segunda-feira, 29 de março de 2021

PETROBRAS SERÁ COMANDADA POR UM MILITAR

 

General Joaquim Silva e Luna vai tomar posse no próximo mês. Bolsonaro substituiu presidente anterior por causa da política de preços em vigor

Por THAÍS MOTA

Joaquim Silva e Luna

Silva e Luna é general e atualmente é presidente de Itaipu

Foto: Marcelo Camargo / Agência BrasilUnsubscribe from push notifications

Após três décadas, a Petrobras voltará a ser comandada por um militar. Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro, o general da reserva do Exército Joaquim Silva e Luna tem posse prevista para o início de abril. Sua gestão marcará o fim de um período em que a empresa foi comandada por civis, em sua maioria economistas, engenheiros, administradores e políticos. 
Luna vai substituir o economista Roberto Castello Branco, que estava no comando da estatal desde o início da gestão de Bolsonaro. A saída de Castello Branco se deu após o presidente ficar irritado com a política de preços dos combustíveis da petrolífera, que teve sucessivos reajustes no início deste ano.

O último militar que presidiu a estatal foi o engenheiro fundador da Embraer e coronel da Força Aérea Brasileira (FAB) Ozires Silva. A gestão de Silva foi entre 1986 e 1988, durante o governo de José Sarney, período imediatamente após a ditadura militar e que foi marcado pela continuidade da influência das Forças Armadas em alguns setores. PUBLICIDADE

Na avaliação do diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) e professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, William Nozaki, a indicação de um militar para o comando da estatal segue uma tendência do governo Bolsonaro, que tem nomeado oficiais para diversos cargos, inclusive para outras estatais. 

Além disso, Nozaki destaca que Luna não será o primeiro militar no alto escalão da estatal, que já tem outros dois nomes no Conselho de Administração. 

“O almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira já é presidente do conselho. E dentro do conselho já tem outro militar, o Ruy Flaks Schneider, que é também oficial da reserva da Marinha. Ambos já são da gestão do Bolsonaro, e agora tem mais um. Então, com o Luna, são três militares no Conselho de Administração”, diz.  Ambos, inclusive, foram novamente indicados pelo presidente para compor o conselho da empresa.

Antes da Petrobras, Silva e Luna estava no comando de Itaipu Binacional, onde, na avaliação de Nozaki, fez uma gestão liberal, mas com investimentos na construção da ponte Brasil-Paraguai, no aeroporto de Foz do Iguaçu e nas rodovias no entorno da hidrelétrica. 

“A gestão dele em Itaipu foi assentada em um tripé, que ele sempre apontou como diretrizes da sua gestão e que são elementos de natureza liberal: austeridade, transparência e responsabilidade. Para ele, são eixos estratégicos da gestão”, completa Nozaki.

Diretrizes devem ser mantidas

Na avaliação de William Nozaki, apesar de a mudança na presidência da Petrobras ter sido feita em meio aos debates sobre os sucessivos aumentos dos preços dos combustíveis no Brasil, ela não deve representar alterações consideráveis na gestão atual da empresa.

“Essa chegada (do general Luna) não justifica qualquer leitura de que a Petrobras esteja fazendo uma guinada antiliberal ou pró-nacional ou pró-Estado, porque não é este o projeto que hegemoniza uma parte significativa dos militares hoje, inclusive aqueles que compõem o governo”, avalia. 

Segundo ele, a principal mudança deve ser na frequência do repasse das flutuações do câmbio e dos preços do petróleo no mercado internacional ao preço final dos combustíveis no Brasil. No entanto, a política de Preço de Paridade Internacional (PPI) – que orienta a formação do preço da gasolina e do diesel – deve se manter inalterada. 

“Não há divergências entre o Bolsonaro e Luna sobre qual deve ser a diretriz da política de preço. Há um consenso entre eles de que deve permanecer a política de preços de paridade de importação”, disse. E continuou: “O que acontece é uma divergência sobre qual é a melhor forma de fazer a gestão da atual política de preços. Ela não deve sofrer alterações profundas, mas é muito provável que a frequência de repasses de preços diminua e volte ao que era o patamar do ano passado”.
Ainda conforme Nozaki, nos últimos três meses, a média de reajustes no preço dos combustíveis foi de um a cada 12 dias. No ano passado, essa média era de um reajuste a cada 18 dias. 

Visão de mercado deve permanecer

A troca de um economista por um militar no comando Petrobras não significa que empresa deixaria de seguir os princípios de mercado que foram retomados na gestão de Michel Temer (MDB) e mantidos no governo de Jair Bolsonaro.

“Não dá para dizer que militar é estadista e que economista é liberal. A gente tem militares na presidência da Petrobras que conduziram projetos de investimento mais pró-Estado e outros que conduziram projetos de abertura mais pró-mercado. Do mesmo jeito que a gente tem civis que, mesmo em governos liberais, tiveram medidas intervencionistas”, avalia o diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, William Nozaki.

“O governo FHC, por exemplo, apesar da orientação neoliberal, em alguns momentos precisou intervir sobre os preços dos combustíveis”, completa o especialista.

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