Artigo
Por
Allison Schrager, para o City Journal* – Gazeta do Povo
Falta de inovação e intervenção excessiva do Estado impedirão a China de tomar o lugar dos EUA| Foto: BigStock
Ser a economia mais importante do mundo significa estar na vanguarda da inovação — contribuindo constantemente com novas ideias que mudam o mundo, ou pelo menos ter uma economia capaz de reconhecer e adotar as melhores e mais recentes tecnologias. Por mais de um século, os Estados Unidos desempenharam esse papel. Antes disso foi o Reino Unido, o primeiro a se industrializar. Um dia, outro país tomará esta posição — mas nunca será a China.
Pelo menos, não a China sob sua liderança atual. No mês passado, o Partido Comunista Chinês (PCC) demonstrou o motivo pelo qual a China nunca será a líder mundial em inovação e, portanto, porque nunca assumirá a liderança econômica global. Decisões recentes oferecem um alerta para os políticos e legisladores americanos que pretendem emular aspectos da política industrial chinesa.
Pequim suspendeu o que teria sido um dos maiores IPOs do mundo. Reprimiu empresas de jogos, mídia social e tutoria, tornando extremamente difícil para elas se listarem nas bolsas americanas; está bloqueando fusões, emitindo multas para violações antitruste, questionando o uso de dados dessas empresas e sobrecarregando-as com outras regulamentações punitivas. O Estado afirma estar fazendo isso para o bem da sociedade, ecoando muitas das mesmas preocupações dos americanos em relação à influência da Big Techs. O Partido afirma que deseja desviar recursos para setores mais estratégicos, como os de semicondutores.
Os mercados reagiram a esses movimentos, mas não com tanta força quanto se poderia esperar. Afinal, as ações da China são coerentes com a forma como ela lidou com a política industrial no passado e com o desejo de Pequim de controlar o ritmo e os termos do crescimento econômico. A abordagem tem funcionado bem até agora: a China teve uma média de crescimento de mais de 7% nos últimos dez anos e seu PIB está a caminho de superar o dos EUA até 2032. Mas, a menos que algo mude, é improvável que a China consiga manter essa alta taxa de crescimento ou se tornar o líder econômico global com base no PIB per capita.
Já vimos esse filme antes. Outros países do Leste Asiático cresceram rapidamente com a política industrial, embora em menor escala. Na década de 1980, muitos diziam que a economia japonesa logo dominaria o mundo. Essa narrativa familiar sugere que a política industrial pode trazer crescimento sem riscos. Se apenas o sábio burocrata do governo escolher os melhores projetos de investimento, ninguém perderá dinheiro e todos terão lucro. No entanto, na ausência de inovação contínua, essa estratégia atinge um teto, especialmente em sociedades com populações envelhecidas. Portanto, embora Coreia do Sul, Cingapura e Japão sejam prósperos, eles não são potências econômicas globais.
Os economistas acreditam que os países podem crescer de certas maneiras — podem adicionar mais pessoas, mais capital ou ambos. A China, como outros países do Leste Asiático, cresceu rapidamente fazendo as duas coisas. Aproveitou sua grande população para educá-la e transferi-la para fábricas e cidades, e adotou tecnologia estrangeira, tornando os trabalhadores ainda mais produtivos.
Depois de um tempo, essa estratégia perde o fôlego e a economia começa a encolher. Adicionar mais capital não fará muita diferença, porque, por exemplo, uma pessoa só pode usar vários computadores. Nesse ponto, a única maneira de crescer é sendo mais produtivo do que qualquer outra pessoa. Isso exige inovação — encontrar maneiras de usar melhor os insumos existentes. Até agora, a China não foi testada dessa forma, e a última rodada de restrições econômicas sugere que ela nunca chegará lá.
A inovação não segue os planos do governo. Frequentemente, as inovações mais transformadoras acontecem por acidente ou em áreas onde menos se esperaria. Esse foi o caso da penicilina, da borracha vulcanizada (usada para fabricação de pneus) e da máquina a vapor comercial. A agora problemática indústria de jogos da China poderia ter criado a próxima grande inovação — mudando o mundo com seu trabalho em reconhecimento facial, análise espacial 3D ou deepfakes.
Os governos não podem apenas não ditar qual será a próxima inovação transformadora; eles também não podem determinar os melhores usos do capital que financia a inovação. Pequim está reduzindo o financiamento de ações, especialmente de investidores estrangeiros. Essas entradas são cruciais para o crescimento de empresas emergentes. O corte do capital próprio limita a capacidade dessas empresas de comercializar suas inovações. O mercado também traz disciplina porque os investidores exigem eficiência, produtividade e viabilidade comercial. Eles tendem a ser melhores em escolher vencedores do que os burocratas do governo, que têm objetivos diferentes.
As indústrias favorecidas por Pequim podem continuar a crescer e atrair investidores, mas as indústrias favorecidas podem mudar repentinamente. E mesmo essas indústrias agora operam em desvantagem porque a economia chinesa e o mundo acabaram de perder uma importante fonte de inovação. As chances de que a China continue a crescer nos próximos anos são boas, mas o crescimento deve desacelerar à medida que sua população encolher e o país descobrir que carece da inovação necessária para atingir o auge da economia global. Os políticos americanos devem ficar atentos.
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