Na mira da Lava-Jato, partidos na Câmara travam pacote anticorrupção
A falta das indicações é apontada como o motivo pelo qual o presidente interino da Casa, Waldir Maranhão, ainda não liberou o início dos trabalhos
O líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), disse que não há orientação do Palácio do Planalto para dar celeridade à instalação do colegiado(foto: Antônio Cruz/Agência Brasil - 18/5/16)
Partidos que abrigam os principais
alvos da Operação Lava-Jato, PMDB, PT e PP ainda não indicaram os nomes de
parlamentares para compor a comissão especial responsável pela tramitação dos
projetos anticorrupção na Câmara. Duas semanas após a autorização para criar o
colegiado, PSC e PCdoB também não apresentaram os nomes. A falta das indicações
é apontada como o motivo pelo qual o presidente interino da Casa, Waldir
Maranhão (PP-MA), ainda não liberou o início dos trabalhos.
Os projetos das "10 Medidas
contra a Corrupção" foram apresentados ao Congresso em março, por
iniciativa do Ministério Público Federal e entidades que recolheram mais de 2
milhões de assinaturas.
Até agora, 14 partidos (PTN, SD, PRB, PHS, DEM, PTB, PR, PSD, PROS, PV, PSDB,
PSB, PDT e REDE) apresentaram 18 membros titulares. Faltam ainda outros 12
nomes. Segundo a Mesa Diretora da Casa e assessores de Maranhão, ele aguarda
todos os líderes indicarem seus representantes. Técnicos das comissões
especiais, contudo, dizem que o colegiado não precisaria estar completo para ser
instalado, dependeria apenas de "vontade política".
O líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), disse que não há orientação
do Palácio do Planalto para dar celeridade à instalação do colegiado. "Não
tive nenhuma orientação do governo, nem favorável nem contra. A prioridade é
pauta econômica, que é a pauta do momento, mas também não há nenhuma restrição
para essa comissão", afirmou.
Ex-ministro do governo Michel Temer e investigado na Lava-Jato, Romero Jucá
(PMDB-RR) também reforça que a prioridade do governo agora não são as medidas
anticorrupção."A pauta do governo agora é econômica." O líder do PMDB
na Câmara, Baleia Rossi (SP), afirmou que está aguardando a reunião dos líderes
com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, marcada para esta
terça-feira, 5, para indicar os nomes do partido. "Já tenho um monte de
deputados querendo participar da comissão. Não tenho uma data, mas não tenho
nenhum pedido para fazer algo diferente (da indicação). Vou ter que reunir a
bancada, mas não há nenhuma resistência, pelo contrário, tenho até overbooking
(excesso de reservas)", diz.
O encontro com Janot será fechado e está previsto para começar às 16h. Antes da
reunião, líderes da base aliada se reúnem no Palácio do Planalto para discutir
com o ministro da Secretaria do Governo, Geddel Vieira Lima, a pauta de votação
da semana. Entre os temas que devem ser discutidos está a manutenção ou não do
regime de urgência de algumas das propostas do pacote anticorrupção. Já o líder
do PT, disse não ter conhecimento de que já deveria ter indicado nomes. "A
independência da Polícia Federal foi uma ação do PT. Nós temos compromisso com
o combate à corrupção", declarou.
O primeiro-secretário da Casa, Beto Mansur (PRB-SP), dmitiu que houve e há
dificuldade para convencer as lideranças. "Claro que há. Resistência
sempre tem, mas a gente tem que dar sequência", disse. Autor do projeto, o
deputado Mendes Thame (PV-SP), disse que, apesar de haver resistência, a
expectativa é conseguir todos os nomes nesta semana. "Com o PMDB
indicando, os outros vão indicar também. Objetivamente há uma demora
incontestável. Nós apresentamos isso no último dia de abril, já faz dois meses
de demora, é muito tempo para formar uma comissão."
Medidas em discussão
Coordenador da força-tarefa da Operação Lava-Jato, o procurador Deltan
Dallagnol cobra que o apoio público às investigações sejam revertidos para as
medidas em discussão no Congresso. "Apoio irrestrito à Lava-Jato, então,
significa apoio irrestrito ao combate à corrupção. Mas esse apoio irrestrito
não existirá, na prática, enquanto não aprovarem as reformas que são
necessárias para que escândalos como esse de corrupção que nós descobrimos não
se repitam", afirma.
Para o procurador, a bola agora está com o Congresso. "O órgão responsável
pela avaliação, pelo encaminhamento dessas medidas contra a corrupção e pela
reforma política, é o Congresso. E nós já temos a movimentação de vários de
parlamentares que querem a aprovação de medidas contra a corrupção."
Segundo ele, em sua defesa pelo pacote, ele encontra "pessoas que querem
atuar por um país melhor", mas admite ainda haver "resistências que
vêm de pessoas que não querem um sistema que efetivamente combata a
corrupção".

Nenhum comentário:
Postar um comentário