Olavistas
e militares fazem pressão para Bolsonaro desistir de Feder para o MEC
Renata Cafardo e Jussara Soares
SÃO PAULO E BRASÍLIA - Alas ligadas a Olavo de Carvalho e
aos militares no governo pressionam o presidente Jair Bolsonaro a reverter o
convite feito ao atual secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, para o
Ministério da Educação (MEC). Antes mesmo de ser anunciado oficialmente, Feder
já virou alvo do grupo ideológicos e da base bolsonarista nas redes sociais.
Olavistas têm um histórico de sucesso em frituras iniciadas
nas redes sociais que terminaram em demissão, como a ex-secretária de Cultura,
Regina Duarte, e os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e Carlos
Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo). Eles chamam a atenção para a
ligação dele com o governador João Doria (PSDB) e dizem que a escolha foi feita
para agradar empresários e apaziguar a guerra ideológica.
© Divulgação/Secretaria da Educação do Paraná O secretário
de Educação do Paraná, Renato Feder.
Já os militares foram surpreendidos com o convite do
presidente e querem um nome ligado a eles, que acreditam ter mais força
política. Passaram a divulgar também supostas incoerências em seu currículo.
Feder é formado em Administração de Empresas pela Fundação
Getulio Vargas (FGV). Seu currículo na plataforma Lattes indica que ele tem um
"mestrado em andamento" desde 2002 em Economia pela Universidade de
São Paulo (USP). Mas o site da secretaria da educação do Paraná informa que ele
é "mestre em Economia". O Estadão procurou a USP e a institução
confirma que ele terminou, sim, o mestrado em 2005.
Inconsistências no currículo, como uma suspeita de fraude na
dissertação no mestrado na FGV e a conclusão de um doutorado desmentido pela
Universidade Nacional de Rosário (Argentina), estão entre os fatores que levaram
à queda do economista Carlos Alberto Decotelli, que nem chegou a tomar posse.
O que mais incomoda os opositores é a possível ligação com o
Centrão, já que Feder teve o apoio do governador do Paraná, Ratinho Jr (PSD),
partido do ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab.
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, também é do PSD e
entrou recentemente no governo. Ao anunciá-lo para o cargo em junho, Bolsonaro
disse que se tratava-se de uma escolha pessoal.
Para os militares, Feder é um empresário que quer fazer
carreira na política, mas não tem experiência. A secretaria do Paraná é uma das
várias no País que têm parceiria em projetos com a Fundação Lemann, o que
estaria também incomodando os militares. O nome também não agradou aos evangélicos,
cujos líderes no Congresso também têm pressionado o presidente. O mesmo ocorreu
com o educador Mozart Neves, que chegou a ser convidado para ser ministro no
início do governo Bolsonaro, mas depois o presidente voltou atrás por causa das
pressões.
Por outro lado, educadores e entidades elogiam a escolha de
Feder, por ele ter experiência na gestão da educação pública. O Semesp,
entidade que reúne universidades particulares de São Paulo, soltou nota dizendo
que a indicação "renova as expectativas de que sob sua gestão o MEC
consiga superar os difíceis desafios que vêm sendo enfrentados pela educação
brasileira" já que ele já teria "manifestado sua inclinação para
políticas públicas mais eficientes, consistentes e objetivas e estratégias
pedagógicas mais inovadoras".
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