Carne feita de plantas: entenda como funciona esse mercado bilionário
Conheça como o mercado de carne feita de plantas tem se desenvolvido no Brasil e no mundo – e quais são as startups para ficar de olho!
Por Tainá Freitas – 4DStartSe University
Você pode até não comer as carnes “feitas de plantas”, mas deve começar a olhar atentamente para elas por outro motivo: o potencial mercadológico. Em 2019, o mercado global de carne vegetal foi avaliado em US$ 3,3 bilhões, de acordo com a GrandView Research.
Nos supermercados, esses produtos já concorrem com as carnes “tradicionais” nas gôndolas. São muitas as opções: hambúrgueres, linguiças, almôndegas, frangos e peixes. Elas são criadas com diferentes matérias-primas: soja, ervilha, batata, grão de bico, beterraba… A receita varia de acordo com o fabricante.
As carnes feitas de planta conquistam paladares pela semelhança e por todo o caminho percorrido até a mesa do consumidor. Isso porque não há sacrifício animal; e, em algumas marcas, há a premissa de um menor impacto ambiental.
Além da perspectiva ambiental, existe também a social: a estimativa da ONU é de que a população mundial alcance cerca de 10 bilhões de pessoas em 2050. Como alimentar tanta gente é uma das preocupações no mundo inteiro desde já – e a carne plant-based e até de laboratório se tornam alternativas cada vez mais viáveis.
É o futuro?
Futuro Burger 3.0, da Fazenda Futuro
Em 2017, Marcos Leta, fundador da empresa de sucos Do Bem, e seu sócio Alfredo Strechinsky criaram a startup Fazenda Futuro. A empresa foi fundada após estudarem o mercado brasileiro de alimentos. Desde o início, a premissa foi concorrer com os frigoríficos, para ganhar o paladar de quem consome carne. O plant-based não se restringe aos vegetarianos e veganos.
A foodtech carrega em seu nome o que acredita – que, em breve, as carnes feitas de planta farão parte da fazenda do futuro. A iniciativa já é, em parte, uma realidade: a startup brasileira exporta seus produtos para 14 países.
Segundo dados do Grupo Pão de Açúcar disponibilizados pela companhia, a venda de carnes à base de plantas cresceu a uma média constante de 150% desde maio de 2019 nas lojas Extra e Pão de Açúcar. Atualmente, alternativas plant-based representam 1/3 da venda bruta total dos hambúrgueres congelados.
Mariana Tunis, líder de marketing da Fazenda Futuro, explica como a companhia tem trabalhado para se desempenhar em cada país: “Temos mercados que estão em desenvolvimento, como o Brasil, e ainda mercados mais competitivos tanto em produtos quanto em marcas. Em cada um deles temos algo novo a aprender sobre posicionamento. Aprendemos como consumidores entendem a categoria e como já é de nossa essência, hackeamos, e nos adaptamos para ser uma marca que efetivamente fala com o consumidor local”.
A resposta dos frigoríficos
No Brasil e no mundo, grandes frigoríficos não estão alheios à tendência. A americana Tyson Foods, por exemplo, já possui suas versões de nuggets plant-based. A JBS estuda criar uma empresa independente apenas para lidar com proteína vegetal. Nas prateleiras, a companhia traz seus produtos na linha “Incrível”, da Seara.
“Já esperávamos um movimento deles [frigoríficos] em relação a nossa chegada. Essa abertura de mercado é importante para a categoria, mas nós seguimos acreditando que temos um diferencial importante: além de pioneiros no Brasil, temos propósito. Queremos mudar como as pessoas consomem carne, trazendo também sustentabilidade, saudabilidade e sem sofrimento animal”, afirma Mariana Tunis.
… e dos restaurantes
McPlant oferecido no site do McDonald’s Dinamarca (foto: montagem/McDonald’s)
A mudança tem acontecido também em restaurantes, que passaram a oferecer alternativas plant-based, inspiradas em carnes ou não. No Brasil, a alternativa vegetariana do McDonald’s é um queijo coalho empanado, enquanto no Burger King existem duas opções: hambúrguer plant-based inspirado em carne ou de grão-de-bico.
Já nos Estados Unidos, o McDonald’s não apenas oferece uma versão de carne feita de plantas, como realizou uma parceria com a Beyond Meat – uma das maiores empresas do mercado – para desenvolvimento do “McPlant”, uma alternativa exclusiva para o fast-food de arcos dourados.
