Ex-presidente acredita que é preciso esperar o ano que vem para verificar qual quadro se desenhará
Marcelo de Moraes, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA – Preocupados com o cenário de radicalização na disputa presidencial para 2022, empresários do setor de varejo e consumo aproveitaram encontro com o ex-presidente Michel Temer para questionar se não surgirá alguma alternativa de Centro, contra Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. Temer acredita que esse nome poderá surgir ainda, mas apenas em 2022. E esse calendário evitaria que o candidato acabasse se expondo antes da hora e se queimasse com o eleitorado.
“Hoje há duas radicalizações. Mas acho que vai acabar aparecendo alguém que caminhe pelo meio. Acho que isto não é improvável. Mas não será agora. Quem aparecer agora, será queimado. Para usar uma expressão entre aspas. Acho que tem de esperar o ano que vem para verificar qual é o quadro que se desenhará. Esperar fevereiro, março do ano que vem para começar a definir candidaturas”, afirmou Temer em resposta a Fernando de Castro, conselheiro do Instituto do Desenvolvimento do Varejo (IDV), durante o evento promovido pela Gouvêa Ecosystem e que reuniu cerca de cem dos principais representantes do varejo e do consumo.
Por causa desse cenário e dessa busca por um nome de Centro, os empresários também queriam saber se o próprio Temer não estaria disposto a se tornar essa alternativa para a disputa de 2022. Mas o ex-presidente deixou claro que não pensa seriamente nessa hipótese.
“Já fiz um pouco de tudo na vida”, disse. “Eu confesso que já cumpri um papel e fico muito seduzido quando as pessoas com sua delicadeza emitem essa opinião. Que é um reconhecimento ao que nós fizemos. Mas confesso que não tenho muito essa disposição, não. E aliás só discutiria isso em 2022. Mas não tenho muita disposição não”, insistiu.
Na verdade, Temer defendeu junto aos empresários que é preciso deixar que esse assunto da sucessão seja tratado apenas no próximo ano. Na sua visão, a prioridade para 2021 precisa ser o combate à pandemia.
“Não devemos antecipar 2022 em 2021. Porque em 2021 já temos problemas suficientes. Temos de combater a pandemia e começar a recuperar a economia. Este é o projeto para 2021. 2022 tem de deixar para 2022”, afirmou.
Com sua experiência jurídica, Temer foi provocado por Flávio Rocha, da Riachuelo, sobre os frequentes conflitos entre Judiciário e Executivo e como isso poderia ser solucionado.
“Não vejo como resolver o conflito entre o Executivo e o Judiciário, que tem se exacerbado. Alguns chamam até de ativismo judicial. O poder realmente vem do povo, o povo mudou, o povo amadureceu. E essa mudança chega de supetão no Executivo. Mas, muitas vezes, essa mudança vai durar uma geração para chegar ao Judiciário. Ao Supremo. Então, acho que a gente está assistindo aí a um choque de gerações entre a vontade do povo, que é expressa de imediato no Executivo. Que demora um pouco mais para chegar ao Legislativo, porque essa mudança é gradual, apesar da mudança significativa que houve em 2018 e confirmada em 2020. Então, como pacificar esse choque de geração expressa em visões não só conflitantes, mas às vezes antagônicas de mundo? E como impedir que isso não traga um altíssimo preço nesse momento tão crucial à gestão pública e ao povo brasileiro em última análise”, questionou Flávio Rocha.
“Acho que a solução é pregar”, disse Temer. “Como estamos pregando aqui, onde as amigas e os amigos são formadores de opinião. Se cada um se convencer, se cada um pregar, acho que não há outra solução”, avaliou.
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