domingo, 9 de maio de 2021

O QUE DEVE SER FEITO PÓS-PANDEMIA

 

MARCUS PESTANA

Liberdade, desenvolvimento, desigualdades e sustentabilidade

Atravessamos um período gravíssimo de nossa história, em que há uma combinação explosiva entre a nefasta pandemia, o desemprego e o agravamento da miséria e da fome. Já são 420 mil vidas brasileiras perdidas. Para além da retórica política de quem quer que seja, há uma evidência: o Brasil tem 2,7% da população mundial e 12,9% das mortes causadas pela Covid-19.

Talvez a morte do tão querido ator e humorista Paulo Gustavo nos abra os olhos e nos sensibilize para o sofrimento das milhares de famílias que anonimamente perderam seus parentes. A não ser que haja uma adesão coletiva à cínica afirmação de Stalin, ditador da antiga URSS, que afirmou: “Uma única morte é uma tragédia, 1 milhão de mortes é uma estatística”.

De qualquer forma é preciso repensar o futuro do país. Qual é o Brasil que queremos quando a tempestade passar? O debate público é centrado em torno de personalidades, seus atributos e defeitos. As candidaturas têm conteúdo mais personalista do que programático.

Honra seja feita, como exceção, ao fato de Ciro Gomes ter lançado o livro “Projeto Nacional: O Dever da Esperança” (Editora LeYa) e de o PSDB ter lançado, com o apoio do Instituto Teotônio Vilela, a coletânea de artigos “O Brasil Pós-Pandemia: Uma Proposta para Reconstrução do Futuro” .

Já disse aqui que não é o momento de discutir a sucessão presidencial de 2022. A população está interessada em vacina, emprego e segurança alimentar. Dado isso, seria um bom momento para partidos amadurecerem um projeto para o futuro do país.

Essa reflexão, em minha opinião, deveria abranger quatro eixos centrais. O primeiro é sobre a questão democrática. A liberdade e a democracia andaram ameaçadas. Quais as travas necessárias para evitar retrocessos? Qual é a reforma política profunda que temos que produzir? Quais as transformações constitucionais e legais para que a convivência entre os Poderes republicanos supere o permanente estado de conflito que vivemos? Qual é o papel do Poder Judiciário e das Forças Armadas? E o papel do Brasil no cenário mundial? Perguntas que precisam ser respondidas por qualquer candidato à Presidência.

Em segundo lugar, a discussão sobre o novo modelo de desenvolvimento econômico. Como crescer, incluindo? Qual Estado precisamos? Como conseguir uma integração competitiva ao mundo globalizado? Quais são as diretrizes corretas para as políticas fiscal, monetária e cambial? Como privilegiar a inovação e o empreendedorismo? Como enfrentar o desemprego tecnológico? Como repensar o mundo do trabalho? Como superar a armadilha do baixo crescimento?

Em terceiro lugar, o desafio de combate às crônicas e inaceitáveis desigualdades pessoais e regionais de renda e qualidade de vida. Qual é a educação e a saúde com que sonhamos? Quais as formas de redistribuir renda? Qual seguridade social e rede de proteção precisamos? O dever número 1 de qualquer candidatura é explicitar suas estratégias para tirar milhões de brasileiros da miséria e da pobreza. Por último, a visão da sustentabilidade e do compromisso ambiental, onde o Brasil tem papel central no debate internacional.

Política é meio, não fim em si mesma. Um candidato à Presidência não pode ser um rebelde sem causa. Antes de debater nomes, é urgente discutir as ideias.

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