Enquanto isso, o Burger King dos Estados Unidos optou por fazer uma parceria com a concorrente da Beyond Meat. A Impossible Foods foi a empresa escolhida para oferecer os hambúrgueres na rede de restaurantes.
A Beyond Meat, fundada em 2009, possui capital aberto e o valor de mercado de US$ 8,97 bilhões. Já a Impossible Foods, de 2011 e do Vale do Silício, é de capital privado e já recebeu US$ 1,4 bilhão em investimentos.
A gente já experimentou um hambúrguer da Beyond Meat, confira no vídeo:
Mercado em desenvolvimento
Brasileiros estão desenvolvendo carnes feitas de plantas não apenas no Brasil, mas também ao redor do mundo. André Menezes entendeu como esse mercado funciona na Ásia após ir para Singapura e se tornar gerente geral da Country Foods Singapore (joint venture da Sats com BRF).
“Nasci comendo e adorando carne, nunca achei que ela poderia ser substituída, mas experimentei o Impossible em 2016 e entendi a mudança acontecendo. Como CEO da joint venture, tinha o dever de olhar para o futuro. Se não vai ter carne, qual é a alternativa?”, explicou André Menezes em entrevista à StartSe.
Hoje, Menezes é fundador da Next Gen, junto ao sócio Timo Recker. Recker também fundou a LikeMeat, empresa do setor que foi vendida posteriormente. Foi com o capital de US$ 2,2 milhões que eles iniciaram a companhia, que recentemente levantou US$ 10 milhões em uma rodada semente. Agora, eles estão trazendo frango à base de plantas para prateleiras da Ásia – e, em breve, para outras regiões do mundo.
“O maior consumo de carne do mundo está no oriente, mas carne plant-based ainda é muito incipiente por aqui. Singapura e Hong Kong são as exceções neste aspecto”, conta Menezes. “Existe um interesse e uma aceleração na aceitação de dois anos para cá. A maior parte da população acredita que isso está aqui para ficar e está disposta a aceitar”.
Menezes conta que a fatia deste mercado em comparação ao de carne ainda é irrelevante, mas que há um grande crescimento. Marcas como Beyond Meat, Impossible Foods e Only Porks já fazem parte da rotina em Singapura.
André Menezes, cofundador da Next Gen
Carne x frango
Diferente da Fazenda Futuro, a aposta de primeiro produto da Next Gen é o frango feito de plantas. Por que o frango? “É a proteína mais consumida do mundo, mais versátil e mais aceita na Ásia. O frango é universal, pois quase todas as religiões, países e culturas são abertos ao consumo”, explica Menezes.
Ele ressalta que o produto é um frango com fibras, cheiro e textura de frango – e não de nuggets, como é comum encontrar. Entre os ingredientes, estão a água, soja, óleo de girassol, fibra de aveia, entre outros.
“O valor nutricional é bastante próximo ao frango. Em Singapura, há a ‘escolha mais saudável’, em que produtos mais saudáveis no ponto de vista nutricional recebem um cedo. Em geral, plant-based é melhor que a média em sódio e gordura saturada”, afirmou o fundador da Next Gen.
A startup não possui fábricas próprias, mas parceiros que produzem o produto a partir de sua receita e ingredientes. O modelo foi adotado para facilitar a expansão ao redor do mundo. Atualmente, o frango é produzido na Holanda e comercializado diretamente para restaurantes.
“Por ter trabalhado com líderes globais e Temo ter a experiência prévia com a LikeMeat, temos um entendimento mais claro do que fazer ou não. Vamos ter fábricas ou trabalhar com parceiros? Vamos vender para mercados ou direto para restaurantes? Essas foram algumas das questões”, disse Menezes.
E o preço?
No Brasil, a bandeja com dois hambúrgueres da Fazenda Futuro é vendida por cerca de R$ 16. Na Next Gen, o preço em Singapura ainda não foi definido, mas a estimativa é que pratos com o frango à base de plantas tenham o valor 10% maior do que com o tradicional. No entanto, as duas companhias concordam em um ponto: o preço tende a diminuir quando a adoção aumenta.
“Existe uma percepção que o plant-based será sempre mais caro. À longo prazo, poderá ser mais barato do que a carne tradicional. O preço hoje é mais alto por não ter escala. Com o tempo, o consumidor sentirá que não está perdendo nada em se alimentar de forma mais sustentável”, acredita o COO da Next Gen.
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