terça-feira, 30 de março de 2021

GOVERNO QUER LIBERAR FERROVIA FERROGRÃO PARA CONTINUAR AS OBRAS

 

Ministro da Infraestrutura tenta derrubar no Supremo liminar que barrou construção da ferrovia, aposta para escoar produção de Mato Grosso

André Borges e Rafael Moraes Moura, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – Na tentativa de destravar o principal projeto logístico do País, o ministro da InfraestruturaTarcísio Gomes de Freitas, passou parte dos últimos dias conversando diretamente com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), com o propósito liberar o licenciamento ambiental da Ferrogrão, ferrovia cotada para ser a principal rota de escoamento do agronegócio do País.

No dia 15 de março, o ministro do STF Alexandre de Moraes atendeu a um pedido de liminar do PSOL e suspendeu o empreendimento. Moraes acatou o argumento de que o traçado previsto para a ferrovia cortaria área de uma floresta protegida, o Parque Nacional do Jamanxim, no Pará, e que também passaria por cima de terras indígenas.

Tarcísio Gomes de Freitas
Tarcísio de Freitas procurou ministros do STF para tentar apoio e retomar obra. Foto: Adriano Machado/ Reuters

A decisão de Alexandre de Moraes tinha previsão de ser levada ao plenário virtual do STF na última sexta-feira, mas foi retirada da pauta pelo próprio ministro. Dentro do governo, a avaliação é de que Moraes, ao discutir os detalhes do projeto e ouvir os argumentos do Ministério da Infraestrutura, deve mudar sua posição.

Nas duas últimas semanas, o ministro entrou em contato diretamente com Moraes e outros ministros do STF para explicar o projeto e tentar demover a decisão de paralisar o licenciamento. O Estadão apurou que as conversas ocorreram, ao menos, com os ministros Dias ToffoliGilmar Mendes e Ricardo Lewandowski.

Antes de deixar o cargo, na segunda-feira, 29, o ex-advogado-geral da União José Levi Mello também chegou a entrar em campo e conversar com os magistrados sobre o assunto. Dentro do governo, a expectativa é de que Moraes reverta a sua liminar.

‘Faixa de domínio’

O principal argumento do Ministério da Infraestrutura é o de que os 933 quilômetros de trilhos da ferrovia, prevista para ligar os municípios de Sinop (MT) e Itaituba, nas margens do Rio Tapajós, no Pará, correm a poucos metros do traçado atual da rodovia BR-163, ou seja, dentro da “faixa de domínio” de 50 metros na lateral da estrada. Dessa forma, segundo o governo, não há invasão de unidade de conservação federal, já que se trata de uma área desapropriada e ocupada ao longo da rodovia.

Quando Moraes suspendeu o licenciamento da ferrovia, sua decisão também suspendia os efeitos de uma medida provisória de 2016 – transformada em lei (13.452/2017) – que alterou os limites do Parque Nacional do Jamanxim, no Pará. Na ocasião, a interpretação do ministro foi que o traçado da ferrovia cortaria essa unidade de conservação e que não se pode reduzir as unidades por meio de MP. Ocorre que esse entendimento de proibir alterações de áreas protegidas por meio de medida provisória só passou a vigorar em 2019, conforme decisão do próprio STF.

Sobre os impactos a terras indígenas, o governo sustenta que o traçado corre fora dos limites de terras demarcadas, havendo aproximação em apenas uma terra no Pará, nas proximidades do ponto final da ferrovia. Indígenas dos povos Munduruku e Kayapó reivindicam transparência e direito de consulta prévia sobre o processo de concessão da Ferrogrão. O governo tem declarado que fará todas as consultas prévias a esses povos, incluindo no processo de licenciamento as condicionantes socioambientais que forem necessárias.

O valor estimado de investimento na Ferrogrão é de R$ 12 bilhões. O projeto é visto como um divisor de águas no escoamento da produção no País, ao levar parte da carga do agro para os portos da região Norte, em vez de destinar toda a carga para os portos das regiões Sudeste e Sul. O governo aposta na ferrovia para facilitar o escoamento da produção de milho, soja e farelo de soja do Estado de Mato Grosso, além do transporte de óleo de soja, fertilizantes, açúcar, etanol e derivados do petróleo.

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