sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

BOLSONARO DIZ QUE NÃO ADIANTA FICAR EM CASA CHORANDO PELOS MORTOS

 

‘Não adianta ficar em casa chorando’, diz Bolsonaro no dia com mais mortes pela covid desde julho

Depois de cloroquina, presidente agora defende ‘spray’ ainda em estudo para tratar o novo coronavírus e planeja conversar com premiê israelense sobre o produto

Emilly Behnke, Anne Warth e Daniel Galvão, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro disse que “não adianta ficar chorando em casa” no dia em que o Brasil registrou 1.452 mortes pelo novo coronavírus em 24 horas, maior número desde julho. Em transmissão ao vivo nas redes sociais, ele disse que “a vida continua” e falou em retomar o trabalho para não parar a economia.  Além disso, após passar meses defendendo a cloroquina como tratamento precoce contra a covid-19, defendeu um novo medicamento sem eficácia comprovada como possível solução. Segundo ele, foi marcada uma reunião com o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, para conversar sobre o remédio, ainda em estudo por cientistas israelenses.

O presidente Jair Bolsonaro com o filho Flávio durante entrevista coletiva em frente ao Ministério da Economia Foto: Washington Costa / ME

“A vida continua. Temos de enfrentar as adversidades. Não adianta ficar em casa chorando”, afirmou Bolsonaro. “Voltar a trabalhar porque sem a economia não tem Brasil.” Desde o início da pandemia, ele tem sido forte crítico do isolamento social, apareceu em aglomerações e em eventos sem máscaras – o que contraria as recomendações de infectologistas.

Também mencionou encontro para tratar do spray nasal, cuja eficácia contra o vírus ainda não foi confirmada por testes científicos. “Já está acertado o encontro virtual entre eu e Binyamin Natanyahu para falarmos sobre esse novo spray que está servindo, pelo menos experimentalmente ainda, para pessoas em estado grave”, disse Bolsonaro. Apesar da ressalva de que é “experimental”, o presidente defendeu a aplicação. “Está em estado grave? Toma, poxa. Vai esperar ser entubado?”

Na semana passada, Israel anunciou que um medicamento experimental contra o câncer pode ajudar na recuperação de pacientes com coronavírus. Acadêmicos israelenses afirmaram que 29 dos 30 pacientes com casos moderados a graves de covid-19 tratados com EXO-CD24 tiveram uma recuperação completa em cinco dias. O medicamento, que é inalado, foi originalmente desenvolvido para combater o câncer de ovário e ainda requer mais testes.

“É uma tremenda de uma notícia. Espero que seja realmente eficaz para o tratamento da covid”, comentou o presidente.

O estudo não comparou a droga a um placebo, o que significa que os cientistas não podem afirmar com certeza se o medicamento está por trás da rápida recuperação dos pacientes.  O tamanho da amostra dos testes também é muito baixo para tirar qualquer conclusão sobre a eficácia do medicamento e os dados não foram publicados em um jornal especializado.

Apesar disso, a ideia de Bolsonaro é trazer o remédio para o Brasil para submeter para análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O presidente destacou que está debatendo o assunto com o ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores.

Na live desta quinta-feira, Bolsonaro voltou a defender o tratamento off label, fora da bula, e o uso da hidroxicloroquina contra a covid-19 e comparou com as vacinas, dizendo ainda não haver “certificado” para os imunizantes, o que é mentira.

“Quando eu falei remédio lá atrás, levei pancada. Bateram em mim até não querer mais. E a vacina? Entrou na pilha da vacina. O cara que entra na pilha da vacina, só a vacina, é um idiota útil porque nós devemos ter várias opções”, disse. Quem está contaminado tem que ir para o tratamento precoce, procurar algum médico, em comum acordo, ele vai falar: ‘Não temos medicamento para tratar disso. Mas temos esse, que em muitos casos tá servindo’. Não tem a comprovação científica, assim como as vacinas não têm ainda um certificado definitivo.”

Estudos publicados em revistas científicas já comprovaram a eficácia de vacinas de diferentes fabricantes, incluindo as de Oxford/AstraZeneza e a Coronavac, usadas no Brasil após aval da Anvisa.

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