Bolsonaro deve manter
assessores do 'gabinete do ódio', mesmo após ofensiva do Facebook
Tânia Monteiro
BRASÍLIA - Mesmo após ofensiva do Facebook e o avanço das investigações do Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito das fake
news, o presidente Jair Bolsonaro pretende manter em seus postos os principais
integrantes do “gabinete do ódio” – como ficou conhecido o grupo de assessores
do Palácio do Planalto, comandado pelo vereador do Rio Carlos Bolsonaro
(Republicanos-RJ), que estaria por trás de ataques a adversários
nas redes sociais.
Na quarta-feira passada, o Facebook derrubou uma rede de 73 contas e
perfis ligados a integrantes do gabinete do presidente, a seus filhos, ao PSL e
a aliados, por “comportamento inautêntico coordenado”. A rede social define
regras de conduta que devem ser seguidas pelos usuários, como não usar contas
falsas, encobrir a finalidade de uma página, falsificar identidade e aumentar
artificialmente a popularidade do conteúdo.
Bolsonaro se sentiu pessoalmente atingido pela ação, já que a plataforma
identificou ao menos cinco funcionários e ex-auxiliares que disseminavam
ataques a adversários políticos, além de conteúdo com desinformação. O
relatório do Facebook indicou Tercio Arnaud Thomaz, nome de confiança de Carlos
Bolsonaro, como um dos responsáveis por movimentar perfis falsos. Tercio é
assessor especial do presidente e integra o “gabinete do ódio” ao lado de José
Matheus Salles Gomes e Mateus Matos Diniz – a existência do “gabinete do ódio”
foi revelada pelo Estadão em setembro passado.
Na live semanal da última quinta-feira, um dia depois da ação do
Facebook, Bolsonaro saiu em defesa dos auxiliares e criticou a derrubada
de páginas e perfis de aliados, sem se referir diretamente à empresa. “A onda
agora é para dizer que as páginas da família Bolsonaro e de assessores, que
ganham dinheiro público para isso, promovem o ódio. Eu desafio a imprensa a
apontar um texto meu de ódio ou dessas pessoas que estão do meu lado”, disse.
Após aliados bolsonaristas serem alvo de mandados de busca e apreensão
no inquérito que apura atos antidemocráticos, assessores do presidente foram
orientados a moderar suas intervenções nas redes sociais. A avaliação no
Planalto é que o presidente vem perdendo seguidores nas redes com o crescimento
de seu discurso radical. Segundo interlocutores, o próprio Bolsonaro teria
admitido, em conversa com ministros e auxiliares diretos, que essa guerra
digital desgastou o governo. No Planalto, a avaliação é a de que o ambiente
precisa estar mais sereno.
Chapa
O PT deve solicitar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nesta semana, que as
informações coletadas pelo Facebook sejam usadas nas ações da Corte, que
investigam a campanha de Bolsonaro à Presidência em 2018, e pedem a cassação da
chapa.
Além das ações no TSE, o Planalto enxerga com preocupação a
possibilidade de a ofensiva do Facebook reforçar as provas colhidas no
inquérito que apura ameaças, ofensas e fake news disparadas contra integrantes
do Supremo. Na semana passada, o PSOL pediu ao relator do inquérito,
ministro Alexandre de Moraes, que as contas falsas derrubadas sejam
investigadas pela Corte.
Em maio, Moraes apontou indícios de
que um grupo de empresários atua de maneira velada, financiando a disseminação
de fake news e conteúdo de ódio contra integrantes do Supremo e outras
instituições. Na ocasião, o magistrado definiu o gabinete do ódio como
“associação criminosa”. / COLABOROU Rafael Moraes Moura

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