terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

PERFIL DO EMPREGO MUDOU COM A PANDEMIA

 

Isolamento na pandemia muda perfil do emprego formal no ano passado

Ocupações ligadas ao serviço de entregas e ao atendimento remoto ficaram no topo do ranking das que mais ampliaram as contratações com carteira assinada em 2020

Márcia De Chiara, O Estado de S.Paulo

O isolamento social imposto pela pandemia mudou o perfil do mercado de trabalho formal no ano passado. As ocupações ligadas ao serviço de entregas e ao atendimento remoto ficaram no topo do ranking das que mais ampliaram as contratações com carteira assinada em 2020. Em contrapartida, aquelas ligadas à educação, turismo, cultura e transportes, atividades que envolvem aglomerações, encerraram o ano com saldo negativo de vagas em comparação com 2019.

Auxiliar de logística, por exemplo, foi a ocupação que mais aumentou o número de vagas: encerrou o ano com 19.276 trabalhadores com carteira assinada. O crescimento foi de 28,1% no estoque de emprego sobre o ano anterior. Também os estoquistas (19,1%) e embaladores de produtos (12,7%) apresentaram taxas de crescimento de dois dígitos no saldo de postos de trabalho no ano. O resultado dessas categorias está bem acima da variação média do avanço do emprego formal, que foi de apenas 0,4% em 2020.

No ano passado, o mercado formal de trabalho como um todo teve um saldo positivo de 142,7 mil vagas de emprego Foto: JF Diorio/ESTADÃO

Os dados são de um levantamento feito pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) a partir das 2,5 mil ocupações codificadas no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho.

“Das profissões tradicionais que mais geram ocupação, praticamente nenhuma figura entre as que se destacaram no ano passado em termos de saldo positivo de vagas”, afirma Fábio Bentes, economista-chefe da CNC e responsável pelo estudo. A única exceção é a ocupação de alimentador de linha de produção, cujo saldo de vagas em 2020 foi de 182.267, com avanço de 18,3%.

Reversão

O abalo no comércio presencial foi tão forte que a ocupação de vendedor, uma das que mais empregam formalmente no País, teve queda 4% no estoque de empregados no ano passado sobre o de 2019. Foram fechadas liquidamente 76 mil vagas. “É o retrato da transformação do varejo: menos consumo presencial e mais e-commerce.”

No entanto, observa Bentes, a recuperação que houve no comércio a partir do segundo semestre abriu oportunidade de colocação para atendentes de lojas e mercados, com crescimento de 13% nas contratações; armazenistas (11,9%), repositores de mercadorias (8%) e até vendedores  em domicílio (7,9%).

Entre as vinte ocupações que mais ampliaram vagas em 2020 estão também as ligadas à agricultura e à construção civil, dois setores que tiveram bom desempenho, mesmo com a pandemia.

O outro lado da moeda apontado pelo levantamento é que ocupações ligadas à educação, transportes e turismo foram muito mal na geração de emprego formal. Cobrador de transportes coletivos (exceto trem) registrou queda de 11,3% na ocupação, seguido por motorista de ônibus urbano.

“Metade das ocupações entre as 20 que mais fecharam postos de trabalho no ano passado é da área de educação”, destaca Bentes, lembrando que o tema do momento é o retorno às aulas presenciais. O ponto crucial hoje, segundo economista, é saber se haverá um retorno ao modelo de educação presencial que existia antes da pandemia. “Caso isso não ocorra, esses profissionais poderão ter sérias dificuldades  de se recolocar em outras ocupações porque têm conhecimentos muito específicos.”

No ano passado, o mercado formal de trabalho como um todo teve um saldo positivo de 142,7 mil vagas de emprego. Apesar de ser o menor resultado desde 2017, o desempenho surpreendeu, segundo economista, diante do estrago que a pandemia provocou na atividade.

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