, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), soltou um “Desse jeito, o Brasil está lascado”.
A frase fazia referência ao bordão cunhado por Gil do Vigor, um dos participantes do BBB 21 (Big Brother Brasil, 21ª edição) que mais se destacaram no reality show da TV Globo.
A declaração de Aziz aconteceu quando Nise era questionada por senadores da oposição sobre sua eventual defesa da tese da imunidade de rebanho, que consiste em chegar a um ponto de contato com o vírus em que haja uma quantidade suficiente de pessoas imunes, interrompendo a transmissão comunitária.
Cientistas e especialistas em saúde pública são contra deixar parte da população se contaminar naturalmente devido à possibilidade de que muitas mortes ocorram, sem garantia de que a imunidade da maioria seja atingida.
“Vou falar aqui que nem o pernambucano que ficou conhecido: desse jeito, o Brasil está lascado mesmo”, disse Aziz no meio da discussão.
La Casa de Papel
Em 23 de setembro, Omar Aziz fez uma menção irônica à série espanhola La Casa de Papel, sucesso mundial da Netflix.
Depois de ouvir que uma das empresas ligadas ao depoente Danilo Trento, diretor institucional da Precisa Medicamentos, chamava-se Berlin, o chefe do colegiado perguntou se a companhia tinha alguma relação com o personagem Berlim, um dos líderes do assalto à Casa da Moeda da Espanha, enredo da primeira temporada de La Casa de Papel.
“Não é aquele personagem de ‘La Casa de Papel‘?”, questionou Aziz. Randolfe entrou na brincadeira: “Não, essa é a Berlin que o doutor Danilo conhece. Mas o assalto a banco só nisso tem similaridade.”
A Precisa Medicamentos buscou intermediar a compra da vacina Covaxin pelo Ministério da Saúde. As negociações estão envoltas em suspeitas de irregularidades e acabaram canceladas.
Getúlio Vargas
Também no depoimento de Danilo Trento à CPI, Aziz protagonizou outro episódio que gerou piadas na internet. Depois de o depoente se negar a responder questionamentos, alegando que faria uso do direito ao silêncio garantido por habeas corpus do Supremo Tribunal Federal, o presidente da comissão indagou:
“Senhor Danilo Trento, eu tenho uma informação. A história diz que o ex-presidente Getúlio Vargas teria se matado. O senhor participou desse evento, da morte dele?”, ironizou o senador.
Trento permaneceu calado.
Rolando Lero
Em depoimentos realizados em junho, o governista Marcos Rogério (DEM-RO), um dos mais atuantes na defesa de Bolsonaro, foi comparado por colegas ao personagem Rolando Lero, do programa Escolinha do Professor Raimundo, eternizado pelo ator Rogério Cardoso (morto em 2003).
Na nova versão da Escolinha, o personagem é vivido pelo humorista Marcelo Adnet.
O motivo: discursos intermináveis e repletos de figuras de linguagem. Segundo bastidores da comissão, em apuração feita pela Folha de S.Paulo, o apelido teria sido dado por Omar Aziz.
Escolinha do Professor Raimundo
O programa humorístico em si, que ganhou uma versão rejuvenescida após a morte de Chico Anysio, também foi lembrado durante os trabalhos da CPI.
Em um dos vários embates verbais entre Aziz e Eduardo Girão (Podemos-CE) —que se declara independente, mas é tido como alinhado ao discurso do presidente Bolsonaro na comissão—, houve troca de farpas com menção à “Escolinha”.
Depois de apresentar uma questão de ordem —pedido ou questionamento— rejeitada pelo presidente do colegiado, Girão o acusou de “dar notas” para os senadores e protestou. “Aqui não é Escolinha do Professor Raimundo, não. O senhor faz o que quer aqui dentro, manda e desmanda.”
Aziz rebateu com uma ironia: “E vossa excelência é um mau aluno”.
‘Pênis na Fiocruz’
O depoimento com a servidora Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, realizada em maio, repercutiu nas redes depois que ela reafirmou críticas à Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e disse que “havia um pênis na porta” da instituição.
O comentário foi feito depois que senadores da CPI exibiram um áudio com mensagem antiga de Mayra na qual ela relata o episódio do “pênis na porta”. Na mensagem enviada por meio do aplicativo WhatsApp a colegas do ministério, a servidora questiona suposta atuação enviesada da Fiocruz e acusa a instituição de ser contra todo mundo que “não é de esquerda”.
“A Fiocruz é um órgão ligado ao Ministério da Saúde, que é mantida com recursos do Ministério da Saúde, e trabalha contra todas as políticas que são contrárias à pauta deles de minorias. Tudo deles envolve LGBTI, eles têm um pênis na porta da Fiocruz, todos os tapetes das portas são a figura do Che Guevara, as salas são figurinhas do ‘Lula livre’, ‘Marielle vive'”, afirma Mayra, no áudio.
“Existia um objeto inflável em comemoração a uma campanha na porta da entidade”, reiterou ela durante o depoimento, em referência ao suposto pênis.
Mayra ficou conhecida popularmente como “capitã cloroquina” pela defesa entusiástica de remédios sem eficácia no tratamento da covid-19.
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